Faleceu em Bruxelas onde se encontrava como delegado da Antena 1 no pretérito dia 13 de janeiro de forma rápida, fulminante. Vi a notícia nesse mesmo dia na TV. Percebi que era ele. Na altura não me apeteceu escrever nada. Escrever o quê? O contato com o Luís só aconteceu no Nacional de S. João Da Madeira em, 1978 e um ou outro torneio, como tal, pouco o conhecia. A imagem que dele tenho era de uma pessoa cordial, afável, um pouco reservado com quem não conhecia e que amava o xadrez, como percebi em S. João da Madeira, principalmente quando a partir da 5º sessão o Torneio lhe começou a correr mal. Notava-se a sua amargura, todavia mostrou sempre uma elevação e categoria intelectual que outros jogadores de xadrez não conseguem manter perante a adversidade.
Na análise que comigo fez depois da partida e depois para o Pirilampo, nunca lhe vislumbrei qualquer sinal de arrogância, ou mesquinhez perante a minha pessoa, claramente jogador inferior e por isso facilmente derrotado na 3º sessão. No jogo de futebol-convívio com a organização do Torneio, mostrou outra faceta sua: a simpatia, o humor e a boa disposição, embora o seu jeito para a futebolada não fosse lá muito. Aqui e ali naqueles dias apercebi-me de um nível cultural já apreciavel, ausente de muitos outros jogadores de xadrez, embrenhados só nas 64 casas e no seu restrito mundo.
Em 2009, descobri com alegria que lia o meu Xadrez Memória por um comentário que fez ao post que escrevi sobre o Martinho Lopes, agradecendo as minhas memórias do Nacional e achando que não era tão "perneta" futeboleiro como o tinha descrito.
Faleceu o Luís Ochoa. Procurei na virtualidade Web do mundo xadrezistico nacional notícias sobre o infausto acontecimento e nada, quase nada. Apenas o site da Associação de Xadrez de Lisboa, se lhe referiu num ato de memória que só a dignifica. Claro que esse rico "lupanar" do site FPX, tão carregadinho de missanguinhas, de entrevistinhas, de conteúdo incontido de informação, nem se lhe dignou uma linha ( ou eu perdi-me em tanta profusão de confusão!).
Claro que o Mestre Cordovil, (eternamente agradecido) não se esqueceu e enviou-me alguns materiais, quer de S. João da Madeira ( um , comovedor, com as anotações dos resultados do Luís por ele próprio na tabela classificativa), quer da Revista Portuguesa de Xadrez. Claro que pouca gente sabe que o Luís Ochoa era um forte jogador e até foi o primeiro Campeão Nacional de Semi-Rápidas, chegou a ser o 1º tabuleiro do Ateneu, mas que o Jornalismo foi a sua paixão, o seu leitmotiv de vida profissional e por isso o xadrez passou a ser uma paixão escondida, tenho a certeza.
Claro que poucos sabem que o Luís escreveu um Livro e bom sobre o Match de Baguio 1978 entre Karpov e Korchnoi e que nesse livro ( a grandeza dum Homem vê-se em pormenores!) a dedicatória é para o " meu Grande Mestre e amigo MARINO FERREIRA" ! ( já agora: sim, para quando alguém escrever sobre o Marino e o seu trabalho imenso no xadrez português? Eu sei que ele ainda mexe e não é muito de homenagem, mas era bom lembrá-lo!).
Assim partiu o Luis Ochoa e o xadrez nacional ficou mais pobre. Aqui eu, para lembrar este companheiro de paixão pelo xadrez, porque numa modalidade onde a memória de linhas, variantes e subvariantes parece ser tão importante, para mim só a memoria dos afetos vai contando.
OCHOA,Luís
- SEQUEIRA,Fernando [B82]
Nacional Absoluto (1),
09.1978
[Arlindo
Vieira]
1.e4 c5
2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 a6 5.Cc3 Dc7 6.Bd3 Cc6 7.Be3 Cf6 8.0–0 Be7 9.Rh1 0–0
10.f4 d6 11.Df3 Bd7 12.a4 b6 13.De2 Db7 14.Cf3 Cb4 15.e5 Ce8 16.Ce4 Cxd3
17.Dxd3 d5 18.Ceg5 g6 19.Cd4 Cg7 20.Tf3 f6 21.Cxh7 [21.Cxh7
fxe5 22.Cxf8 e4 23.Dd2 exf3 24.Cxd7 fxg2+ 25.Dxg2 Dxd7] 21...Rxh7 22.Th3+
Rg8 23.Dxg6 Be8 24.Dh7+ Rf7 25.f5 [ Havia aqui mate em 4: 25.Tg3 Tg8 26.Dg6+
Rf8 27.Cxe6+ Cxe6 28.Dxg8] 25...Bc6 26.fxe6+ Re8 27.Dxg7 1–0
OCHOA,Luís
- ARLINDO,Vieira
Nacional Absoluto (3),
09.1978
[Arlindo
Vieira, Luis Ochoa]
1.e4 c5
2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 a6 5.c4 princípio básico: evitar repetir
variantes já jogadas no Torneio em causa-Ochoa-Fernando Sequeira-na primeira
sessão 5.Cc3 5...Cf6 6.Cc3 Bb4 uma variante bastante ativa, quiçã a melhor
na posição. 7.Bd3 Dc2 também defendia o peão e4, mas era inferior: aliás
tinha de ser inferior : "desenvolver as peças menores o mais rapidamente
possível" (Pachmann) princípio básico. 7...Cc6 8.Cc2!? [8.Cxc6 dxc6
9.e5 Cd7 10.De2±; 8.Cxc6 bxc6 9.e5 Cg8 10.Dg4± (10.0–0) ; 8.Cxc6 dxc6
9.e5 Da5!? 10.exf6 Bxc3+ 11.bxc3 Dxc3+ 12.Dd2 Dxa1 13.fxg7 Dxg7 e embora as
negras estejam muito debilitadas nas casas negras devem ganhar] 8...Bxc3+
9.bxc3 d5? as Negras comprometem o Roque. Melhor seria 9....Da5 ou 9....0–0
[9...Da5; 9...0–0] 10.exd5 antes de procurar impedir o Roque Negro com
Ba3, há que abrir a coluna de REi para a pressão em e7 ser maior 10...exd5
11.Ba3 Ce7? bem? mal? Nesta posição a vitória Branca é rotina. Escrito na
altura (1978). Hoje com 1...Be6 o jogo decorreria nornalmente. O lance da
partida é timorato, inexperiente, de alguém, eu, que sabia alguma teoria, mas
decorada, sem categoria para resolver problemas no tabuleiro que extravasassem
o lance não teórico ou menos jogado. [11...Be6 12.De2 Da5 13.0–0 Dxc3 14.Tab1
dxc4 15.Bf5 0–0–0 16.Bb2 Dd2 17.Bxe6+ fxe6 18.Dxe6+ Dd7 19.Dxc4 isto hoje é
teoria!] 12.De2 Ce4? [12...Bg4! 13.f3 Be6 14.Td1 Dc7 ewra perfeitamente
jogável com ligeira vantagem branca.] 13.0–0 0–0? [13...Be6] 14.cxd5
Cd6? [14...f5 15.Tae1 Tf7 16.Bxe4+-] 15.De5 Cef5 e as negras
abandonam sem esperar resposta 16.Bxf5 Cxf5 17.Bxf8 Dxf8 18.Tfe1 Bd7 19.Tad1
Tc8 era só prolongar o que já não valia pena prolongar. 1–0
Ótimo blog. Parabéns!
ResponderEliminarhttp://www.academia.edu/16826954/en_passant_-_Estórias_e_Histórias_de_xadrez
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Salomão Rovedo, Rio de Janeiro