Caro Mestre e Amigo Durão não é a
primeira vez que sobre si escrevo no meu Xadrez Memória, até um poema já lhe
dediquei, e como é óbvio sei que hoje comemora o seu aniversário. Aliás, se me
esquecesse, lá estará o site do Kevin Spraggett e os seus excelentes artigos
sobre si para mo lembrar.
Sabe o Mestre Durão que sou
parco, muito parco mesmo em encómios pessoais no xadrez português, e quando o
sou, é porque o visado me deixou profunda marca naquilo que ao xadrez diz
respeito, nomeadamente na paixão e amor ao xadrez que continua viva, talvez
ainda mais, do que quando aprendi este bruxedo encantador aos 14 anos.
Assim neste artigo duas ou três
coisas gráficas que nunca vi em lado nenhum, fosse no site do Kevin, fosse no
fabuloso vídeo do Babo, ou mesmo em qualquer site de xadrez.
É um artigo sobre o Mestre na
antiga FLAMA nº 213 de 4 de Abril de 1952. A fotografia de capa que Silva Nogueira, esse grande fotógrafo,
principalmente do teatro, hoje tão esquecido (mais um!) realizou do Mestre Durão é simplesmente
extraordinária, e arrisco-me a dizer talvez a melhor foto do Durão ( das muitas
em que foi retratado) que algum dia vi. A postura, a elegância que sempre o caraterizou,
o fabuloso Staunton e o lado técnico da foto de uma nitidez e jogo de luz quase
perfeito, encantaram-me de tal forma que não descansei enquanto não palmilhei
durante meses "lés e grés" tudo o que era sítio para arranjar a revista. Dentro
um belo artigo de R. D. ( Rolo Duarte) com um Durão de 11 anos enternecedores.
Depois, de pesquisa aqui e ali mais
umas fotos raras do Mestre. Em Nice 74 no jogo com Guernsey, e grandes fotos do
Zonal Amsterdão 63. Por último a foto de capa de uma Jaque, o Durão num recente
torneio, e até uma caricatura.
Pata terminar duas grandes e
pouco publicitadas partidas comentadas pelo Durão, em que o seu talento e visão
de xadrez são evidentes.
No fim, uma sua vitória das 4 que
obteve em jogos comigo. Partidas sempre "rasgadinhas", mas em que o Mestre
mostrou a diferença entre a mestria e o jogador "piço" de 1. categoria (seria?)
Arlindo Vieira.
Mestre Durão, um abraço enorme e
que a deusa Caissa lhe permita ficar entre nós por muitos e bons anos. Aqui no meu melhor tabuleiro e peças, vou repassar
dez das suas melhores partidas – estética e aprendizagem do xadrez de que me vou alimentando.
(para os meus parcos leitores e porque sou um mãos largas, as fotos em tamanho acessível para " right click and save") - basta clicar nelas.
DURÃO,Joaquim
- Kievelitz (RFA)
1980
[Durão,
Joaquim]
1.e4 c5
2.Cc3 e6 3.g3 d6 4.Bg2 g6?!
Esta
jogada é duvidosa porque permite a reação central imediata. Teria sido superior
4... Cç6 levando a partida para posições conhecidas e aguardando que as Brancas
definissem o avanço do peão d à 3|_ ou 4|_ casa. No primeiro caso, então sim ,
as Negras poder-se-iam decidir pelo fiachetto do Bispo de Rei sem problemas.
5.d4
cxd4 [5...b6?
6.dxc5 bxc5 7.e5 d5 8.Cxd5+-]
6.Dxd4
Df6 7.Dd3 Cc6 8.Cf3 Dd8
A Dama
estava mal colocada e devido à ameaça Bg5 opta por retroceder e ocupar-se da
vigilância do peão d6 atrasado, que é outro dos problemas do Jogo negro
9.0–0 a6
mais
uma jogada de um peão, para evitar Cb5 e ataque ao peão d6
10.Td1 Parece
insólito este lance, até porque a Torre faz falta nas colunas de Rei ou Bispo
de Rei. Aqui esta jogada justifica-se pois atyrasa o desenvolvimento do Bispo
de f8 a g7 casa natural deste Bispo.
10...Dc7
[10...b5
talvez fosse melhor]
11.Bf4
e5 12.Cd5 Db8 13.Be3 Be6
[13...b5
14.Cb6 Ta7 15.Cxc8]
14.Cb6
Ta7 15.Cg5 Cf6
[15...Bg4
16.Dc4 Ch6 17.f3+-]
16.Cxe6
[16.Cd5
Bxd5 17.exd5 Ce7 18.Bxa7 Dxa7 19.Dc3 Bg7 também se ganhava a qualidade desta
forma, mas as Brancas consideraram, talvez erradamente que seria de forma mais
longa e difícil do que a jogada do texto]
16...fxe6
17.Cc4
[17.Dc4
Rf7 18.Bh3 De8 não levaria a nada de concreto]
17...Ta8
18.Cxd6+ Bxd6 19.Dxd6 Dxd6 20.Txd6 Re7 21.Bc5 Rf7 22.Tad1 Tac8 23.Bb6 Re7
as
Negrass esperam uma cilada salvadora, mas as Brancas viram mais longe e
deixam-se cair nela 24.c3! No caso das Negras não precipitarem os
acontecimentos, o plano das Brancas seia simples : f3 seguido de Bf1 ou Bh3 e a
aproximação do Rei ao centro a partir de f2 com um final claramente superior
24...Cd4?
25.cxd4 Rxd6 26.dxe5+ Rc6 [26...Rxe5 27.f4#] 27.Td6+
foi este
xeque que escapou às negras. As Brancas ganham o cavalo. A fuga do Rei levaria
ao mate 27...Rb5 28.Bf1+ - Rb4 29. Td4+etc
1–0
Shipman,Walter (2400) - Durao,Joaquim (2220)
New York op New York, 1986
[DURÃO,
Joaquim]
1.d4 d5
2.Cf3 Cf6 3.c4 c6 4.Dc2
uma
variante utilizada pelo GM Miles com o objetivo de levar o jogo para uma
espécie de Catalã, evitando assim combater a defesa Eslava do Gambito de Dama.
4...e6 [4...g6
5.Bf4 Bf5 6.Db3 Db6 7.e3 Ca6 8.Cc3 Dxb3 9.axb3 Cb4 10.Ta4! Era outra possibilidade,
mas com melhor jogo das Brancas como na partida Palatnik-Popov(URSS, 1976)]
5.g3 Ce4
Com
o objetivo de tentar entrar numa espécie de variante Stonwall da defesa
Holandesa
6.Cfd2 Com a
ideia de expulsar o mais cedo possível o Cavalo, mas é duvidoso que seja melhor
do que o desenvolvimento natural do outro Cavalo a c3 ou d2
6...f5
7.Bg2 Bd6 8.Cxe4 fxe4 9.f3
[9.0–0
Parece ser melhor]
9...exf3
10.Bxf3
[10.exf3
e5!]
10...0–0
11.0–0 e5 12.dxe5 Bxe5 13.cxd5 Bh3 14.Td1 cxd5
[14...Db6+
15.Rh1 Df2 16.Db3 com as ameaças de pxp + e Be3]
15.Be3 [15.Bxd5+?
Dxd5 16.Txd5 Tf1#; 15.Txd5 Db6+ 16.Rh1 Df2 com ameaças variadas Df1 mate; Txf3
e Dg2 mate]
15...Cc6!
16.Cc3 [16.Txd5
Cb4 17.Txd8 Cxc2 com ganho decisivo de material]
16...d4
17.Bf2 Txf3!
Forte
sacrifício de qualidade que deixa muitas vulnerabilidades na casas brancas do
Roque do MI americano
18.exf3
Df6 19.Db3+
[19.Ce4 Dxf3 20.Db3+ Dxb3
21.axb3 Cb4 e a boa situação das peças negras aliada ao forte peão passado
compensariam a qualidade]
19...Be6
20.Ce4 Df7 21.Da3
[21.Dd3
Bc4 com ganho de tempo]
21...h6 tanto
para impedir um Cg5 como para abrir uma casa de escape ao Rei
22.Rg2
Tf8 23.h4 Bd5 24.Td2 b5!
As
Brancas conseguiram evitar Bxe4 ganhando peça, todavia, as negras conseguem
agora dar um novo impulso no seu ataque ao Roque com este lance que pretende
afastar a Dama branca da defesa de f3
25.Tc1 Bc4 26.b4 a5! 27.f4 Bxf4!! novo
sacrifício, agora especulando com a dupla ameaça depois de 28.gxf4 - Dxf4
28.Txc4
bxc4 29.gxf4 Dxf4 30.Te2
Devolvida
a qualidade resta esta defesa, mas os peões negros compensam amplamente a peça.
A luta está decidida
30...d3
31.Te3 d2! 32.Da4 Dg4+ 33.Cg3 d1D 34.Dxc6 encontrava-me em apuros
de tempo e por isso o meu adversário decide resistir. Agora o mais simples era
34...Dç2, mas...
34...Txf2+
35.Rxf2 Dd2+ 36.Ce2 Dxh4+
[36...Df4+
37.Tf3 Dde3+]
37.Tg3
Dhf4+ 38.Rg1 De1+ 39.Rh2 Dxe2+ 40.Rh3 Df5+ 0–1
Arlindo,Vieira
(FCP) - Joaquim,Durão (SLB)
Cam
Nac I Divisão Coletivo (3), 27.02.1987
1.d4
Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 d5 4.Cf3 c6 5.e3 Cbd7 6.Bd3 dxc4 7.Bxc4 b5 8.Bd3 a6 9.e4 c5
10.e5 cxd4 11.Cxb5 Cg4 12.Da4 Bb7 13.Cbxd4 Db6 14.0–0 Bc5 15.Be3 h5 16.b4 Dxb4
17.Dxb4 Bxb4 18.Tab1 Bxf3 19.gxf3 Cxe3 20.fxe3 Bd2 21.Rf2 Cxe5 22.Be4 Tc8
23.Re2 Bc3 24.Cc6 Cxc6 25.Bxc6+ Re7 26.Tb7+ Rf6 27.Be4 Thd8 28.Td1 Txd1 29.Rxd1
a5 30.Td7 Bb4 31.Td3 Tc7 32.h3 Rg5 33.a3 Be7 34.Td4 Bxa3 35.f4+ Rh4 36.f5 Rxh3
37.fxe6 fxe6 38.Re2 e5 39.Td1 Tc1 40.Td5 Tc5 41.Td1 Tc1 42.Td5 Bb4 43.Txe5 Rh4
44.Bg6 Tc5 45.Te4+ Rg5 46.Bf7 Bc3 47.Te8 a4 48.Ta8 Ta5 49.Th8 Rf6 50.Ba2 a3
51.Tf8+ Re7 52.Tf7+ Rd6 53.Rf3 Bf6 54.Tb7 h4 55.Tb1 h3 56.Th1 Th5 0–1