XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

29/05/09

78... Memórias de Um Campeonato Nacional

Para ler com paciência, para clicar nas fotos e se calhar guardar ( as fotos são da RPX, aproximadamente da época do acontecimento relatado e por mim trabalhadas).



Participante em vários Nacionais de Juniores, em preliminares de Nacionais Absolutos, e apenas num Campeonato Absoluto, posso afirmar que de toda a minha carreira xadrezística de 37 anos de xadrez, sem dúvida o Nacional Absoluto de 1978, marcou-me de uma forma indelével. Não foi por ser um absoluto, não foi pela minha classificação, 12º e último lugar, não foi pela excepcional qualidade das instalações, ou material de jogo (jogou-se na Escola Preparatória de S. João da Madeira em salas de aulas adaptadas e com uma das primeiras versões das malfadadas, anémicas e horrorosas peças plásticas da FPX), ou mesmo do Hotel de instalação ( que não existiu, mas simplesmente uma “pensão-residencial”, por sinal bem humilde e simpática).


Então, o que foi tão forte que passados 31 anos passados tenha gravado a buril no meu lado bom do coração esta competição?


É-me difícil explicar este turbilhão de lembranças, este calcorrear pela memória afectiva e boa das coisas xadrezistas, porque como diz a canção, uma das mais extraordinárias da música portuguesa, deveria ter a sensatez de nunca voltar ao lugar “onde já foste feliz/por muito que o coração diga/não faças o que ele diz”; “ por grande tentação/que te crie a saudade/não mates a recordação/que lembra a felicidade” . Mas não, claramente não devo possuir a sensatez adequada! Um nostálgico incorrigível, sem remissão, mesmo que seja em legítima defesa.


Assim, um simples Campeonato Nacional Absoluto, jogado a partir da 2ª semana de Setembro em S. João da Madeira. E a questão que não me abandona, desde que decidi escrever este artigo, é a seguinte: seria possível hoje ter numa competição deste calibre, o ambiente, o clima, o grau de quase fraternidade, de “irmandade xadrezista” que se gerou nesse ido ano de 1978? Estou a exagerar? Isso não é possível numa competição de xadrez e logo pelo título máximo, ainda por cima num jogo claramente de cariz individualista. E então a mitologia associada aos jogadores de xadrez, ás suas excentricidades, aos seus particularismos, aos seus “desert islands” quadriculados onde gostam de se espraiar? Seria possível quase durante 15 dias, jogadores de xadrez empenhados numa mesma competição, jogar xadrez, mas ao mesmo tempo conviverem extra tabuleiro aplacando as suas idiossincrasias, aprendendo e reaprendendo a arte do diálogo, do jogo a feijões, da boa mesa? Não seria, foi!


Antes de tudo, uma organização, para a qual ainda hoje não encontro palavras adequadas para a classificar. Do que encontrei de melhor ao longo da minha vida xadrezista. Amadores de um profissionalismo, de uma dedicação de uma simpatia, e sobretudo animados de um espírito de Caissa como poucos! O pessoal da Secção de Xadrez do Clube de Campismo de S. João da Madeira, foi simplesmente “xadrezial”, um mistura óbvia de xadrez e bestial. Com medo de me esquecer de alguém e socorrendo-me do “vade-mécum” (o boletim,) aí vai a minha sentida ternura e lembrança, já algo esfumada para o J. Pinho, A. Pinho, F. Pinho, o Lima, o Esteves, o Amorim, o F. Duarte, o J. António, a Marina Graça. Que gente fabulosa!


Chegaram até aqui? Leram bem? Então, não se surpreendam, quando no dia 24 de Setembro de 1978, TODOS os jogadores e o Zé Oliveira, o árbitro do Campeonato, assinaram e forçaram a organização a inserir no seu boletim:


“OS JOGADORES PARTICIPANTES NESTE EXCELENTE XXXIV CAMPEONATO NACIONAL INDIVIDUAL DE XADREZ, CONGRATULAM-SE PELA DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO DO MESMO, LEVADA A CABO PELOS LABORIOSOS ELEMENTOS DO CLUBE DE CAMPISMO DE S. J. MADEIRA, ESPERANDO QUE TAL INICIATIVA SEJA UM TRAMPOLIM PARA FUTURAS REALIZAÇÕES TÃO BRILHANTES COMO ESTAS”
Orgulho-me de ter sido juntamente com o Rui Silva Pereira e o Fernando Sequeira, um dos promotores desta iniciativa, bem como o “soprador” de serviço para algumas palavras do texto. Mas leram bem? Eles não queriam colocar no boletim, e só pela ameaça de deixar a sede do Clube de Campismo, numa barraca de acampamento é que os “artistas” publicaram e mesmo assim com: “ POR INSISTÊNCIA DOS JOGADORES O Pirilampo transcreve ( hei-de explicar esse trabalho inacreditável de azáfama, de amor ao xadrez que foi o Pirilampo...).


O Rui Silva Pereira na sua maravilhosa e humorada forma de escrever, (e por onde andará este excelente jogador,dos mais educados, corteses e simpáticos que encontrei no tabuleiro?) não teve problemas em afirmar na Revista Portuguesa de Xadrez, nº 19, II série de Outubro de 1978 , com o subtítulo de “ OS RAPAZES ( E RAPARIGAS) DO TRAPÉZIO VOADOR” :


“Quando falámos de revelação, poderá o leitor ter pensado em António Ferreira. Não nos referíamos no entanto a qualquer jogador, nem o experiente árbitro José Oliveira poderia constituir mais que uma confirmação. Revelação foi a excelente organização deste campeonato por parte do Clube de Campismo de S. João da Madeira. Contra aqueles que de início afirmaram que "estes rapazes esmeram-se, mas não têm experiência de organização", surgiu-nos a máquina impecável, de eficiência levada ao pormenor. O abaixo-assinado dos jogadores e árbitro, elogiando a organização, não traduz nem poderia traduzir completamente a qualidade organizativa do torneio. Foi inultrapassável no aspecto técnico, e ainda mais, se possível, no aspecto humano. Os perigos, os exercícios de equilíbrio necessários para contentar um grupo de pessoas tão susceptíveis e instáveis como o dos jogadores, assim como uma conhecida canção que andou na berra durante o Torneio, justificam o subtítulo. (Estamos certos que esta "troupe" é a melhor equipa de organização do país. A única coisa menos perfeita no torneio é que incompreensivelmente fomos obrigados a jogar xadrez certo que alguns conseguiram ultrapassar esse contratempo em algumas sessões, seria preferível que para a próxima essa ridícula formalidade não fosse burocraticamente exigida).Chamamos à atenção para o anúncio aqui publicado (de organização de torneios). Àqueles que possam achar os preços demasiado altos, garantimos que são uma autêntica pechincha. É como comprar uma genuína rede de trapezista por cem paus!”

O próprio árbitro, o José Oliveira (grande, grande arbitragem , num misto de luva de afago numa mão, e usado a preceito, “pau de marmeleiro” na outra) escreveu na mesma revista:


“Quem teve o privilégio de acompanhar este XXXI V Campeonato Nacional Individual cometeria grave injustiça se deixasse de referir que a organização ultrapassou em muito aquilo a que estamos habituados. A montagem da sala de jogo e dos serviços de informação e propaganda de vendas de material didáctico e de bar esteve impecável. As actividades paralelas (ensino de xadrez, encontro com o GM Tseshkovsky, simultâneas e torneio de rápidas, este organizado em colaboração com a A-X-Aveiro) tiveram o mérito de atrair muitos antigos e novos praticantes. Finalmente, o apoio que em todas as circunstâncias foi prestado aos jogadores e árbitro, e o excelente convívio que constitui nota dominante desta iniciativa são dignos dos maiores aplausos. Por tudo isto estão de parabéns os vinte e muitos elementos do Clube de Campismo de S. João da Madeira que tornaram possível o Campeonato. No fim da prova, os participantes remeteram à organização um voto de louvor pelo trabalho realizado. “

Assim uma organização esmerada que mereceu o louvor de todos, e que ainda se deu ao luxo de usar da ironia, do humor, de humilde e sadiamente brincar com as laudas que lhes demos, com a publicação de um anúncio hilariante (o mesmo a que se refere o Rui Silva Pereira) que abaixo publico.


Uma organização, que começou um Nacional com uma reunião com todos os jogadores, disponibilizando-se a todos os esclarecimentos e aceitando sugestões. Uma organização que não teve qualquer problema depois de consultar os jogadores e estes concordarem por unanimidade, em autorizar quando isso fosse necessário, o 2º adiamento na Vila da Feira onde estavam hospedados a maioria dos jogadores, conseguindo para isso a cedência de uma sala do Orfeão da Vila da Feira. Uma organização que nos brindou com jantaradas pantagruélicas, que à noite abria as portas da Sede do Clube de Campismo de S. J Madeira, onde entre carradas de rápidas, de jogos de cartas acirrados, ainda havia tempo para com um tabuleiro pela frente, ambos os jogadores que se tinham defrontado horas antes, analisarem em conjunto a sua partida, perante a caneta lampeira de alguém da organização, que anotava essas análises, para certamente noite dentro, e máquina de escrever ritmada, publicar as partidas do dia, algumas comentadas, nesse “órgão do comité dos amantes do xadrez” que era “ O PIRILAMPO” . Não, não era o tempo dos FTITZ, RYBKA depois das partidas, era o tempo do mexer nas pecinhas de plástico de colocar umas frases ou variantes sacadas à pressa, e a fita matraqueada da máquina de escrever a sulcar papel para memória futura. Até o António Fernandes ainda jovem mancebo se iniciou no Jornalismo de Xadrez, quando pouco dado a cartadas e bebidas era cooptado para detectar gralhas no boletim do Torneio!


Uma organização que conseguiu a par do Campeonato, organizar simultâneas com Jaime Gilbert, Vladimiro Miranda e Jorge Liberato, que conseguiu trazer embora por horas, um dos melhores jogadores mundiais à altura, Vitaly Tseshkovsky, a S. J. Da Madeira, e com quem tive o prazer de ser trucidado para aí umas 12 vezes no mínimo ( tinha perdido com o Ochoa, em 16 lances e, o GM, achou piada jogar com um “meco” jogador do Nacional –Ele sempre com 3 minutos contra os 5 meus; aproveitei, enquanto a fila dos consagrados não foi crescendo para serem trucidados à mesma!).


Um aparte sobre Tseshkovsky: Esteve para aí 6 horas em S. João da Madeira, joguei com ele rápidas, estive na mesma mesa do Restaurante onde jantou antes de ir para Lisboa e praticamente não lhe ouvi uma palavra! Sempre sério, sempre com aqueles olhos fixos em grossos e enormes aros de tartaruga, raramente se observava um esgar no seu rosto! Uma esfinge! Nas partidas rápidas jogadas comigo, um hábito curioso: jogava com uma rapidez inacreditável, mas com uma calma impressionante e colocando as peças mesmo no centro dos quadrados do tabuleiro. Outro ainda e para minha surpresa: depois de cada partida ganha, gostava de pegar nas minhas peças de derrotado e colocá-las rapidamente nas posições iniciais, quase como a sugerir-me: “mais uma, vamos a outra que esta não teve piada”. Durante as rápidas não olhava uma vez para o adversário, os seus olhos mexiam-se a uma velocidade incrível esquerda-direita, direita-esquerda, piscando-os sucessivamente: pareciam olhos de ave de rapina! Nas rápidas com o saudoso Sílvio Santos, este a tentar aplicar ao GM, o mesmo truque que gostava de fazer nas rápidas amistosas: derrubar umas pecitas, no tempo do adversário, para ganhar um tempito, enquanto este as compunha, ou mesmo as apanhava: puro deleite o que vi: Sempre que o Sílvio fazia “a graça” o Tseshkovsky com uma rapidez assombrosa, pegava no relógio, puxava-o para o seu lado, parava-o, e sem uma palavra esticava o dedo para o tabuleiro, indicando ao meu saudoso companheiro, que tinha que pôr a posição como ela estava antes do “desastre”! Vi isto no mínimo três vezes e era engraçadíssimo ver o Sílvio aos papéis, a colocar as peças no lugar onde estavam, e a mão sapuda do GM a corrigir um peão, ou uma peça! Só depois o relógio “roubado” voltava ao lado do tabuleiro. Como partilhava com ele o quarto na residencial, o que gozei o Sílvio, só podem imaginar. Sorte minha que o Sílvio era uma jóia de um rapaz e estava tão fascinado como eu com a força de jogo e capacidade de visão do Vitaly.




Uma organização que até pôs os jogadores a jogar com os pés, ou com outras peças desportivas que não as de xadrez. Eles bem “ameaçaram” no dia anterior ao descanso: “


Aproveitando o dia de descanso deste Campeonato Nacional de Xadrez, foi estabelecido m programa em que se exclui (será?) o Xadrez, mas por outro lado será aproveitado para fazer actividades dentro dum vasto leque. Assim, cerca das 10h50 da manha, jogadores, árbitro e organizadores do Torneio deslocar-se-ão para a praia do Furadouro, onde se praticará um pouco de ténis e voleibol nos respectivos recintos existentes no Parque de Campismo do C.C.S.J.M. e ainda natação em pleno oceano. Alem do referido, e que está a atrair mais as atenções gerais, é um desafio de futebol entre os elementos da organização e os titulares do xadrez. À hora de encerrarmos o PIRILAMPO tentamos saber as respectivas formações de equipe, mas estas mantêm-se nos “Segredos dos Deuses»., os TÉCNICOS lá saberão.., Enquadrado neste dia de descanso, teremos ainda, e como não poderia deixar do ser, um almoço com toda a gente, onde os visitantes poderão saborear a famosa caldeirada e o afamado VERDE da região!! (bom lance? comentário da responsabilidade dos redactores). Julgamos que ainda será possível assistir a una sessão de música já que alguns dos jogadores demonstraram ter queda...-"


Um grande encontro entre os Jogadores de Xadrez e a Organização, do qual só não gostei do resultado, porque perdemos 11-7. Bem remei contra a maré, empunhando a batuta de ter treinado quando miúdo no Boavista no velhinho Estádio do Lima com Joaquim Meirim e o sr. Garcia, usando também alguma acutilância e “bocas” quanto bastasse para empertigar os colegas e enervar os adversários, sem sucesso! Impossível! Imaginam o António Ferreira com aquele porte atlético à baliza? Não ? Eu também não! Já viram, tirando alguns jogadores do Benfica, rematar com o pé que tem mais à mão? Não? Eu vi o Ochoa, que não acertava um chuto! Podem pensar sequer no Rui Silva Pereira que jogava em bicos de pés, a saltar, ou a dar uma peitaça no adversário? Nem eu! Aquilo era um passador, defesa “moulinex”! Acreditam que o Luís Santos, que até dava um jeito no futebol, andava fascinado com o Borg, vai daí encafua-se no Ténis, e só quando já estávamos enterrados, é que resolveu apiedar-se dos colegas, sair da condição de suplente, por “estouro físico”, e marcar um golo à Maradona? E o José Oliveira, que em vez de jogar a bola, sentia mais apetência para a arbitragem, e como não lhe deram apito, amuou: Assim, só eu, o Sequeira e o Fernandes, a jogar futebol de luxo! Mas 3 contra 7 da organização, vá lá, 6, porque o J. Pinho, era mais do estilo “ponta quieta”, era impossível fazer melhor! Ah! No fim do encontro, quando o banho apetecia, alguém reparou que...não existia sabonete! Nem se sentiu o cheiro, porque os odores foram todos para uma caldeirada divinal, regada a Verde que colocou o Martinho a “fadunchar”, enquanto outros mostravam que entre o piar , o grasnar, e o cacarejar, não existe tanta diferença assim. Felizmente que uma volta pela Ria, veio serenar gargantas e aligeirar vapores.

Assim um Nacional com um convívio franco, um espírito de grupo, como raramente encontrei em competições de xadrez. Um Nacional que até poderia ter começado “torcido”, quando salvo erro, o Durão, o F. Silva, o Luís Santos e o Ochoa chegaram atrasados à Vila da Feira e a estalagem onde estávamos hospedados, não tinha quartos disponíveis. Foi um chinfrim incrível, com o Fernando Silva a exibir pergaminhos de ser o Campeão Nacional e ter direito a suite real, o Durão como decano, a vociferar que “a velhice era um posto”, e eu feito “camelo” solícito a pegar na mala do Fernando Silva, que parecia trazer grossas vigas de ferro da Siderurgia Nacional, mas que depois vim a descobrir serem livros de xadrez, nomeadamente os Informadores! Mais de 20m naquela balbúrdia e, o cansaço e um sorteio, vieram aplacar ânimos, apesar de os rostos se manterem fechados. Era o que havia: ou arranjem-se, ou por esta noite tem de ser assim! E foi! O Durão e o Luís Santos ficaram num quarto que reservado, dado o adiantado da hora, não deveria ser reclamado, o Ochoa, ficou com uma cama articulada numas espécie de arrecadação de arrumos e o Fernando Silva, dormiu no quarto de um dos criados (e não na cama com o criado, como escreveu no gozo o Zé Oliveira na revista da FPX, até porque se fosse a criada, eu cederia de bom grado o meu quarto ao Fernando Silva, juro!).




Não , caros leitores, nada disto é invenção. Aconteceu mesmo! E no dia seguinte. tudo se resolveu a contento de todos .



Um Nacional, onde um grupo de “jovens guerrilheiros” gostava de atacar a janela do quarto do Durão com bolas de papel higiénico ensopadas, estragando-lhes os cálculos complicadíssimos do Totobola, no exacto momento em que ele sonhava, agora é que vou ser rico! Um Nacional em que os meus camaradas guerrilheiros, se deixaram comprar ou seduzir pelo Mestre Durão e se preparavam para num complot quase generalizado, a coberto do sono, me cortar um apêndice que era a minha “trademark” desde a adolescência: ( Ah! Ah! malandrice...) o meu querido, amado e bem tratado bigode! Não imaginavam eles porém a minha rede de informadores naquela estalagem, e a minha argúcia de menino da Sé do Porto! Consegui esconder uma pequena tesoura arma do crime, pertencente ao Durão e ameaçar de insónia perpétua quem ousasse tocar na minha sagrada relíquia! Aliás de bigodes-relíquias, só o meu e o do Fernando Silva. Não queiram saber o que foi a nossa partida, depois de ambos cofiarmos as respectivas bigodaças, que era vício arreigado em quem possuía o apêndice: eram tantos pelos de bigode como peças de xadrez nos quadrados do tabuleiro!

Um Nacional, onde percebi a enorme cultura xadrezística do F. Silva, onde entendi a diferença abismal entre o pessoal de Lisboa, e o do Porto, no que dizia respeito à forma de levar o xadrez de competição a sério, no estudo do Xadrez, na preparação teórica! Contra tudo o que se diz, tive a felicidade de ver a organização de trabalho do Joaquim Durão, como ele tinha os artigos teóricos da Europa Échecs ou Jaque, todos policopiados, ordenados em pastas por aberturas, ou como escrevia anotações, ou como marcava livros e Informadores! Tive a grata surpresa de ver o Renato Pereira, não ter qualquer problema em mostrar-me revistas teóricas alemãs, salvo erro da Schach-Echo, ou durante mais de uma hora analisar comigo a Benoni. Foi um regalo puder analisar a partida com o Fernando Silva, e ver a sua satisfação por um jovem jogador se interessar por uma sua partida recente que ele tinha vencido brilhantemente em Cuba, contra Carrion. Pude constar mais uma vez, alguns dos belíssimos livros que tinha o Fernando Sequeira, ou como o António Ferreira já tratava a Enciclopédia por tu, de tal forma que Apanhou o F. Silva numa variante lateral da Siciliana, na partida que disputaram. Foi agradável constatar a humildade do Rui Silva Pereira, ao reconhecer no nosso empate que estava bem pior posicionalmente, ou ver como o Sílvio Santos aceitou, primeiro renitente, depois, conformado a punição de dez minutos no relógio aplicada pelo José Oliveira, simplesmente porque em plena partida e aprontando-se os apuros de tempo, resolveu encetar “alegre cavaqueira” com o António Fernandes. Ri-me até às lágrimas, quando um dia o Renato Pereira, resolveu imitar o Durão, o Luís Santos (o Renato a imitar o Luís Santos a apartar o cabelo, quase que me fez urinar!), o Jaime Gilbert ( igualzinho!), ou o Mestre António Rocha! Talento extraordinário de alguém com apurado sentido de observação! Quando o Renato pediu para alguém imitar a sua pessoa,, ninguém ousou , claro! E eu, ali, com livros do Pachman , do Pedro Cherta, e do Euwe, e com algumas fotocópias da Europe-Échecs de artigos do Zinser e do Gligoric!? Como sobreviver competitivamente aquelas “trutas” ? Mas também o que interessava isso?


Soube aproveitar esse Nacional e “sacar” dele, o que dele não pensava extrair: humanidade, gosto pelo convívio do xadrez, contacto com pessoas que respeitava imenso como jogadores, sem os conhecer pessoalmente, casos do Durão, do Fernando Silva , do Renato, e que ainda hoje respeito! Conheci gente de uma simpatia maravilhosa como foi o caso do Rui Silva Pereira, ou o Martinho Lopes, e pessoas que ou desinteressadamente amavam o Xadrez, ou loucamente o amavam para organizarem da forma que organizaram esse Nacional.


Devo imenso a toda esta gente, o que hoje vou pulsando xadrez, o que hoje amo xadrez, porque estes quase quinze dias, foi um dos períodos que mais contribuíram para a percepção de um xadrez que até aí me era desconhecido. Talvez neste Nacional Absoluto de 1978 tenha percebido o lema “Gens una sumus” da FIDE, aplicado a um campo mais restrito.



Bem Hajam! Que todos estejam de perfeita saúde o meu sincero desejo! A minha sentida ternura da memória neste artigo.


(O meu saudoso e querido amigo Sílvio Santos, já por mim foi objecto de “memorial” na antiga Luso Xadrez).

26/05/09

Martinho Lopes


Não, não era a altura que nele impressionava. Era qualquer coisa indefinível que passava pelo seu ar “maciço”, pesado, pelo seu andar pausado mas decidido, e sobretudo pela abundante e negra barba que quase lhe escondia a cara. Uma barba, negra, cerrada, florestal que lhe dava um aspecto épico, prometeico, assustador e, se a isto juntarmos uns centímetros acima, cobrindo uns olhos vivos, inquisidores, umas grossas lentes enquadradas por largas armações, teremos um retrato ténue do que na Escola Preparatória de S. João da Madeira vislumbrei no dia 19 de Setembro.

Esta a personagem que se me arribou frente a um tabuleiro de xadrez na 5ª sessão de um distante Campeonato Nacional de Xadrez no ano de 1978.

31 Anos passados, recordo nitidamente o MARTINHO LOPES, retenho-o numa espécie de “vi claramente visto” fotográfico para sempre. O Homem impunha respeito aos meus 21 anos da altura, embora o seu ser mais velho, mais parecia do que era efectivamente.

Esperei calmamente que chegasse e realizasse o seu lance inicial e confesso que quando se aproximou do tabuleiro, pareceu-me ver dois, não porque o Martinho Lopes tivesse o dom da ubiquidade, mas porque os 39,5 de febre com que amanheci, confirmado no boletim do torneio, faziam-me ver um pouco a dobrar, e como tal, não favoreceram nem a visão nem o entendimento do Xadrez, que não era famoso, diga-se.


Não, não foi por isso que perdi com esta fantástica personagem. Perdi, porque tinha de perder, perdi simplesmente porque era pior jogador do que o Martinho, perdi, aliás, porque como indica o meu último lugar neste Nacional, era sem dúvida o pior jogador, aquele que estava prestes a descobrir o óbvio: não tinha capacidade, nem vontade, de ir mais além no Xadrez de competição. Daria pouco mais do que aquilo que ali tinha mostrado. Sabia muita teoria decorada, muito lance pendurado numa espécie de tabuada pré-definida, e entendia muito pouco de xadrez. Acho que foi a partir desse momento que comecei a entender o xadrez, a amar um outro tipo de xadrez, a perceber a beleza escondida por detrás de um xadrez competitivo de tabuleiro.

Claramente o Martinho Lopes era melhor jogador do que eu, não na proporção de me ganhar no número de lances que ganhou, mas simplesmente porque era competitivo até dizer basta. O seu lugar nesse Campeonato Nacional Absoluto de 1978, assim o diz: 6º lugar, apenas com uma derrota! Um jogador que ao longo de 11 sessões de um duro campeonato, e com jogadores do topo, só inclina o rei uma vez, não podia ser um jogador qualquer...e não era! Um jogador de xadrez na verdadeira acepção da palavra, como constatei ao longo do torneio. “Esmagou” os dois fracotes, perdeu com aquele que era à data o Campeão Nacional, Fernando Silva, e empatou com todos ou outros jogadores, entre eles com aquele que seria neste torneio consagrado o novo campeão nacional, Luís Santos. Diga-se desde já que em algumas partidas, Martinho Lopes teve clara vantagem, deixando aqui ou ali, fugir a vitória.

Agressivo, ou de contra-ataque perigoso numas partidas, noutras, mostrava uma solidez de jogo que não permitia aos consagrados tirar qualquer partido da sua pretensa superioridade. Gostava de afirmar que não ligava nada à teoria, mas se estudarmos as suas partidas deste Nacional de S. João da Madeira, verificamos que era uma “blague”, porque o Martinho sabia teoria e não era pouca, veja-se a título de exemplo a sua partida com Ochoa e o ataque Fegatello ou a sua “Ruy Lopez-Chigorin-Keres “ de brancas contra o António Fernandes.

O Martinho Lopes e a sua negra barba à “captain Edward Thatch” impressionava, mas o que mais me impressionou quando se aproximou do tabuleiro para a “abordagem” à nossa partida, foi a sua voz de baixo profunda, rouca, cavernosa , no cumprimento da praxe e aperto de mão inicial “ Martinho Lopes – Santarém” !
O Martinho que fui observando ao longo das sessões e fora deles. Um Martinho pretensamente rude, distante invólucro de um outro Martinho sensível, brincalhão, de frase afiada e sentido de humor apreciável. Bom garfo, óptimo copo, o Martinho adorava a “charla” brincalhona, o dichote, o humor corrosivo e não raro a ironia quando falava de xadrez. Claro que não contamos com ele nas fileiras da equipa de futebol dos jogadores que defrontou a organização no dia livre, pois o nosso querido Martinho Lopes era daqueles que não tinha a cabeça onde nós nesse dia teríamos os pés, preferindo outros jogos, e depois... a finta à caldeirada sumptuosa oferecida pela maravilhosa organização.


Bem verdade o que o jogador Rui Silva Pereira e o árbitro José Oliveira, escreveram do Martinho na Revista Portuguesa de Xadrez, II Série nº 19 de Outubro de 1978 (e de que forma maravilhosa se escrevia sobre e de xadrez, nesta altura!).

screveu Silva Pereira: “ Martinho Lopes fecha a 1ª metade da tabela. Considerações sobre o estilo deste autêntico pirata do tabuleiro poderão ser encontradas no artigo de José Oliveira. Tal jogador ( que usa uma espessa barba negra) é sempre o terror do torneio, chegando a povoar os pesadelos dos seus potenciais adversários “.

O “Zé Oliveira” do apito Sanjoanino escreveu “ O Martinho Lopes foi das figuras mais típicas ( “castiças” diz-se em S. João) do Campeonato. Para além dos dotes fadísticos, oratórios, e no campo da futurologia, impressionou o seu estilo de jogo descontraído: “ Aquilo está ganho, pá. Sacrifico duas peças, entro com a torre na sétima e dou mate”. “Hoje - dizia ele entre duas fumaças - vou derreter o Luís Santos. Senão o Campeonato está resolvido”. E gerou-se uma certa expectativa à volta da partida. Ninguém contava era que o Luís aparecesse com um casaco novo, ao que parece revestido de amianto, assim conseguindo escapar in extremis ao maçarico do Martinho”.

“ A minha partida com o Sílvio estava ganha - dizia o Martinho Lopes, enquanto pousava a beata no cinzeiro – o pior é que levava duzentos anos a acabar” . E puxando de outro cigarro: “ Amanhã jogo com o Renato. Da última vez, eh!...ia com a dama, lá no fundo e ameaçava cinco peças ao mesmo tempo. Desfiz o tipo, mas estava à rasca porque tinha de ir apanhar o comboio, e propus empate”
.

Era assim o Martinho Lopes, explosivo, de mar largo, de onda bravia, mas também de um enorme coração, de uma franqueza, de uma simpatia que cativava. Um senhor do Xadrez, um Senhor que nunca mais tive o privilégio de ver, porque ao que parece, depois deste Campeonato Nacional o Martinho Lopes resolveu tirar umas longas férias de dezenas de anos do Xadrez, quando muito poderia ter dado ao xadrez. Talvez aquilo que em tempos escrevi: quem ama muito a coisa amada, por vezes necessita dela desprender-se para melhor a amar, ou no mínimo amar a memória da beleza dela.


Por isso, uma enorme emoção, quando nesse excelente Blogue que é a “CASA DO XADREZ” num poste de 3 de Fevereiro deste ano, vi fotos do Martinho Lopes, a jogar xadrez no café "Solbar" em Santarém. Como confessou o fotógrafo, difícil de fotografar o Manuel Martinho Lopes, talvez por isso, as fotos não estejam famosas, mas mesmo de cabelos brancos e barbeado, reconheci o Martinho, na forma como se concentra, como se move decidido na realização de um lance, naquele olhar maroto de eterno apaixonado de Caissa!

Fez-me bem recordá-lo, fez-me bem mergulhar ma memória afectiva mais profunda relacionada com o xadrez, com um Xadrez, com um Campeonato de Xadrez, que suspeito ter sido “para hoje nunca mais”, pelo convívio, pela relação entre os jogadores, pela extraordinária organização, pelo puro prazer que era jogar xadrez e estar no xadrez apesar da competição.

Hei-de escrever sobre este Nacional.

( que me desculpe o Pessoal da Casa de Xadrez, mas...vou roubar do seu blogue uma ou duas fotos do Martinho...espero não ser processado). Bem, dedico este artigo ao Martinho Lopes e à Casa do Xadrez que é mesmo uma “habitação familiar” de xadrez!



Lopes,Martinho - Vieira,Arlindo [B33]
Campeonato Nacional S. João da Madeira (5) 09.1978 [Arlindo Vieira] B33: Siciliana:

1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 Db6 6.Cxc6 bxc6 7.Bd3 e5 8.0–0 Be7 9.Rh1 0–0 10.Tb1!?

Durante a partida esperei pelo lance lógico 10.f4, mas o lance do Martinho Lopes, parecendo uma "jogada de cafè", acaba por ter uma ideia clara, libertar o Bispo de c1 e tentar não permitir às negras a libertação do seu jogo com d5

10...d5?!
Se conhecesse o Martinho Lopes, teria jogado o mais calmo e expectante [10...d6!?]

11.Bg5 Be6

Não é que este lance seja mau, todavia, deslumbrado com a minha posição e com a frase feita lida não sei algures " Na Siciliana se as negras jogam d5, sem problemas, ficam com excelente jogo", continuei a desenvolver as peças calmamente , procurando que as Torres entrassem em jogo , pressionando o centro. Claro que vi o avanço de d4, mas a possibilidade de ficar com um peão isolado em c6 não me agradou. Um mau juízo posicional, pois esta debilidade seria mais aparente que real, devido à actividade das minhas peças.
[ por exemplo: 11...d4 12.Ca4 Dc7 13.Bxf6 Bxf6 14.c3 dxc3 15.Cxc3 Be7 16.Dc2 Dd6 17.Tbd1 Dg6 com igualdade]

12.f4!

Bom e típico lance "à Martinho Lopes". Ele não fica a esperar para ver e inicia um ataque no flanco de Rei.

12...dxe4?

Mau lance e típico do fraco jogador que era. Abandonar a tensão central para quê e porquê? Depois abrir vias e avenidas de ataque ao Rei negro com que objectivos? [12...Dd4!?; 12...Tae8!?]

13.Bxf6

[ ainda era melhor 13.fxe5! Cg4 14.Cxe4 Tfe8±]

13...Bxf6

se tivesse estudado como deveria ter estudado na altura partidas do Fischer e o seu célebre " Castling into it", então não teria sido difícil descobrir que defensivamente a abertura do Roque era o mais aconselhado! [13...gxf6 14.Bxe4 f5 15.Dh5 fxe4 16.f5 Bxa2 17.Cxa2 Rh8 18.f6 Bd6 19.Dg4 Tg8 20.Dxe4 Tad8 21.b4 Tg6 ]

14.Cxe4 Dd8??

Cegueira e completo desnorte na análise da posição. Digo análise e não houve nenhuma, simplesmente um lance mecânico que surgiu na ideia e que na altura me pareceu que defendia tudo. É exactamente neste tipo de posições que um jogador tem de se aplicar na análise profunda da posição, isto é, na altura em que tem de reconhecer que da igualdade passou para uma posição claramente inferior, e como tal arranjar um plano defensivo adequado, ou pelo menos, uma série de jogadas que ponham problemas ao ataque do adversário.14...Bd8 impunha-se para uma defesa difícil. [14...Bd8!? 15.f5 (15...Bxa2 16.f6 De3 17.fxg7 Rxg7 18.Dg4+ Rh8 19.Tbe1 Dd4 20.Dh3 f5 21.b3 Ba5 22.Cg5)
(15...Bd5 16.f6 Dd4 17.fxg7 Rxg7 18.c3 De3 19.Dg4+ Rh8 20.Tf3 Dh6 21.Td1 Bb6)
]

15.fxe5+- Bxe5??

Sentindo a posição perdida, joguei ao correr da mão, nem sequer pensando na retirada do Bispo para e7, ou para g5, que não salvando a partida, ofereceriam mais resistência
1) 15...Be7 16.Cf6+ Bxf6 17.exf6 g6 18.Dd2 Rh8 19.Tbd1 Tg8 20.Dc3 Db6
2) 15...Bg5 16.Dh5 h6 17.Tbd1 De7 18.Cxg5 Dxg5 19.Dxg5 hxg5 20.Be4 Tab8 21.b3 Tb5 22.c4 Txe5 23.Bxc6

16.Dh5
( por exemplo: 16...Te8 17.Cg5 Bf6 18.Cxe6 Txe6 19.Dxh7+ Rf8 20.Bc4+-)

1–0





Lopes,Martinho - Ferreira,António [B40]
Camp Nac. S.J. Madeira (1), 09.1978

1.e4 c5 2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Bd3 Cc6 6.Cxc6 bxc6 7.0–0 d5 8.Cc3 Be7 9.f4 0–0 10.e5 Cd7 11.Bd2 f5 12.Rh1 Cc5 13.Tf3 d4 14.Ce2 Ce4 15.Cg3 Cxd2 16.Dxd2 c5 17.Bc4 Dd7 18.Dd3 Bb7 19.Db3 Bd5 20.Bxd5 exd5 21.Dd3 De6 22.Td1 g6 23.b3 Bd8 24.Ce2 Bb6 25.b4 c4 26.Dd2 a5 27.b5 a4 28.Cxd4 Bxd4 29.Dxd4 Tfd8 30.Tf2 Tab8 31.Dc5 Db6 32.Dxb6 Txb6 33.h3 Txb5 34.c3 Rf7 35.Tfd2 Re6 36.Td4 Td7 37.T4d2 a3 38.Rg1 Tb2 39.Txb2 axb2 40.Tb1 Tb7 41.Rf2 d4 42.Re2 dxc3 43.Rd1 Rd5 44.Rc2 Re4 45.Rxc3 Rxf4 46.Txb2 Txb2 47.Rxb2 Rxe5 48.Rc3 Rd5 49.a4 Rc5 50.a5 Rb5 51.a6 Rxa6 52.Rxc4 Rb6 53.Rd5 Rb5 ½–½



Sequeira,Fernando - Lopes,Martinho [A05]
Cam Nac S. J. Madeira,(2) 09.1978
1.Cf3 Cf6 2.g3 e6 3.Bg2 Be7 4.d3 0–0 5.0–0 d6 6.e4 e5 7.Cbd2 Cc6 8.c3 Tb8 9.a4 Bd7 10.Dc2 Dc8 11.Te1 Cg4 12.h3 Ch6 13.Rh2 f6 14.Cc4 Cf7 15.De2 De8 16.Bd2 Ccd8 17.a5 Ch8 18.Ce3 c6 19.b4 Cdf7 20.Tf1 Ch6 21.Cg1 Cg6 22.Cc4 f5 23.Bxh6 gxh6 24.Cf3 f4 25.g4 Df7 26.d4 Be6 27.Cb2 Df6 28.Tad1 Tbd8 29.c4 Rh8 30.Tg1 Ch4 31.Dd2 Cxf3+ 32.Bxf3 Dh4 33.Tg2 Tg8 34.d5 Bd7 35.De2 Tg5 36.Th1 cxd5 37.exd5 b5 38.Dc2 Dxh3+ 39.Rg1 0–1




Lopes,Martinho - Silva,Fernando [B34]
Cam Nac S. J. Madeira,(3) 09.1978
1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 g6 5.Cc3 Bg7 6.Be3 Cf6 7.Cxc6 bxc6 8.e5 Cd5 9.Cxd5 cxd5 10.Dxd5 Tb8 11.Bc4 0–0 12.f4 d6 13.0–0–0 Dc7 14.Bb3 dxe5 15.fxe5 Bf5 16.Dc5 Dxc5 17.Bxc5 Tfc8 18.g4 Bxg4 19.Bxe7 Bxd1 20.Txd1 Bxe5 21.h4 Tb7 22.Bg5 Rg7 23.h5 h6 24.Be3 Bf6 25.Rb1 Te8 26.Bc5 Te5 27.Bd6 Txh5 28.a4 Tf5 29.Ra2 h5 30.Te1 Tf2 31.Ba3 h4 32.Bd5 Td7 33.c4 h3 34.Te3 h2 35.Th3 Be5 36.Bc6 Tdd2 37.a5 Bxb2 38.Bb4 Bc3+ 39.Rb3 Bxb4 40.Rxb4 Tb2+ 41.Rc5 Tf5+ 42.Rd6 Th5 43.Txh5 gxh5 44.c5 Tb1 45.a6 h1D 46.Bxh1 Txh1 47.c6 h4 0–1




Ochoa,Luís - Lopes,Martinho [C57]
Cam Nac S. J. Madeira,(4) 09.1978
1.e4 Cc6 2.Cf3 e5 3.Bc4 Cf6 4.Cg5 d5 5.exd5 b5 6.Bxb5 Dxd5 7.Bxc6+ Dxc6 8.Df3 Dxf3 9.Cxf3 e4 10.Cd4 Bc5 11.Cb3 Bb6 12.d4 exd3 13.cxd3 Bf5 14.d4 0–0 15.Be3 Bd3 16.Cc3 c6 17.0–0–0 Bg6 18.h4 Tfe8 19.Cc5 Bc7 20.d5 cxd5 21.Cxd5 Cxd5 22.Txd5 h5 23.Thd1 Tac8 24.Rd2 f5 25.b4 f4 26.Bd4 a5 27.a3 axb4 28.axb4 Ta8 29.Ta1 Tad8 30.Txd8 Bxd8 31.Ta7 Bf7 32.Cb7 Bxh4 33.Cd6 Td8 34.Be5 Bxf2 35.Txf7 Txd6+ 36.Bxd6 Be3+ 37.Rd3 Rxf7 38.Re4 g5 39.Rf5 Re8 40.Be5 Bd2 41.b5 Rd7 42.Bf6 g4 ½–½




Lopes,Martinho - Fernandes,António [C96]
Cam Nac S. J. Madeira (6), 09.1978
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0–0 Be7 6.Te1 b5 7.Bb3 d6 8.c3 0–0 9.h3 Ca5 10.Bc2 c5 11.d4 Cd7 12.Cbd2 cxd4 13.cxd4 Cc6 14.d5 Cb4 15.Bb1 a5 16.a3 Ca6 17.Cf1 Cdc5 18.Ce3 g6 19.b4 axb4 20.axb4 Ca4 21.Bc2 Cxb4 22.Bxa4 Txa4 23.Txa4 bxa4 24.Ba3 Ca6 25.Dxa4 Cc7 26.Da5 f5 27.exf5 Bxf5 28.Tc1 Ce8 29.Dxd8 Bxd8 30.Cxf5 gxf5 31.Tc6 Bc7 32.Cg5 h6 33.Ce6 Tf7 34.Cxc7 Txc7 35.Txc7 Cxc7 36.Bxd6 Cxd5 37.Bxe5 Rf7 38.Rf1 Re6 39.f4 h5 40.Rf2 Ce7 41.Rf3 Cg6 42.Bc7 Ch4+ 43.Rg3 Cg6 44.Rf2 Rd5 45.Re3 Ch4 46.g3 Cg6 47.Rd3 Rc5 48.Bd8 Rd5 49.Bf6 Re6 50.Bd4 Rd5 51.Bf6 Re6 52.Bg5 Rd5 53.Bh6 Ce7 54.Bg5 Cg6 55.Bd8 Cf8 56.Ba5 Cg6 57.Be1 Rc5 58.Bd2 ½–½




Santos,Luís - Lopes,Martinho [E10]
Cam Nac S. J. Madeira (7), 09.1978
1.Cf3 Cf6 2.c4 Cc6 3.d4 e6 4.g3 Bb4+ 5.Cbd2 Ce4 6.Bg2 Cxd2 7.Bxd2 Bxd2+ 8.Dxd2 0–0 9.0–0 a5 10.d5 Ce7 11.d6 cxd6 12.Dxd6 Ta6 13.Dd2 Cc6 14.Cd4 Cxd4 15.Dxd4 De7 16.Tfd1 e5 17.Dc3 d6 18.Td5 Be6 19.Tb5 b6 20.Td1 Tc8 21.b3 f6 22.Bd5 Tc5 23.Bxe6+ Dxe6 24.Dd3 a4 25.Dxd6 Dxd6 26.Txd6 axb3 27.axb3 Txb5 28.cxb5 Ta3 29.Txb6 Txb3 30.Tb7 h5 31.h4 Rh7 32.b6 Rg6 33.f3 Rf5 34.Rf2 e4 35.fxe4+ Rxe4 36.Te7+ Rf5 37.b7 g5 38.hxg5 fxg5 39.e4+ Rf6 40.Th7 h4 41.gxh4 gxh4 42.Txh4 Txb7 43.Re3 Tb1 44.Th6+ Re5 45.Th5+ Re6 46.Th8 Te1+ 47.Rf2 Ta1 48.Te8+ Rf7 49.Tc8 Re6 50.Rf3 Tf1+ 51.Rg4 Tg1+ 52.Rf4 Tf1+ 53.Re3 Te1+ 54.Rd3 Td1+ 55.Re2 Th1 56.Tc5 Rd6 57.Tc3 Re5 ½–½




Lopes,Martinho - Santos,Sílvio [C19]
Camp Nac S. J. Madeira (8), 09.1978
1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Bb4 4.e5 c5 5.a3 Bxc3+ 6.bxc3 Ce7 7.Cf3 Bd7 8.a4 Da5 9.Bd2 Cbc6 10.Be2 c4 11.0–0 f6 12.exf6 gxf6 13.Ch4 0–0–0 14.Te1 Cg6 15.Cf3 Thg8 16.Dc1 Dc7 17.Bf1 e5 18.dxe5 fxe5 19.g3 Tdf8 20.Bg2 Bg4 21.Cg5 h6 22.f3 Bd7 23.Ch3 Ch4 24.Tf1 Cxg2 25.Rxg2 Bxh3+ 26.Rxh3 h5 27.Be3 Dd7+ 28.Rg2 h4 29.Dd2 Th8 30.Th1 Df7 31.De2 De7 32.Thf1 d4 33.Bf2 hxg3 34.hxg3 Dd7 35.Th1 Thg8 36.Tad1 Tg7 37.cxd4 exd4 38.Dxc4 Tgf7 39.Td3 Rb8 40.Bxd4 De7 41.Te3 Dd8 42.Bc5 Txf3 43.Bxf8 Txe3 44.Df4+ Ce5 45.Dxe3 Dd5+ 46.Rf1 Dxh1+ 47.Re2 Dh5+ 48.Rf1 Dd1+ 49.De1 Df3+ 50.Df2 Dd5 51.Bc5 b6 52.Be3 Dd1+ 53.Rg2 Dd5+ 54.Rf1 Dd1+ 55.De1 Df3+ 56.Rg1 De4 57.Dc3 Rb7 ½–½




Silva Pereira,Rui - Lopes,Martinho [C79]
Camp Nac S. J. Madeira (9), 09.1978
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0–0 d6 6.Te1 b5 7.Bb3 Ca5 8.d4 Cxb3 9.axb3 Bb7 10.dxe5 Cxe4 11.Cc3 d5 12.e6 fxe6 13.Cxe4 dxe4 14.Cg5 Dxd1 15.Txd1 Bd6 16.Cxe6 Rf7 17.Cd4 Thd8 18.Bg5 ½–½




Lopes,Martinho - Durão,Joaquim [C19]
Cam Nac .S.J.Madeira (10), 09.1978
[Joaquim Durão]

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Bb4 4.e5 c5 5.a3 Bxc3+ 6.bxc3 Ce7 7.a4
clássica manobra da variante, com vista a manter a possibilidade de domínio espacial no flanco de dama, útil no caso das pretas rocarem largo, e ao desenvolvimento Bc1–a3


7...Cbc6 8.Cf3 Bd7 9.Dd2

[9.Be2 Da5 10.Bd2 conforme partidas Durão-Sílvio Santos e Martinho Lopes-Sílvio Santos no presente campeonato, baseados na experiência do match Korchnoi-Spassky , Belgrado 1978/79, em que se jogou uma partida importante para o estudo da sub-variante]

9...Da5 10.Bd3 cxd4

[10...c4 11.Be2 (11.Bf1 com a ideia de g3 Bh3 é perigoso, por causa do posterior domínio da diagonal a3-f8) ]

11.cxd4 Dxd2+ 12.Bxd2 f6
ataque ao centro, antes que tenha tempo de ser consolidado pelo peão f

13.0–0 Rf7
mantendo o "status quo" central e colocando o rei em casa de pouca vulnerabilidade

14.Tfe1 h6
importante, pelo domínio que exerce sobre a casa "g5", negando o acesso pelas figuras menores 15.h3!? com o lance do texto, as pretas ficam sem problemas imediatos após 15...fe5 16.Ce5 Ce5 17.de5 Thc8 com muita partida por diante[15.exf6!?]
½–½




Pereira,Renato - Lopes,Martinho [C79]
Camp Nac S.J.Madeira (11), 11.1978
[Renato Pereira]
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0–0 d6 6.Te1 b5 7.Bb3 Ca5 8.d4 Cxb3

[8...Bb7 9.d5 c5 10.c3 Cxb3]

9.axb3 Bb7 10.Cc3 Cd7

[10...exd4 …11.Cxd4 com a ideia de Cf5]

11.Bg5 Be7

[11...f6!? 12.Be3 Be7 13.Ch4 seguido de Cf5 e depois Dg4 , f4 com o ataque superior das brancas]

12.Bxe7 Dxe7 13.Cd5! Dd8

[13...Bxd5 14.exd5 e4 15.De2 f5 16.Cd2 Cf6 17.f3 0–0 18.fxe4 Tae8 19.e5!]

14.dxe5 dxe5 15.c4 0–0 16.Dc2 c6 17.Ce3 g6 18.Ted1 De7 19.Td2 f6 20.Tad1 Tad8 21.Td6?
o melhor era 21.b4! seguido de c5 e depois as brancas preparavam o avanço dos peões na ala de Rei com g4,h4 e g5 para final vantajoso

21...Cb6 22.Dd3 Txd6 23.Dxd6 Dxd6 24.Txd6 Cc8 25.Td7 Tf7 26.Td8+ Tf8 27.Td7 Tf7 28.Td8+ Tf8 29.Td1 Rg7 30.c5 Tf7 31.Rf1 Te7 32.Re2 Rf7 33.Cc2 Tc7 34.Cfe1 Ce7 35.f3 Bc8 36.Ta1 Ta7 37.g4 a5 38.Cd3 Ba6 39.b4 a4 ½–½