Amanhã, se tudo correr bem, o meu
Clube de Xadrez, o Grupo de Xadrez do Porto, vai ter uma nova direção.
Digo se correr bem, porque mesmo
não correndo, haverá sempre Direção do G.X.P. Quem conhece a história do Clube,
sabe que em tempos bem passados e perante impasses, ou não aparecimento de
candidatos a órgãos diretivos, durante Assembleias Gerais aqueles que se
ausentavam para café ou apanhar ar fresco, quando chegavam, quase por magia,
cafeína, ou oxigénio, estavam nos lugares que faltavam nas listas! Era assim e
pronto e nem pestanejavam! Belas histórias estas de amor consentido ao Grupo de
Xadrez do Porto.
Mas dizia, temos então órgãos
dirigentes novos no Clube. Bem, novos não serão, quer pela idade, quer pelo
facto de a maioria dos elementos transitar dos outros órgãos da Direção
anterior. Digamos que não são bem novos, são uma espécie de novos sendo os mesmos,
estilo “ lavados com Extra” – lembram-se?
Existe um elemento da anterior
Direção que não vai fazer a transição. Resolveu que chegava e encostou “à
boxe”, ou se quiserem, resolveu guardar os “cavalos à la Chigorin” que tanto
gosta na caixa do sossego.
Um exercício: Olhem para esta
foto.
Reconhecem-no? Quase como num conto: jovem, cabelos no peito, bigode à
Errol Flynn, decisão a capturar a peça do adversário, e…dinheiro no bolso da
camisa (10, ou 100 euros?!). Uma estampa, um verdadeiro “espera aí que já te
atendo” do tabuleiro.
Olham agora para esta foto
intermédia com o nosso querido Velez Grilo.
Os mesmos cabelos no peito, barba
por fazer, e sem dinheiro no bolso da camisa, substituído por uma esferográfica
para assinar o que der e vier, nem que sejam alguma dividazita do GXP.
Olhem agora para esta última.
Apesar do meio sorriso, do peito para fora (e barriga também), os cabelos e
barba branca, dos óculos de quem “ Já nem vos vejo bem”, nota-se qualquer coisa
naquele rosto. Não notam nada? Mesmo nada?
Ou não amam o xadrez, ou não
percebem onde eu quero chegar. Na última foto existe claramente na personagem
mais do que a idade que avançou, o caminhar temporal do cansaço, os verdes anos
que já eram, num futuro outro que há-de ser sem o dirigismo do xadrez.
Pois é! O Joaquim Brandão Pinho,
o meu Presidente, o nosso Presidente no antes e no quase agora adeus. Que
chegava, por cansaço, por outros objetivos, por necessidade de renovação do
plantel, porque isto de marcar golos de pontapé de bicicleta na Direção do Grupo
e não ter direito a prémio nem gala, não compensa.
O Joaquim Brandão Pinho. Um dos
melhores Presidentes de Direção na história do G.X.Porto. Obviamente sem negar
mérito aos membros dos órgãos sociais das sucessivas direções que encabeçou,
sem dúvida que ele foi o elemento agregador, o jogador ansioso de rápidas na
resolução de problemas do Clube, mas também o estratega paciente à espera do
golpe tático para obter o melhor para o GXP. Por vezes as dificuldades deveriam
ter-lhe surgido com Torres intransponíveis, outras vezes teve que lidar com
ziguezagueantes cavalos fossem políticos, dirigentes putativo-federativos, bem
diferente dos nossos do tabuleiros que saltitam em L, quando não teve que
aturar “bispos” sem dioceses, “reizinhos” e “damazinhas” que abundam no
dirigismo do xadrez português e arredores.
Assim, um excelente Presidente do
meu GXP. E quem me conhece, sabe que sou parco de elogios no que diz respeito
ao xadrez português. Mas não sou mal agradecido, nem falho de compreensão
afetiva, quando alguém como o Pinho deu ao xadrez o que tinha e não tinha ( e a
isso não era obrigado), com paixão, dedicação, entusiasmo, e sobretudo com um
sentido de dignidade, de abnegação, de entrega , de amor ao Grupo de Xadrez do
Porto como poucos. Costumo dizer que uma Direção, um Presidente conseguir
manter um Clube como o G.X P vivo durante um mandato, já daria lugar no céu,
mantê-lo por vários mandatos, nem pede para entrar… tem lugar cativo.
Não me interessa muito enumerar o
que o Brandão Pinho fez pelo GXP, outros que o façam, mesmo com folha Excel.
Bastava a nova sede para esta Direção e o seu Presidente ficarem na História do
Clube. Podemos discordar de uma ou outra orientação, de uma ou outra opção
tomada pela Direção cessante, mas uma coisa é certa: o Grupo de Xadrez do Porto
está vivo, e continua.
Continuando a ser um Clube “Robin dos Bosques”, um Clube
cuja pobreza monetária sempre foi seu apanágio, mas de uma grandeza de ser e
sentir o xadrez na sua essência apaixonada e intima, de uma História viva , mesmo
com o passado presente, que o torna raro e quase único. Um Clube que mais do
que físico, quando se ama, entranha-se na alma a ferro e fogo, quase como
identitário da nossa personalidade. Um Clube onde não há “croquetes”
xadrezísticos, mas mais “tripas à moda do Porto”, mais carrascão da
“adega do Olho” que já não há.
Assim o Meu G.X.P. E o meu Presidente, Joaquim
Brandão Pinho, continuou esta saga, que não sendo das estrelas, certamente o
pôs muitas vezes a ver das mesmas. Sei o que ele passou nestes anos. O que a
família perdeu ( e dava para fazer uma tese sociológica com o título “ Coitadas
das mulheres e filhos e netos dos xadrezistas” É que eles tem por amante outras
damas e por filhos outros peões), o tempo que dedicou ao xadrez tirando-o do
seu lazer, do seu descanso, da sua paz interior tão necessitados estamos dela
nestes tempos que correm, das canseiras e moideiras que um Presidente mesmo de
um pequeno Clube como o G.X.P deve ter tido para lhe assegurar o sangue vital
da sua sobrevivência.
Depois…depois há o Joaquim
Brandão Pinho, que para mim será o “Pinho da Lixa”, porque só a garrafas do
verde de nome, eu, o Rogério e Ele conseguimos fazer as obras quem nem de Santa
Engrácia da sede de Passos Manuel, ainda por cima agravados pelos buracos do Castro.
Há o Pinho dos matches titânicos de rápidas, a apontar tipo sueca e tudo com o
Castro, há o Brandão Pinho cujo sorriso desarmante…desarma, o Pinho e a sua
bonomia, o Pinho e a sua simplicidade, a boa vontade, a incapacidade de se
chatear a sério e eternamente com alguém, o Pinho que dá uns toques valentes no
xadrez por correspondência e toques menos valentes no não por correspondência,
o Pinho que ama o xadrez por aquilo que ele é e nada mais.
Não sei se o Joaquim Brandão
Pinho deu muito ou pouco ao xadrez nacional, ao meu GXP deu muito, mas muito mesmo.
Sei que não precisa de homenagens, nem foi a vaidade, nem a ambição (apenas e
só a de servir o GXP) que o moveu e conhecendo a sua simplicidade, quase que me
apetecia citar-lhe um poema da Dickinson:
Não sou Ninguém! E tu és quem?
Ninguém - Também?
Então somos um par?
Não contes! Podem espalhar!
Que enfadonho ser – se Alguém!
Como uma rã- que passa o junho
todo –
A dizer o seu nome –
publicamente
A um admirador, o Lodo!
Assim, Amigo Joaquim Brandão Pinho o meu obrigado pelo que serviste o
G.XP, e neste meu obrigado, penso que se revêm muitos sócios do GXP. Saímos
todos bem na fotografia, Tu principalmente que conseguiste dar seguimento a uma
História de um Clube de emoções, afetos, aflições, apertos, enganos/desenganos, alegrias,
mas uma História que há-de continuar para corrente vida e memória futura.
O resto? Vamos andando por aí, Caro Pinho para o quer der e vier do
nosso G.X.Porto, seja uns escritos, uma rápidas, o xadrez por Correspondência,
a cavaqueira ocasional de um ou outro sábado de tarde. Quem sabe se ainda te
vais dedicar ao colecionismo de xadrez… quem sabe?! Pronto lá vai a tua família
fazer-me em “francesinha à moda do Porto”, por esta ideia.
Abraço apertado e cheio de afeto xadrezístico
Do Arlindo
A foto que mais gosto da tua "carantona" e que tem direitos de autor, só para se saber, não vá alguém "faná-la" para alguma revista da FPX. O teu sorriso franco, desalmado, estilo Bolhão, é uma maravilha!