XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

23/12/10

Lástimas, Tristezas



"Eu, retiro-me, e esta será provavelmente a última vez que ouvirão falar num tipo chamado António Russo, que era federado, que sempre gostou muito de xadrez, mas que se fartou de todo o cenário dantesco que o envolvia."
António Russo

Vou quebrar uma regra que a mim próprio tinha imposto quando criei este blogue: só falar de xadrez longe da esfera do xadrez português actual tal como o vejo e sinto. E o que aqui vai, é uma resposta ao António Russo, amigo de Xadrez de longa data e, alguém que ao longo dos anos, quer na Luso-Xadrez, quer noutros Fórum da modalidade, tem lançado ideias, propostas, sugestões que visavam a melhoria organizativa e o progresso do nosso amado xadrez, quase sempre em vão, diga-se.

Esta resposta pelo seu exagerado número de caracteres não entrou na caixa de comentários do Blogue da Casa do Xadrez. Assim , isto foi escrito de rajada, de raiva, e antes de mais nada, deixem que escreva o que sinto do Xadrez Português a nível organizativo e competitivo: Uma Lástima!

E mais não digo, dizendo o óbvio: antes da organização, é preciso renovar o tecido pessoal do dirigismo que anda há demasiado tempo no xadrez. Há comodismo, rotineirice, mais do mesmo no xadrez português. É preciso com urgência gente nova, novas dinâmicas de pensar e ver o xadrez, novas formas de estar no dirigismo no xadrez português, independência em relações a "Masters Voices" que nos cadeirões do poder, ou por trás deles, mexem cordelinhos, impõem vontades, muitas vezes numa democracia de valor muitíssimo duvidoso, por não serem ouvidos os xadrezistas, ou mesmo os clubes. Depois, depois são os acordos de ocasião, os interesses mesquinhos unipessoais ou conjecturais a sobreporem-se ao interesse do xadrez português.

O que se vê de objectivo? Um xadrez estagnado, a passo de caracol, uma competitividade que não existe, uma falta gritante de progresso ( a crise de 2200) por não aposta nos jovens a partir de determinada altura ( e se há algum, casos do Ruben e de um outro que não digo o nome, para não ferir susceptibilidades, mas que adivinham, do bolso dos Pais lhes saiu-sai, com treino particular), um Nacional da 1ª Divisão que é das competições mais falsas e manhosas do xadrez Português, mostrando um verniz que estala no primeiro "beliscão", subsidiário de "tetas" camarárias de alguns, que quando secam, levam à extinção do Clube, os resultados pouco afamados de xadrezistas portugueses, que não se analisam, ou quando analisados são sempre "alindados" para a fotografia, sites de xadrez associativos ou da própria Federação que são aquilo que se pode chamar o grau Zero da insanidade xadrezista-aquilo parece feito para "atrasados mentais" (com o respeito que tenho pelos mesmos), ou se quiserem, este ambiente de xadrez requentado, banho-maria, "tá-se bem" em que vive o xadrez português vai para décadas.

Depois, depois sempre as mesmas queixas, os mesmo problemas, mas também os mesmos rostos, as mesmas caras, as mesmas metodologias de dirigir, de pensar, de ver o xadrez, mesmo que sejam as mais bacocas que existam. E ainda depois, esta questão para a qual ainda não encontrei resposta: Mas não aparece e gente nova para o dirigismo do xadrez, porque não quer, ou....uma certa instalação no poder de alguns, não deixa, ou não quer que se destape certas caixas de pandora de más gestões?
Não sei!


Sei que conheço o António Russo e sei que o percebo. Sei o que este homem trouxe ao Xadrez, sei o que foi (é) o Luso Xadrez, sei o quanto ama o xadrez, na mesma proporção que sei aqueles que sempre viveram na sombra, nas manobras, na ambição de, ou no "bem-bom" de viver com o "cú virado para o céu", xadrezisticamente falando, de ter a sorte-grande e terminação subsidiária, que outros nunca tiveram, ou mesmo de ocupar cargos que sempre ambicionaram.


Tudo bem, agora o que não suporto é depois o discurso do "ir empurrado", o de estar a prestar um grande serviço, o sacrifício na cruz! Não! Conheço muito bem certa gente listável federativa os associativa. Vão para lá sempre contrariadas, sempre perfiláveis, mesmo sem ter perfil nenhum , nem a mínima ideia do que pretendem, de estratégia a impulsionar. Depois, depois, até se adere porque sim, porque se é amigo, camarada, porque é preciso completar lista. Depois e ainda, perante enormidades, envergonhados, abanam-se ombros, abdicam-se ideias próprias e como Erasmo no Elogio da Loucura, passam-se a cortesãos rastejantes de omnipotente príncipe.

Nunca, mas nunca hei-de perceber nas organizações o que fazem vice-presidentes, secretários, Conselhos disto e daquilo perante ditadorzecos-estalicas de meia-tigela! Como nas actas das direcções ou dos órgãos ( isso ainda existirá?) é tudo tão cordato, tudo tão anémico, ou talvez, tudo deva parecer assim , mesmo que se tenha de dar volta ao texto!

Não sei. Nem quero saber. Sei apenas que em relação ao dirigismo do xadrez ( e obviamente não me estou a referir às pessoas, "porreiras", "fixes", venerandas que sejam), algumas-muitas, não as convidada sequer para organizar as refeições diárias dos meus dois gatos! Matavam-me os bichos a comida seca por rotina, por dado adquirido que é assim! Mas o extraordinário, é que se calhar matavam-me a gataria e continuariam a matar a tartaruga, o hamster, o cachorro, com o mesmo método, porque eles acham que é assim que a bicharada deve estar entregue! Persistência, resiliência à mudança, auto-mentalização da sua imprescindibilidade. Sem nós era o caos!

E chega. Aqui a minha resposta ao mail do António Russo. Amargo e rude, que jeito, só para Kupreichik,Spassky, memórias, ternuras e afins.

"Só me admirei de o Russo ainda continuar! Nada surpreendido com a sua decisão, porque o Russo no xadrez, não é , nem nunca foi um peão de brega!! No Xadrez português, onde abundam Cavalos mais parecidos com burros, "Reis" de triste figura, enrocados em ambições mesquinhas, em "mamas" subsidiárias-camarárias e "Damas" pouco abispadas que se deixam pensar pelas cabeças oco-pensantes da masculinidade indigente que vai governando o xadrez, a peça vertical de madeira nobre que é o António Russo, nada tem a ver com este xadrez plastificado, anémico, quadrado e hipócrita que vai campeando neste tabuleiro carunchoso que se chama xadrez português!


Como não estar de acordo com tudo o que escreve? Ver os saltos mortais de companheiros meus que antes eram lúcidos no que escavavam de ossário do xadrez português, agora cordatos, submissos, quase envergonhados pelo xadrez "estar a norte", nem sequer me chateia, deprime-me, mas...tiro-lhes a bissectriz ética e guardo para mim o resultado.


Dizia vai para um ano o Galego que assim o Xadrez Português, não ia a lado nenhum, acabava salvo erro em 2012!

Mas o xadrez Português está acabado desde o passado recente putrefacto no presente e nado-morto no futuro! Tenho para mim que todos estes "cotas" monumentos recentes que vão governando o xadrez português, de forma escondida, velada, de poderes e micro-poderes subreptícios, de cu-cadeiral associativo, ou federativo, do ontem degrau superior, onde escadote inferior, "desde que"...toda essa gente deveria deixar o xadrez, o fazer mal ao xadrez!

Desapareçam, abandonem, vão para o Tibete fazer meditação sobre a arte de amar o xadrez, porque uma grande maioria, não gosta do xadrez,da sua essência, da sua intrínseca beleza, gostam sim do a jusante e montante do xadrez, do poder (tristes figuras!), de ambições para, do pavonear-se nos salões onde outros gastam neurónios (neles, os Mandatários, vão rareando!) num dos grandes amores das suas vidas-o xadrez!

António Russo, Eu, farto desta gente, que faz de Leis, Actas, Assembleias-Gerais, autênticos rituais de poderzinhos feudais, do ontem verdade-hoje verdade-assim-assim-amanhã mentira, farto de todos estes coitados (dizem-se, sentem-se eles) que carregam o xadrez português às costas, que se sacrificam tanto por nós, que nem vida pessoal ou sexual têm devido ao desvelo com que nos tratam, ao afinco com que têm conduzido o xadrez à glória,ao "estrelado"-estatelado, à sua afirmação social!

Um "Rafael-Bordalo Pinheiro" para todos vocês!

Ai se não fossem os jogadores, alguns clubes, meia dúzia de dirigentes-resistentes de alguns clubes, algumas "personalidades" que amam mesmo no xadrez, no seu silêncio, no canto dos seus blogues, naqueles que pagam do bolso para ter o prazer de jogar xadrez...e vocês mandatários do xadrez português, vocês... nem existiam! Lá se ia a vossa visibilidade, os vossas aspirações "acaciozinhas"!

Pois não? Não jogais nada, não percebeis peta do xadrez, culturalmente falando, uma espécie de "Tony Carreira" da modalidade, o que vos resta? O desmando do mando e em bicos de pés uns, furtivamente de esquina outros, aí estais! Parabéns!

Mas apesar da área de História, não gosto lá muito de "dinossaurios", fósseis!
Assim, António Russo, como me admirar com a tua atitude?! Valeu pena teres ideias, lançares sugestões para a melhoria do Xadrez Português!? Aquilo não entra no mofo intelectual de muita gente do Xadrez que tem levado a modalidade ao estado em que ela está! Chega a uma altura em que isto cansa, dói, deprime!


E depois lá vem a ladainha de que só se ataca, que quem critica deveria ir para lá fazer melhor, que não havendo melhor que remédio, que as pessoas até são “porreiras”, good guys-girls”, como se não percebessem que não são as pessoas que estão em causa, mas o que miseravelmente vão não fazendo pelo xadrez, pelo que de anafado têm de visão da modalidade, e sobretudo pelo que não entendem do xadrez, querendo dele servir-se, não o servindo, mas pensando que sim!


Assim António Russo, solidário contigo! Sei que não abandonarás nunca o Xadrez, porque amador a sério, intrínseco na tua personalidade.
Pode ser, pode ser que gente nova venha insuflar ar fresco no xadrez Português e algum dia nos encontremos frente a frente num tabuleiro num torneio de veteranos!

Um Grande Abraço e um Natal cheinho de Ternura do Teu Sempre Amigo:
Arlindo Vieira "

Só um pequeno aviso: Este blogue é meu, a minha casa xadrezista virtual. Não responderei a provocações, nem alimentarei polémicas. Tenho esta opinião que é minha, contestável que seja. Afastei-me do xadrez competitivo por motivos relacionados com a minha vida pessoal, mas também por uma certa náusea de um certo dirigismo federativo que chegou a ser ofensivo à minha inteligência quando fui vice-Presidente do meu GXP. Sabe-se a Luta nem sempre compreendida do GXP contra determinadas situações na FPX da altura, sabem os meus colegas de Clube que não aprecio minimamente como dirigentes certas pessoas que estão na actual FPX (e bem pressagiamos na Direcção do meu GXP,que algumas queriam chegar onde chegaram!), bem como todo o processo inacreditável como se chegou a esta equipa, mesmo que dela façam parte um ou outro elemento do meu Clube.

Quebrei a regra, está quebrada.
A Viktor Kupreichik voltarei.

Bom Natal para todos.

05/12/10

KUPREICHIK, Viktor 6




E Pronto, muitas páginas e 14 partidas de Viktor Davidovich KUPREICHIK depois, o que me apetece escrever neste final? Que tenho a minha consciência tranquila?

Que dei a conhecer a quem me ler, outro dos meus «heróis secretos» do tabuleiro?

Que procurei trazer mais uma figura de 2.º ou 3.º plano do mundo do xadrez, do esquecimento, ou da nebulosidade, para uma certa ternura do conhecimento?

Ou poderei dizer, que gosto dos meus jogadores secretos e ninguém tem nada com isso, ou como já me fartei de escrever, preciso da arqueologia da memória, para descobrir a imensa beleza que existe em partidas e xadrez de jogadores que quase ninguém conhece, ou que são apenas, rodapés de Enciclopédias, ou nomes, frios nomes em descarnadas bases de dados ?





Ou talvez...lembrar-me de um artigo lindo, lindo, lindo, que li vai para uns anos na New In Chess, sobre Bronstein, em que este, ao descer as escadas do Centro de Congressos do Kremelin, ao olhar para as fotos dos Campeões do Mundo que ornamentam as paredes, confidenciou ao jornalista Geuzendam, que não pertencia aquele mundo, porque sempre foi diferente, sempre quis ser diferente e que aquelas fotos eram prisões, que tornavam os jogadores em estatísticas, como muitas vezes são vistos os Campeões do Mundo, pelo jogador comum.

Afirmou também que odiava Enciclopédias, porque têm a data de nascimento, da morte e os resultados do Jogador, como se um jogador, um grande jogador fosse e só um número, para concluir que Ele Próprio Bronstein, não era o Livro do Torneio de Zurique 53, ou o empate 12-12 com Botvinnik! Grande homem! Como o foi mais à frente, na entrevista ao referir com uma certa amargura que o não ter sido Campeão do Mundo, ainda o perseguia aos olhos do público, porque isso faz com que qualquer coisa que um grande jogador faça sem ser Campeão do Mundo é olhado noutra perspectiva e mesmo havendo grandes jogadores, ao olhos do tal público, nenhum se pode comparar a estes campeões do mundo, o que não é verdade!


Talvez seja isso que pretendo com a série de artigos que tenho escrito! Mostrar a dignidade, a grandeza, o espírito xadrezista que paira em muitos extraordinários jogadores que nunca foram Campeões do Mundo, mas que com a sua criatividade, com a sua abordagem multifacetada do fascínio do nosso jogo, têm sabido, consciente ou inconscientemente manter viva a chama em milhões de amadores apaixonados do nosso jogo!


Tirar estes jogadores das simples 3 , 4 linhas de Enciclopédia, mostrar que muitos deles, por desconhecidos, não conseguem ver reconhecido hoje a sua real força xadrezística, o seu contributo inestimável para a beleza, a estética do xadrez, um dos meus objectivos! Conseguir que a paixão do xadrez se mantenha inalterável em mim próprio, porque também escrevo para mim, para a minha própria arqueologia da emoção, da beleza, que jaz escondida no movimento conjugado e muitas vezes quase secreto das peças, outra das ambições!


Conseguir filtrar, em época de avalanche de informação, da frieza das bases, da memorização de variantes, do «show-of» dos grandes nomes, ou pseudo-grandes nomes do xadrez actual, da miséria materialista e muitas vezes mesquinha que avilta a nobreza que tem ou devia ter o nosso jogo, a verdade, a verdadeira essência do xadrez, que muitas vezes só os amadores do xadrez, conseguem ter, porque ainda têm os olhos puros, porque ainda conseguem tocar as peças com as mãos purificadas de uma manhã marítima e soalheira, talvez a minha ambição suprema!



Este artigo sobre Viktor Kupreichik, seria impossível sem o recurso de pesquisa na minha biblioteca às seguintes obras básicas;

McCormick, Gene, «Uncompromising Chess": The Games os Viktor Kupreichik», Chess Enterprises, 1986

( livro sobre este jogador-ligeira biografia de Suetin e 81 partidas,(escolhidas pelo próprio Kupreichik) praticamente sem comentários - 66páginas.

Kupreichik, Viktor e Tsarenkov, Nikolai, "Igra bez kompromissa", (Luta sem Compromisso, sem Quartel), Edição bielorussa de 2003, publicada em Minsk

( livro raro, que apesar do próprio autor ser Kupreichik, nada traz de especial aos comentários do próprio nos Informadores. 55 partidas comentadas em símbolos, e mil posições das suas partidas, a que se acrescenta uma introdução de Balashov. Uma péssima edição, com diagramas pouco claros, em que nas partidas comentadas nem os torneios das mesmas são indicados.)

Cafferty, B e Taimanov, Mark, «The Soviet Championships», Cadogan Chess 1998

(Um livro muito bom! Só as fotos valem o preço! Grandes, grandes partidas! Excelentes comentários à moda antiga, isto é, dês-simbolizados!)

Soltis, Andrew, «Soviet Chess 1917-1991», MacFarland &Company,2000

(Que dizer deste livro, que outros não tivessem dito? Um dos livros mais extraordinários que se escreveram sobre o tema e sobre o xadrez em geral! Só isto!)

Khalifman e Soloviev, «Mikhail Tal-Games», Vol 2 , Edições Chess Stars, 1995

Hooper, D e Whyld,K, «The Oxford Companion To Chess», Osford University Press,1996 (sei que o Bronstein, não gosta do esquecimento do nome dos jogadores nas enciclopédias, mas esta, é a nível da informação, da seriedade, do gosto com que foi compilada, uma verdadeira referência a nível do xadrez! Apesar de tudo, esta minha edição tem um erro monumental: enterra Kupreichik, ou seja, informa que ele morreu em 91!! Este mesmo erro esteve durante anos na Web, na La Mecca Chess Encyclopedia, e só vai para sete anos, ressuscitaram Kupreichik, a meu pedido e correcção! Kupreichik, continua vivo e o seu xadrez, tão vivo como ele!

Informator Xadrezístico, Yugoslávia (Diversos volumes). Praticamente, o único sítio, onde se podem encontrar as análises do próprio Kupreichik, às suas próprias partidas.


Kupreichik apesar de se ter retirado do xadrez competitivo (chegou a jogar durante anos na 2ª Liga alemã e em vários opens) continua activo e prestigiado no xadrez bielorusso, ocupando o cargo de comissário para a massificação do xadrez na própria Federação, e aquando dos seus 60 anos, teve honras de entrevista em diversos jornais e revistas russas e bielorussas. No match de 2009 entre Spassky e Korchnoi realizado em Elista, teve um papel importante juntamente com Balashov de comentador oficial do evento, tendo por isso honras televisivas.

Num próximo artigo, mais uma ou outra curiosidade sobre Kupreichik, diria duas surpresas que o não são! Apenas duas partidas muitíssimo curiosas.

Longa vida a Viktor Davidovich KUPREICHIK!


04/12/10

KUPREICHIK, Viktor 5


Vejamos como o ex-candidato ao título mundial, Andrey Sokolov, com mais cento e tal pontos de Elo, tenta confundir Kupreichik, através de um jogo louco, completamente louco, mas como o «feitiço se vai virar contra o feiticeiro» e vai ser completamente derrotado, pelas capacidades inventivas do jogador bielorusso! Esta partida é daquelas que não consigo comentar, pois é tão «estranha», tão deliciosamente «louca», que é pouco para espíritos racionais e ordenados como o meu! Preparemos então o tabuleiro, para uma espécie de «Sagração da Primavera» Kupreichikiana!

KUPREICHIK,V - SOKOLOV,A [B20]
Bad Woerishofen Open, 2001

1.e4 c5 2.Ce2 d6 3.g3 h5 4.d4 h4 5.dxc5 Bg4 6.gxh4 Cc6 7.cxd6 exd6 8.Bf4 Dxh4 9.Cbc3 Bxe2 10.Cxe2 g5 11.Ae3 Dxe4 12.Tg1 Db4+ 13.c3 Dxb2 14.Tb1 Dxa2 15.Txb7 Cf6 16.Cc1 Da5 17.Txg5 d5 18.Cb3 Dxc3+ 19.Bd2 Db2 20.Bb5 Tc8 21.De2+ Ce4 22.Txd5 Db1+ 23.Cc1 Bb4 24.Bxc6+ Txc6 25.Tb8+ Re7 26.Bxb4+ Re6 27.Te5+ Rxe5 28.Bc3+ Rd6 29.Txb1 Cxc3 30.Dd3+ Rc7 31.Dg3+ 1-o



Perceberam alguma coisa? Eu não! Nada!

E querem agora verificar o que pode acontecer a um amador como qualquer um de nós, se apanhar Kupreichik, num Open? Vejam com que eficiência de correio, despachou um «mancebo»alemão de 2018, no mesmo Open de Bad Woerishofen 2001

KUPREICHIK,V - REICHWALD,K [B07]
Bad Woerishofen, 2001

1.e4 d6 2.d4 Cf6 3.Cc3 g6 4.Be3 Bg7 5.Dd2 o-o 6.Cf3 Cbd7 7.Bh6 e5 8.Bxg7 Rxg7 9.o-o-o exd4 10.Cxd4 Cc5 11.f3 Bd7 12.g4 a6 13.h4 h5 14.Be2 b5 15.gxh5 Cxh5 16.Tdg1 Th8 17.Tg5 c6 18.Thg1 Df6 19.Cf5+ Bxf5 20.exf5 Th6 21.Ce4 Cxe4 22.fxe4 Rh7 23.Bxh5 gxh5 24.Dg2 1–0



Apesar do estilo de jogo empreendedor de Kupreichik, ou talvez por isso, o ex-Campeão do Mundo Vassily SMYSLOV na sua caminhada para o título mundial em 1983, só parada pelo inevitável Garry Kasparov, convidou-o (ou as autoridades soviéticas por ele) a ser seu assistente e segundo nos matchs com Robert Hubner, Zoltan Ribli e Kasparov e parece que não ficou arrependido, pois derrotar Hubner e Ribli, teve a sua parte no trabalho conjunto que teve com Kupreichik, principalmente no reportório de aberturas.

Aliás o próprio Smyslov, chegou a louvar o trabalho do seu segundo, confidenciando a Suetin, que Kupreichik era um trabalhador excelente na difícil tarefa das análises, encontrando muitas vezes ideias novas e refrescantes! Vejamos pois o excelente trabalho analítico de Kupreichik, sobre as suas próprias partidas, ou seja, as suas próprias notas publicadas no Informator Yugoslavo, a duas das suas partidas:


Kupreichik,V (2520) - Kovacevic,V (2545) [C02]
Vidmar mem Ljublana Portoroz, 1989
[Kupreichik,V]

1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 c5 4.c3 Ce7 5.Cf3 Cec6 6.Be3 Cd7 7.Ad3 a5 8.Cbd2

[8.Cg5!? cxd4 9.cxd4 Be7 (9...h6 10.Dh5 hxg5 11.Dxh8 Cb4 12.Dh7 g6 13.Axg6+-) 10.h4!? (10.Dh5 Bxg5 11.Bxg5 Db6 vantagem negra) 10...Db6 11.Cc3 (com ligeira vantagem]

8...cxd4 9.cxd4 a4 10.a3

[10.Cg5!]

10...Be7 11.h4

[11.0–0]

11...h6 12.h5 Cb6 13.Ch2 Ca5 14.Dg4 Bf8

[14...Rf8 com a ideia...15.Tc1]

15.Tc1

[15.De2 Bd7 16.f4]

15...Bd7 16.0–0 Cbc4! 17.Cxc4 Cxc4 18.De2

[18.Bxc4 dxc4 19.d5 (19.f4!?) 19...exd5 20.Dd4 Bf5! 21.g4 Ad3 vantagem negra]
18...b5

[18...Tc8!?]

19.f4 Be7 20.f5!?

[20.Bxc4 dxc4 (20...bxc4 21.g4‚) 21.f5!? (21.d5 exd5 22.f5 (22.Ad4!?com compensação) 22...d4 23.Axd4 Axf5 vantagem negra) ]

20...exf5

[20...Bg5? 21.Bxc4 bxc4 (21...dxc4 22.d5‚) 22.Bxg5 Dxg5 23.f6±]

21.Bxf5 Cxe3 22.Dxe3 Bg5 23.Dg3 Bxf5 24.Txf5 Tc8?

[24...Bxc1 25.Dxg7 Tf8 a) 26.Cg4 (b) 26.e6!? a) 26...Dd6! 27.exf7+!? (27.Txf7 0–0–0 28.e7 Txf7 29.Dxf7 Bxb2! 30.e8D Bxd4+ 31.Rh1 Txe8 32.Dxe8+ Rc7=+) 27...Rd7 28.Cf3 (28.Cg4!?) 28...Rc7 29.Tf6! De7 30.Dg6 confuso) 26...Ta6 (26...Bg5?± 27.e6 Ta7 28.Ce5 Dd6 29.exf7+ Rd8 30.Cc6+±) 27.Cf6+ Txf6 (27...Re7 28.Cg8+ Rd7 29.Txf7+ Txf7 30.Dxf7+ Rc8 31.e6 Be3+ 32.Rf1÷) 28.exf6 Dd6 único 29.Te5+ Rd8 30.Te7 Te8 31.Txe8+ Rxe8 32.Dg8+ Df8 33.Dg3! Rd7 34.Dh3+ Rd8 35.Dg3=]

25.Tcf1 0–0 26.e6!± Dc7

[26...f6 27.Df3±]

27.De1! De7

[27...Bf6 28.Txf6 gxf6 29.Cg4 fxe6 30.Dxe6+ Rg7 31.Txf6±; 27...f6 28.Txd5±]

28.Txf7 Txf7 29.Txf7 Tc1

[29...Dd6 30.Td7 Db6 31.De5 Bf6 32.Dxd5+-]

30.Dxc1 Dxe6 31.Tf4 1-o



Outra belíssima partida de Kupreichik, em que derrota em toda a linha Epishin, depois de uma novidade teórica, certamente preparada em pormenor no aconchego caseiro!




Epishin,V - KUPREICHIK,V [D11] Daugavpils, 1989
[V.Kupreichik]

1.d4 d5 2.c4 c6 3.Cf3 Cf6 4.Dc2 g6 5.Bf4 Ca6
novidade teórica à altura

6.e3 Bf5 7.Db3 Cb4! 8.Dxb4 e5 9.c5

[9.Dxb7 Tb8!? (9...exf4 10.Dxc6+ Bd7 11.Da6 fxe3 compensação) 10.Dxc6+ Bd7 11.Da6 Txb2 (11...exf4 compensação) 12.Bxe5 Bb4+ 13.Cbd2 Ce4 com jogo confuso]

9...exf4 10.exf4 b6!?

[10...Dc7]

11.Ce5
[11.Be2 bxc5 12.dxc5 Ce4 com compensação]
11...bxc5 12.Db7

[12.Da4 Db6]

12...Bd7 13.Cxd7

[13.Cxc6 Dc8 14.Dxc8+ Txc8 15.Cxa7 Tb8 16.a4 c4 vantagem negra(16...Txb2!?) ]

13...Cxd7 14.Dxc6 Tc8 15.Dxd5 cxd4 16.Bb5

[16.Bc4 Bb4+ 17.Re2 0–0 vantagem; 16.Cd2!? Bb4 17.De4+ De7! (17...Rf8 18.Dxd4 De7+ 19.Be2 Cf6 20.a3 confuso) 18.Dxe7+ Rxe7 19.Rd1 d3!? (compensação 19...Cc5 ) 20.Bxd3 Thd8 com compensação-ataque]

16... Bb4+ 17.Re2

[17.Rd1 o-o 18.Dxd7 Dh4! 19.g3 Dh5+ 20.Be2 Dc5 com vantagem decisiva; 17.Cc3 dxc3 18.o-o o-o 19.Dxd7 cxb2 clara vantagem negra]
17...0–0 18.Td1

[18.Dxd7 Dh4 19.g3 Dh5+ 20.g4 Tfe8+ 21.Dxe8+ Txe8+ 22.Bxe8 Dxg4+ 23.Rf1 Dxf4 grande vantagem]

18...Dh4 19.Rf1

[19.Dxd7 Dh5+ 20.g4 (20.f3 Tfd8 vantagem) 20...Tfe8+ 21.Rf1 Dh3+ 22.Rg1 Tcd8 23.Bf1 Dh4 24.Da4 Be1! 25.Bg2 (25.Dc2 Bxf2+ 26.Rh1 Dxg4 27.Bg2 d3–+) 25...Bxf2+ 26.Rh1 Bg3 27.h3 Bxf4]

19...Dxh2 20.Cd2

[20.Bxd7 Tc2 21.Cd2 Bxd2 com a ideia de Be3–+; 20.Dxd4 Tfe8–+; 20.Dxd7 Tc2 grande vantagem]

20...Cf6–+ 21.Dg5

[21.Dxd4 Dh1+ 22.Re2 Dh5+–+]

21...Bxd2 22.Dxf6 Tc2 23.Re2

[23.Ba4 Txb2–+]
23...Bxf4+ 24.Rd3 Txf2 25.Bc6 Dg3+ 26.Bf3 Txf3+ o-1