Um "colecionador" de peças
de xadrez que se preze tem obrigatoriamente de ser um arqueólogo de fotografias
de xadrez. É através delas que consegue muitas vezes descobrir as peças que
faltam na sua coleção, identificar um Satunton, ou outro tipo de peças, ou mesmo fazer uma datação aproximada do jogo
que possui. Talvez por isso tenho um arquivo de fotos de xadrez interessante,
umas digitalizadas de livros meus de xadrez , principalmente biografias e
torneios, outras tiradas de tudo o que aparece na Net, relativo ao passado
xadrezistico. Neste último caso, até é relativamente pouco porque a fotografia
não tinha a popularidade que tem hoje, nem ter uma máquina era acessível a
qualquer um, para não referir as fotos que desapareceram na voragem do tempo.
Daí existirem tão poucas fotos dos Campeonatos do Mundo, ou mesmo de Grandes
Torneios até 1950-60. Tudo muito escasso. O que existe em fotografia do Torneio
de S. Petersburgo de 1909 ou 1914, ou Carlsbad 1907, ou Semmering, etc., muito
pouco para pena da História do Xadrez.
Diga-se em abono da verdade
que o contrário também, é possível : descobrir uma data, um torneio, ou até um
jogador se olharmos para as peças que estão no tabuleiro! As maravilhosas Coffehouse
austríacas identificam imediatamente Carslabad 1929, Semmering Baden 1926, ou
as Torres belíssimas do Staunton de Sevilha lembram imediatamente
Karpov-Kasparov 1987.
Assim vai para uns bons 6
anos ao adquirir na Ebay um Jogo que estava descrito como alemão, rapidamente
me apercebi através das fotos que estava perante uma peças soviéticas muito
comuns nos anos 50-60, (apesar do verniz moderno forçado a castanho patinado
antigo!). Com ligeiras modificações, o formato do Rei e Dama, o cavalo enorme (outra
característica das peças soviéticas) os Peões, e sobretudo o estilo esguio das
peças, a sua elegância no tabuleiro, permitiram-me datá-las aproximadamente dos
anos 50, pois nessa altura eram rainhas nos Campeonatos Soviéticos e nos Clubes
de Xadrez, antes de serem preteridas pelas Peças que chamo de “Grande – Mestre”
e que se mostraram já no Campeonato do Mundo Tal – Botvinnik no inicio do anos
60. Depois foi o vasculhar de imensas fotos soviéticas desses anos e a dúvida
foi-se dissipando.
Não sei se as fotos darão
razão à beleza destas peças que são de uma elegância, de uma suavidade ao
toque, e sobretudo de uma estética simplista adequada ao jogo, sem distrações supérfluas,
ou enfeites desnecessários, mesmo sem serem feitas em madeira nobre.
Nas primeiras fotos o
tabuleiro é soviético, de abrir ao meio, tipo caixa de dobra, e como se pode
verificar as peças perdem liberdade, ficam asfixiadas, anafadas, tornando a
visibilidade confusa, com as peças quase em cima umas das outras.
Resolvi então, dar "respiração"às peças, colocá-las nos quadrados a que têm direito, e num tabuleiro da RF (Rechapados Ferrer – dos melhores tabuleiros de xadrez do Mundo!) de 5,5 de
quadrado, as peças ganham outro desenho, outra visibilidade. Para realçar a cor
das mesmas peças e a beleza do jogo, resolvi por fim colocá-las num outro
tabuleiro da mesma firma, mas agora verde e branco e brilho semi-mate que faz ressaltar e contrastar as brancas e negras.
Todo o Jogador de Xadrez
minimamente informado conhece a História: Estamos em 1957, um jovenzito de 14
anos tinha acabado de ganhar o Campeonato Aberto dos EUA, tinha ganho um match
ao Campeão Juvenil das Filipinas Tan Cardoso e, como se não bastasse, resolve
mostrar ao mundo do xadrez, que estava ali um génio a despontar: ganha o
Campeonato Absoluto dos EUA, sem qualquer derrota e com um ponto de diferença
sobre a lenda Reshevsky.
O programa de Televisão "I' ve
Got a Secret" apadrinhou uma visita de duas semanas a Moscovo para Bobby
Fischer e a sua irmã Joan, e esta viagem irá ter um impacto decisivo em Fischer,
mas também e sobretudo nos russos. O resto da História também é conhecida e
está documentada nos arquivos soviéticos e em algumas fotos: No Clube Central
de Moscovo, Bobby Fischer ia "aviando" em partidas rápidas tudo o que lhe
aparecia pela frente fosse jogador de Clube, ou Mestre consagrado , de tal
forma que alguém teve de fazer um telefonema aflito no intuito de Tigran
Petrosian se chegar à frente e travar a arrogância do "miúdo maravilha"
americano. Parece que conseguiu, mas Fischer ganhou algumas partidas, apesar de
Petrosian ser um maravilhoso jogador de rápidas. Fischer 15 anos depois ainda
conseguia reproduzir uma partida rápida que tinha jogado neste Clube Central
de Moscovo com Vasiukov !
As peças que eram utilizadas
no Clube, e mesmo numa foto de Fischer em Moscovo, mostram as suas parecenças com
as que aqui coloco. Como parecidas são as peças usadas na Olimpíada de Moscovo
de 1956 – Ver foto da partida Milev-Bronstein, ou do Campeonato Absoluto da URSS
de 1957 – ver fotos de Tal-Korchnoi, ou Boleslavsky – Taimanov.
Que a origem do estilo destas
peças pode estar nos anos 30, é uma hipótese, pois um um Zoom às peças do match Flor – Botvinnik de
1933, mostra-o.
Também uma foto do Jovem
Petrosian dos anos 40, mostra que este estilo de peças já seria popular mesmo
antes de 1950.
Curiosidade: Prokofiev um
apaixonado do Xadrez, parece jogar com o mesmo estilo de peças.
Damsky(?)
Botvinnik