Europeus de Veteranos no Porto.
Não passei por lá. Não me interessa passar por lá. Apesar das laudas
federativas sobre record de nacionalidades e afins, sejamos realistas: este
Europeu é muito fraquinho a nível de nomes sonantes do xadrez, principalmente no
de mais de 50 anos. Comparar com os nomes do Europeu do ano transato (
Vasioukov, Sveshnikov, Ermenkov, etc, etc) é um exercício fastidioso para
mostrar o óbvio.
Zurab Sturua, Butnoris, Suba, a
lenda Nona Gaprindashvili, a vária vezes
candidata Nino Gurieli e aquele que é objeto do meu artigo: Mark Tseitlin são,
foram nomes de relevo no xadrez mundial.
Deste naipe de jogadores tenho um
respeito muito especial e uma admiração da sua força de jogo nos anos 70 por
Tseitlin. Conheço-lhe muitas partidas que aprendi a gostar desde o tempo do
Informator jugoslavo. Um jogador de enorme categoria que merecia não ficar num
rodapé da história do xadrez.
Como se não bastasse ser quatro
vezes campeão europeu de veteranos, o último no ano transato, o vencedor de
Polanica Zdroj ( Memorial Rubinstein) em
1978, como se fosse preciso apregoar o treinador de excelência que também o é,
o autor de livros de xadrez, Mark Tseitlin, hoje Israelita, foi um grande
jogador da Ex URSS nos finais dos anos 60 e princípios dos anos 70.
Só quem é ignorante da história
do xadrez pode deixar passar em claro o que era para um jogador chegar a uma
final de um Campeonato absoluto, a força xadrezista de que era preciso ser
dotado, o talento, trabalho e criatividade que subjazia a um percurso que
começava nas preliminares e galgava os duros degraus do Olimpo até a uma fase final,
onde competia muitas vezes a fina flor do xadrez soviético. E Tseitlin jogou
três finais deste supertorneio!
Hoje, numa época de GM de
aviário, custa a crer que jogadores do talento de Tseitlin, ou de Igor Platonov,
ou Orestes Averkin, ou Nezhmetdinov, Vitolins, ou
Lukin, entre outros, tivessem passado ao
lado de uma grande carreira, obtendo alguns o título de GM tardiamente, outros
nem isso, e Tseitlin só obteve o de MI em 1978 ( aos 35 anos!) e o de GM em
1997 ( aos 54 anos!), o que prova a injustiça de um sistema xadrezistico que
para além de fabricar GM de topo “por cm2”, ainda por cima secava a via
criativa de muitos outros, grandes jogadores que não do topo, pela impossibilidade de saída ao estrangeiro, e como tal, contato
internacional e consequente obtenção de normas e título.
Assim, Mark Tseitlin, um jogador
de enorme craveira, de jogo inventivo, de “Jogo quentinho” como o apelidou
Mikhail Tal, com um fraco pelos ataques ao Rei, os sacrifícios, que se lhe
deram belíssimas partidas e vitórias, também lhe trouxeram bastantes zeros nas
tabelas classificativas.
Logo em 1967 em Kharkov, na
Ucrânica, nos dos raros Campeonatos soviéticos em sistema suíço, Tseitlin,
mostrou entre 130 jogadores a sua classe, classificando-se nos lugares entre
27-40 com companhias de classe como Nezhmetdinov, Tseshkovsky, Sosonko, ou o
jovem Kuzmin.
Tseitlin -Yerenkov
Depois, em Riga, 1970, o
penúltimo lugar, com um jogo de fio de navalha, que lhe deu vitórias sobre
Averbach e Vaganian, mas toda uma série de derrotas por recusar o jogo sólido
ou mais defensivo. Neste campeonato absoluto, os empates com Leonid Stein,
Korchnoi e o já mais do esperança Anatoli Karpov, mostram a força de jogo de
Mark Tseitlin.
(Era o que faltava dizer com quem Tseitlin joga!!)
Em 1971, no 39º Campeonato em
Leninegrado, Tseitlin ocupou o último lugar. Um jogo com o apelo do risco, a
recusa do empate fácil, as ousadias na abertura valeram-lhe os oito pontos com
6 vitórias e apenas quatro empates, o que prova o lado combativo e descomprometido
deste jogador. Neste torneio, “Polu”,
Leonid Shamkovich, Rafael
Vaganian e Igor Platonov foram algumas das suas vítimas.
Assim, a minha singela homenagem
a este grande jogador. Sugiro que consultem os “Informadores” ou uma boa base
de dados, ou se forem mais argutos, os boletins-livros dos Torneios dos
Campeonatos Soviéticos onde Tseitlin jogou e reproduzam as suas partidas, Vale
bem a pena, pois Mark foi e ainda é um espírito indomável do tabuleiro, um
jogador que ama o xadrez como poucos, um daqueles a quem chamo “um glorioso
maluco do tabuleiro voador”, tal como um “Nezh”, um Viktor Kupreichik ( de quem escrevi
longamente aqui) ou Alvis Vitolins (idem), ou Shamkovich, ou Lutikov.
Que geração de grandes jogadores! Tseitlin é facilmente identificado! Os outros: Tal, Bagirov, Katalimov, Karasev, etc, etc
Algumas partidas de Mark Tseitlin
de que gosto particularmente com comentários dos livros soviéticos. Algumas
fotos tiradas daqui e dali, algumas raras, plasticamente muito belas de
acentuado valor histórico.
Sinceramente…era uma alegria que
Tseitlin ganhasse o 5º Título europeu de veteranos. Talvez o Suba não deixe!