XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

20/04/09

CESAR MUÑOZ e FISCHER

Duelo memorável...


Olhem com atenção para a fotografia acima (cliquem na imagem). Não é de uma qualidade apreciável, mas é de uma raridade, de um momento quase único na História do Xadrez ! Olharam bem? Repararam? É que muito raramente poderiam ver uma foto como esta, ou quando muito, poderiam ver 60 fotos semelhantes. Querem saber porquê? Simples: 61 partidas foram as partidas que Bobby Fischer perdeu em toda a sua a sua carreira de xadrez oficial competitivo ( sem contar com o match de Sveti Stefan, com Spassky).


Mas...olhem uma vez mais. 0-1. Alguns espectadores, parecem não quer sair daquele lugar onde deveria ter acontecido qualquer coisa de estranho. Especados perante um tabuleiro vazio. Mas...olhem outra vez. Uma garrafa-termo a meio e abandonada por alguém que deveria ter saído do tabuleiro como foguetão num estado de irritação extrema. Do outro lado, um copo de água vazio, de alguém que no calor da luta foi bebericando lentamente para aplacar a sede e o stress de uma batalha de xadrez. Olhem bem...nenhum dos dos jogadores fumava . O relógio inexorável do jogador das Brancas, marcava a hora em que o deveria ter parado, apertado a mão ao adversário e saído disparado daquela mesa depois de assinar a folha de partida.


Mas...reparem bem, na placa identificativa dos jogadores: Fischer-USA- Internationaler Grossmeister . Do outro lado, ECUADOR, Muñoz, Meister.


Imaginemos só que entravam naquele momento no pavilhão onde se tinhas disputado aquela partida e nada sabiam. Imaginemos que tinham acesso a zona de jogo. Qual seria a vossa tendência? Claro! Trocar as placas numéricas que tem o 1 e 0 , ou seja, árbitro, ou alguém da organização enganou-se! Vamos lá repor a verdade e por as placas como dever ser 1:0


Pois...mas em alemão, alguém repetia mais alto do que o permitido numa sala ampla de torneio, “Aufgegeben”, Ja Fischer!” que era traduzido com alegria em língua hispânica “ Fischer se rindió”, “ Perdió Fischer, Munõz lo mató!” enquanto alguém incrédulo questionava : “ You are joking with me? Who are that Muñoz guy?” . Não, as placas do resultado estavam correctas. O jovem génio americano tinha perdido com um jogador completamente desconhecido de um país sem qualquer tradição escaquística. E o “Meister” não poderia enganar quem andava no mundo do Xadrez. O tal Muñoz era Mestre nacional do Equador, sem qualquer título da FIDE. Afinal, o que tinha acontecido? Um erro crasso de Fischer? Um “dia não” do futuro grande campeão? Ou...qualquer outra coisa?


O Fischer que perdeu com Muñoz na 2ª Jornada das preliminares das Olimpíadas de Leipzig, já era um Fischer de renome, e à sua volta congregavam-se as atenções da imprensa xadrezística e dos aficionados. Campeão dos EUA em 57-58, 5º lugar no Torneio Interzonal de Portoroz, Campeão dos EUA em 58-59, 3º lugar em Mar del Plata, 4º em Santiago do Chile, 3º em Zurique atrás de Tal e Gligoric, 5º no Torneio Zonal Bled-Zagreb-Belgrado em 1959, Campeão dos EUA 59-60, 1º exequo com Spassky em Mar del Plata 1960, 14º no Torneio Internacional de Buenos Aires de 1960 ( o pior resultado de Fischer na sua carreira), 1º num pequeno torneio em Reykjavik em 1960.


Claramente uma estrela em ascensão e claramente um Fischer a merecer o 1º tabuleiro da selecção americana que se apresentou em Leipzig, aliás, o que motivou a raiva de Reshevsky, que se recusou a participar no evento como 2º tabuleiro. Um Fischer que começa a fase preliminar destas Olimpíadas “despachando” o forte jogador romeno Ghitescu em apenas 14 lances. Um Fischer que na segunda jornada irá jogar de brancas contra o tal desconhecido e não titulado Cesar Muñoz do Equador. Então o que se passou? O que aconteceu? Que poderá estar por detrás desta partida interessantíssima?



Proponho outro olhar atento: Olhemos esta outra fotografia dos primeiros lances deste encontro Fischer-Muñoz.


Olhem bem. Repararam? De um lado um jogador profundamente concentrado imerso desde cedo na luta que se avizinha, talvez sabendo de antemão a superioridade do seu adversário, do outro...Fischer que olha o seu adversário entre o despreocupado e o “animal” que mais cedo ou mais tarde sabe que conseguirá a sua presa. Os espectadores, e muitos eram, desta partida, esperavam certamente o óbvio: “a degola do inocente”, ou seja, mais uma daquelas partidas brilhantes, claras, que caracterizavam o já jovem americano, principalmente com a abertura que desenhava no tabuleiro.


Como iremos ver, nada disso se passou! O Jogador equatoriano continuou concentradissimo toda a partida e Fischer acabou por ter de se aplicar a fundo numa partida muito complicada que acabou por perder. Parece que com o desenrolar da partida, eram cada vez mais os espectadores e jogadores que se aproximavam da mesa, e o silêncio pesado, enquanto os dois jogadores nem reparavam nesta azáfama! Partida intensa, dramática, no relato de quem a presenciou! Fischer estava pálido de morte ao assinar a folha de registo da partida e Muñoz radiante! A garrafa-termo com sumo de laranja que costumava acompanhar Fischer por esta altura, ali ficou, prova de um abandono rápido e em força do GM americano no fim da partida.


Teria Fischer subestimado o seu adversário ? Talvez. Sejamos honestos, Muñoz não era ninguém no mundo do Xadrez, era apenas um Mestre Nacional equatoriano com poucos torneios jogados, principalmente com grande inexperiência de jogos com fortes jogadores. Ainda por cima era amador, jovem Engenheiro recém formado. Numa época em que não existiam bases de dados, Net, nem sequer ainda Informator, nem a circulação de revistas de xadrez fosse comum, é natural que Fischer desconhecesse duas interessantes partidas jogadas por Muñoz, onde este jogador bateu duas promessas do xadrez em ascensão: Bent Larsen e Olafsson e isso aconteceu no Campeonato Mundial Universitário por equipas disputado na Islândia em 1957. Porventura também não conhecia o empate conseguido contra Lombardy, nesta mesma competição. Digo é natural, mas poderia dizer é provável, porque Fischer era um estudioso louco de xadrez e, todos sabemos como aprendeu russo e servo-croata para devorar os segredos de muitas revistas de xadrez da Europa de Leste.


Outro dado curioso para avaliar esta partida: Fischer nunca tinha perdido contra uma Dragão, tendo de todos os seus adversários , apenas um obtido um empate, ainda com “Fischer-ciança”. De todas as vitórias contra esta abertura, talvez a mais célebre foi contra Larsen, no Interzonal de Portoroz de 1959, partida extensamente comentada no “My 60 Memorable Games” com o título dado por Larry Evans de “Slaying The Dragon”. E aqui um fenómeno curioso: Fischer mesmo comentando esta partida à posteriori da partida jogada com Muñoz, não pode deixar de mostrar um profundo desprezo, eu diria, quase incorrecção xadrezística por esta abertura, quase exorcizando a derrota que teve com a Dragão do jogador equatoriano.

Ainda mais curioso é que Fischer tinha uma memória fabulosa e sobretudo uma capacidade de aprender com as derrotas que só os grandes campeões têm, e mais tarde, como Elie Agur mostra, vai utilizar jogadas de centralização da Dama no tabuleiro, tal como fez Munoz na partida que estamos a discutir! Vejamos os comentários de Fischer no seu livro à partida com Larsen a um 16º lance seu : “...agora senti que a partida estava no bolso se não a “atamancasse”. Tive dezenas de partidas rápidas com esta posição e tornei-a quase numa regra científica : Abrir a coluna h, sac, sac...mate! “ Na partida com Muñoz não houve sac,sac...mate, mas sim “cf, cf...quase mate”, o que significa c file por parte das negras!


Portanto, Fischer perdeu, e numa luta gigante em que claramente um xadrezista amador e desconhecido o “limpou” do tabuleiro. Tentei encontrar respostas para o resultado neste artigo, mas falta colocar uma questão central, que raramente se faz , quando um grande jogador perde uma partida, com um jogador muito menos cotado: Afinal, que força tinha o jogo de Cesar Munoz. Seria o seu amadorismo, e inexperiência internacional , sinal de fraqueza de jogo prático a nível da concepção estratégica, ou visão táctica do Xadrez ? Claramente não. Recorrendo ao Chessmetrics de 2005 de Jeff Sonas, com tudo o que de falível e subjectivo que isso possa ter, Muñoz na altura do jogo com Fischer deveria ter uma força de jogo calculada num Elo de 2480, e pelo que conheço das poucas partidas deste jogador equatoriano, aponto exactamente para essa força de jogo, ou seja, Muñoz não era um jogador de Clube, de 1ª Categoria, da casa dos 2100-2200 e a partida com Fischer, principalmente a partir de determinada altura mostra claramente que sabia o que estava a fazer e que possuía belas capacidades de cálculo de variantes.


Como se referiu Cesar Muñoz Vicuña a esta partida, depois da sua bela vitória? Com esta simplicidade, apesar de se notar nas suas palavras alguma petulância –pudera-tinha vencido aquele que já na altura muitos prognosticavam como futuro Campeão do Mundo :

“Respecto a la partida con el Gran Maestro Bobby Fisher, Campeón de Estados Unidos, debo manifestar que se realizó en un plano eminentemente lógico, con gran tensión en las jugadas, ya que la posibilidad era sumamente complicada y con chances iguales. "El Niño Prodigio" cometió un error estratégico en la décima quinta jugada, error que lo aproveche de inmediato. Fui adquiriendo posición superior, materializándose, hasta que lo obligué a las 35 jugadas a una posición totalmente perdida. Así cayó el Campeón Americano."


Como veremos na análise que farei da partida num artigo posterior, o erro grave de Fischer não foi ao 15º mas ao 14ºlance, e sobretudo, a vantagem de Munõz materializou-se segura não ao lance que indica, mas com um erro grave de Fischer ao 18º lance.


Afinal que foi Cesar Muñoz Vicuña? Aqui uma "alegriazinha":a minha “bíblia” onde vou verificar todos os dados dos jogadores importantes das 64 casas, com milhares e milhares de entradas, tem uma falha! Não reconhece Cesar Muñoz, o jogador não existe! Finalmente uma falha nesta livro formidável ( só nomes, datas e títulos de cada xadrezista) de Jeremy Gaige “ Chess Personalia” , da McFarland.


Jogador equatoriano, nascido em 1929, Engenheiro Civil de profissão, teve uma carreira xadrezista relativamente curta , ou seja de 1951 a 1969, ano em que abandonou definitivamente o xadrez para se dedicar a outras actividades, nomeadamente Presidente da FEDENADOR-Federação Desportiva Nacional do Equador, e do Comité Olímpico Equatoriano, onde desenvolveu um trabalho excelente e reconhecido. Hoje, já falecido, é uma espécie de memória- figura de proa da nação equatoriana conhecido e amado pelo seu povo. Embora seja mais conhecido pelo seu papel no futebol, quando lembrado, bem sempre à baila a sua brilhante vitória sobre Fischer no campo do Xadrez.


Homem de pequena estatura, de carácter firme, algo arrogante , tinha uma fé enorme nas suas capacidades xadrezisticas, chegando numa entrevista depois da vitória sobre Fischer a afirmar que na época da Olimpíada de Leipzig, estava apto a defrontar qualquer grande jogador, até porque já tinha derrotado alguns ( não é verdade: tinha derrotado Larsen, Olafsson, e empatado com Lombardy, apenas!). Apesar de curta a sua carreira xadrezista teve momentos interessantes e as suas partidas demonstram que Muñoz era um forte jogador, que poderia ter ido mais além não fosse o seu amadorismo e a sua vida multifacetada. Vejamos a sua partida com Larsen sem comentários. Impressionante o ataque do equatoriano!

Larsen,Bent - Munoz,Cezar [A39] WchT U26 04th Reykjavik (2.1), 1957


1.Nf3 Nf6 2.c4 c5 3.g3 g6 4.Bg2 Nc6 5.0–0 Bg7 6.d4 cxd4 7.Nxd4 0–0 8.Nc3 a6 9.h3 d6 10.Be3 Bd7 11.c5 d5 12.Nb3 Qc7 13.Qc1 Rad8 14.Rd1 Bc8 15.Bf4 e5 16.Bg5 Ne7 17.Na4 Be6 18.Kh2 Rfe8 19.Nb6 Ne4 20.Bxe4 dxe4 21.Nd2 f6 22.Be3 f5 23.Bg5 h6 24.Bxe7 Rxe7 25.Qc2 Rf8 26.Nf1 f4 27.g4 e3 28.Rd6 e4 29.Qxe4 Bf7 30.Qd3 exf2 31.Nd7 f3 32.Ng3 fxe2 33.Nxf8 e1Q 34.Rd8 f1N+ 0–1

ao 26...f4


32...fxe2

f1=C+ e mate que se vai seguir



Algumas Gravuras de Cesar Muñoz











Não queria terminar este artigo sem o dedicar a um GM com que tive o prazer de jogar, de aprender uma lição de xadrez e sobretudo de uma humildade, simpatia e forma de estar no xadrez que muito me apraz registar: obviamente refiro-me ao GM FRANCO MATAMOROS do Equador. Aliás ele já escreveu umas linhas curtas sobre Cesar Muñoz. Se alguém o conseguir contactar, transmitam-lhe esta homenagem.
Obrigado.

(num próximo artigo a Partida Fischer- Muñoz, com comentários tirados de várias fontes)

19/04/09

Um Livro... e João Cordovil


Trifunovitch, Petar , Fischer-Spassky ,Campeonato Mundial de Xadrez/1972, Editorial Presença, 1973, Revisão Técnica e Comentários de João Cordovil.

Muita gente da minha geração deve conhecer este livro. Um bom livro que relatava passo a passo as peripécias do célebre match de 1972 Fisher -Spassky. Acontece que no blogue Ala do Rei do Franscisco Vieira vai para um ano e tal e a propósito de um comentário do João Cordovil, resolvi escrever o seguinte, ao qual hoje, mais do que retirar uma vírgula, ainda teria outras a acrescentar! (o meu texto a azul)


"Mestre Cordovil, Até em pequenos pormenores mostramos a nossa imaturidade afectiva como Povo , e um deles é sermos miseravelmente desm
emoriados, mal agradecidos e arrogantes quando o queremos no esquecimento! Então no Xadrez, somos muitas vezes de uma mesquinhez de esquina paroquial , de um revanchismo e sobretudo de um desamor a quem faz alguma coisa pelo xadrez, que sempre me impressionou !

Talvez não o saiba, mas…se sou jogador de xadrez, a
si o devo! E devo-o, porque durante o Match Fischer-Spassky, a presença do Cordovil na RTP era obrigatória, apesar de eu mal saber mexer as peças, no meu imaginário inicial do xadrez. E era-o, porque a forma como transmitia a informação, como catalizava-cativava pedagógica e televisivamente as peripécias das partidas , era verdadeiramente emocionante! Um comunicador nato. E sem querer e sem você saber, foi o causador de me ter desinteressado dos imensos bilhares do Café Palladium, e começar a interessar-me por duas salas maravilhosas nesse mesmo Café: a sala do FCPorto e a do GXPorto. Começou aqui esta paixão sem limites, este bruxedo de Caissa que não me larga! Como vê: EU LEMBRO-ME! Mas lembro-me também de muitos das suas crónicas-comentários à poucos anos na RDP e como sempre um modelo de como comunicar xadrez radiofonicamente!

E sobretudo, tenho um pequeno livro, um dos meus Primeiros Livros de
Xadrez , a par do meu “bloquinho” Xadrez Básico , que comprei enganando a minha santa mãe, pedindo-he dinheiro para a escola quando o era para um livro que tinha na capa ” Revisão Técnica e Comentários de João Cordovil” e na contra . ” A Revisão Técnica de João Cordovil confere ao Livro a garantia de uma edição cuidada” E Tinha mesmo! O livro para o ano de 1973 era excelente e a sua revisão técnica não o é menos! Petar Trifunovitch” Fischer-Spassky-Campeonato Mundial de Xadrez 1972″ da Editorial Presença. Guardo-o Tesouro precioso, e sobretudo guardo-o pela qualidade e pelas páginas 167-169, que são de um Cordovil que sei que é Cordovil e não do Cordovil estereótipo engendrado em certos salões xadrezísticos, por confusão entre o jogador competição Cordovil e um dos grandes divulgadores e homens do xadrez Português-Mestre João Cordovil. E para que a comunidade deste blogue o saiba e o leia e, ainda por cima, com uma prosa de uma qualidade fantástica, aí vai o seu texto.

Caro e amigo Cordovil, desculpe a minha ousadia e transcrição - se quiser mande-me prender, mas como vê, este humilde “filósofo” do xadrez (o que é isso?!)tem por hábito, vocação e coração, não esquecer o que de bom se foi fazendo no xadrez português e sobretudo, saber reconhecer as pessoas que, doa a quem doer, vão ficar na História do Xadrez Português. E o Mestre Cordovil, vai ficar, aliás está, indelevelmente ligado à História do Xadrez Português e a uma parte muito boa do mesmo!

Sabe Mestre Cordovil, habituei-me mesmo nas conversas mais informais de Clube de Sábado de Tarde, a ter um “respeito sagrado por alguns nomes do xadrez português, porque sei História, porque tenho memória, porque tenho valores que jamais abdicarei e sobretudo, porque não quero morrer estúpido!

Caro Mestre Cordovil, desde 1972 que “dei por isso” , como muitos jogadores de xadrez da minha geração ( cinquentões) deram , mas por esta ou aquela razão, não o querem confessar.

Um abraço

Arlindo Vieira

“Foi uma aventura arriscada e imprevisível meter-me no”match” Spassky - Fischer, tal como o fiz publicamente, tanto no jornal (Diário Popular) como na Televisão.Dormir apenas do meio-dia às seis da tarde durante mais de mês e meio, para que a informação estivesse actualizada dando tudo o que poderia dar profissionalmente, tendo apenas como base os conhecimentos de xadrez, pois desconhecia por completo os métodos e funcionamentos dos órgãos de informação, são tarefa ingrata e difícil, apesar de aliciante. Contudo, isso resultou, e o esforço físico ou técnico exigido foram plenamente compensados em muitas coisas, entre as quais o próprio sabor do risco.



Falhar e ganhar. Aprender e melhorar. Situações de grande responsabilidade vencidas ou comprometidas, de tudo uma experiência humana impagável, ou a vida de um fósforo, para a qual antes conta aquele momento sublime depois é trevas…

Serve apenas isto para pagar um juramento, não fosse eu homem, sujeito ou não aos pecados da espécie, mas com um sentido intransigente de honestidade.



Antes de mais, a minha entrada no acontecimento foi o acaso de uma revolta. Fortuita e distante, mas justa. É testemunha disso, e foi quem pôs a girar toda a esfera, o jornalista Joaquim Teixeira.




O resto, bem, o resto, deve-o à boa vontade de compreensão de amigos os e chefes, que não esmoreceram o seu incentivo durante toda a jornada. Aqui vai, apenas abrangendo os mais responsáveis os meus agradecimentos à equipe directiva do nosso jornal com que mais de perto lidei, Fernando Teixeira, Jacinto Baptista, Abel Pereira e Viriato Mourão. Agradecimentos muito incompletos. Vai um abraço também para o Mensurado, para o Rebordão e para o Ruas, no referente à R.T.P. Mas é altura de pôr no seu devido lugar as pessoas que embora não tivessem forçado o acontecimento moldaram o homem, e esse é que fica para além de tudo o que seja fútil e passageiro.




Devo ser feliz, porque tenho seis amigos fixes que contribuíram para o caso, E só eles o conservaram irreversível. Refiro-me ao Dr. Joaquim Gomes Motta, ao Carlos Veiga, ao Dr.Rudolfo Lavrador, ao Jorge Cavalleri, ao Guilherme Rosa e ao Luís. Únicos críticos por que me guiei. Seria agora injusto não referir que aquilo que se passou na televisão, em que se sente mais do que nunca, nas emissões directas, o peso da responsabilidade, foi principalmente devido(ou disfarçado) à camaradagem e conselhos (e amizade) dos profissionais da locução, que comigo entravam no estúdio, dia a dia.




Sobre o livro, seria uma vergonha não ser publicado em português uma versão categorizada sobre o «match», depois de toda a divulgação que teve. Nem eu deixaria passar a oportunidade de um grande-mestre jugoslavo rectificar tudo aquilo que «em cima da hora» fora errada ou parcialmente divulgado, no referente aos aspectos técnicos.



Poderia fazer este trabalho para outras editoras, e talvez em melhores condições. Estou satisfeito em o fazer para estas pessoas. Nada para mim conta mais do que os factores humanos, e se alguém mais criticou o primeiro livro de xadrez desta casa fui eu. A concordância das críticas, e o espírito construtivo que encontrei, foi o bastante para me convencer com aqueles que afinal tiveram a coragem de se meter nesta especialidade, sem. se cingirem aos aspectos comerciais de momento, mas com vontade de continuar. A parte referente ao «match» foi, baseado nas directrizes do grande-mestre jugoslavo, aumentada e modernizada, de forma a proporcionar a todo o nosso público um sentido exacto das peripécias do encontro, em linguagem acessível, sem o obrigar(ou massacrar) a excessivos conhecimentos técnicos, particularmente nas aberturas.

Este livro era para nós uma obrigação. Confiamos na compreensão e no êxito.”
JOÃO CORDOVIL



Para terminar duas fotos do João Cordovil. Uma, mais actual e excelente da ex InfoXadrez, a outra...bem, a outra do meu arquivo e que tem uma particularidade notável, mostra também o seu grande rival escaquístico, e também figura que muito prezo no xadrez português!

Esta foto mais antiga... onde? Não digo.