Uma emoção forte ao ler na Luso Xadrez o formidável texto do Walter que o Russo recuperou de 2004 ( e que teve a amabilidade e generosidade do mo colocar mos comentários ao meu post). Nele, depois do seu belíssimo texto O Walter agradece as minhas palavras sobre o que se tinha passado no Hall do Novotel em Gaia em Gaia, nesse Nacional da 1ª Divisão por equipas. E o que se tinha passado, foi muito simples: um dirigente de um Clube presente na competição, nosso companheiro de cavaqueira naquele momento, acabara de confessar numa angústia enorme a dor que o inundava depois da morte da esposa, ainda mulher relativamente jovem, uns dias ou semanas antes. O Walter foi inexcedível nas palavras de conforto e incentivo ao colega, sempre numa serenidade e percepção terna da vida como raramente presenciei. Depois, na Luso Xadrez, fiz um relato do Torneio em que afirmei que nessa competição só duas coisas valeram a pena: a dor do colega e o xadrez como conforto e o ter conhecido o Walter Tarira em pessoa. O que escrevi sobre o Walter mantêm-se mais premente do que nunca. Ficarei sempre dele com a imagem que dele retirei, a minha imagem, o "meu" Walter Tarira.
Ao fim de muitos anos de xadrez… Conheci um “fauno” pleno de jovialidade, de “sagesse”, de categoria de saber pensar com inteligência - sensibilidade. Talvez dos raras personagens de xadrez que conheci que alia a não seriedade à seriedade das coisas da vida e do mundo, como elas devem ser encaradas! O sério no não-sério! Regalava-me com muitos dos seus escritos na Luso Xadrez”, regalei-me com hora e tal de conversa com o “fauno”! Tão humano, tão deliciosamente humano, que com quase 50 anos de vida e fascinar-me com uma pessoa, é obra! Não digo quem… digamos que é um tal WT (porra, parecem as iniciais de um automóvel!), raçado de deus (naquilo que um deus de letra minúscula tem de terreno) e humano (naquilo que um Humano com letra maiúscula, tem de deus). Uma dúvida: teriam os faunos grisalha barba? Uma dúdiva: Os óculos aumentam-lhe a visão humorística do mundo?
E ainda, o mais importante! Apetecia-me “borrar” toda a borrada que escrevi antes do penúltimo parágrafo! Nada tem importância, nada para mim conta, porque senti a dor de um Homem do Xadrez. Juro-vos pela minha alma ( e isto escrito, perde o que sinto e como tal se calhar não o deveria escrever) que estou triste , profundamente triste! O meu lado a Oeste de mim está comovido sem remissão, porque alguém do xadrez, naquela sala ,naquela confusão, naquele burburinho, naquele cadinho de emoções aos quadradinhos, estava a sofrer terrivelmente com um drama pessoal terrível, trágico e doloroso. Surgiu natural de uma conversa em trio, a notícia, o “murro de boxeur” na boca do estômago, o ficar sem fôlego perante o sofrimento em gente! Eu e o WT, sem estratégia que nos valesse! Algumas palavras belíssimas de conforto do WT, mas a dor aferrada no olhar, nos gestos, na alma da nossa terceira personagem! Ali, um Homem, um Colega de Profissão, um Xadrezista, dor em gente e nós nus de palavras, porque supérfluas. Ali sim o que interessava, nada mais! Separamo-nos, o WT, para o seu destino quilométrico a esperar, eu para os meus head-phones e o reconforto do “Blue” da Joni Mitchell. Deu-me os parabéns, que escrevia bem, mas saberei eu ser? Terei eu lugar neste individualismo estratégico xadrezístico, onde por vezes se tratam pessoas como peças de xadrez, e se quer alcandorar um jogo à qualidade e essência da vida? Não o conhecia pessoalmente, não tive a coragem daquele abraço solidário invasivo daquela dor solitária. Não interessa quem é, nem ele quereria que se soubesse! Aconteceu tudo numa breve hora de uma jornada final de um Nacional por equipas, num qualquer hotel de Gaia. (...)
Escrito pela madrugada dentro, comovido a Oeste, pacificado a Este de Mim no dia 11 de Agosto de 2004 "
Foto ( das melhores do Walter) "roubada", ele não se importará certamente, ao belo Blogue do João Fernandes Santos "Fotografia e Xadrez"