Trifunovitch, Petar , Fischer-Spassky ,Campeonato Mundial de Xadrez/1972, Editorial Presença, 1973, Revisão Técnica e Comentários de João Cordovil.
Muita gente da minha geração deve conhecer este livro. Um bom livro que relatava passo a passo as peripécias do célebre match de 1972 Fisher -Spassky. Acontece que no blogue Ala do Rei do Franscisco Vieira vai para um ano e tal e a propósito de um comentário do João Cordovil, resolvi escrever o seguinte, ao qual hoje, mais do que retirar uma vírgula, ainda teria outras a acrescentar! (o meu texto a azul)
"Mestre Cordovil, Até em pequenos pormenores mostramos a nossa imaturidade afectiva como Povo , e um deles é sermos miseravelmente desmemoriados, mal agradecidos e arrogantes quando o queremos no esquecimento! Então no Xadrez, somos muitas vezes de uma mesquinhez de esquina paroquial , de um revanchismo e sobretudo de um desamor a quem faz alguma coisa pelo xadrez, que sempre me impressionou !
Talvez não o saiba, mas…se sou jogador de xadrez, a si o devo! E devo-o, porque durante o Match Fischer-Spassky, a presença do Cordovil na RTP era obrigatória, apesar de eu mal saber mexer as peças, no meu imaginário inicial do xadrez. E era-o, porque a forma como transmitia a informação, como catalizava-cativava pedagógica e televisivamente as peripécias das partidas , era verdadeiramente emocionante! Um comunicador nato. E sem querer e sem você saber, foi o causador de me ter desinteressado dos imensos bilhares do Café Palladium, e começar a interessar-me por duas salas maravilhosas nesse mesmo Café: a sala do FCPorto e a do GXPorto. Começou aqui esta paixão sem limites, este bruxedo de Caissa que não me larga! Como vê: EU LEMBRO-ME! Mas lembro-me também de muitos das suas crónicas-comentários à poucos anos na RDP e como sempre um modelo de como comunicar xadrez radiofonicamente!
E sobretudo, tenho um pequeno livro, um dos meus Primeiros Livros de Xadrez , a par do meu “bloquinho” Xadrez Básico , que comprei enganando a minha santa mãe, pedindo-he dinheiro para a escola quando o era para um livro que tinha na capa ” Revisão Técnica e Comentários de João Cordovil” e na contra . ” A Revisão Técnica de João Cordovil confere ao Livro a garantia de uma edição cuidada” E Tinha mesmo! O livro para o ano de 1973 era excelente e a sua revisão técnica não o é menos! Petar Trifunovitch” Fischer-Spassky-Campeonato Mundial de Xadrez 1972″ da Editorial Presença. Guardo-o Tesouro precioso, e sobretudo guardo-o pela qualidade e pelas páginas 167-169, que são de um Cordovil que sei que é Cordovil e não do Cordovil estereótipo engendrado em certos salões xadrezísticos, por confusão entre o jogador competição Cordovil e um dos grandes divulgadores e homens do xadrez Português-Mestre João Cordovil. E para que a comunidade deste blogue o saiba e o leia e, ainda por cima, com uma prosa de uma qualidade fantástica, aí vai o seu texto.
Caro e amigo Cordovil, desculpe a minha ousadia e transcrição - se quiser mande-me prender, mas como vê, este humilde “filósofo” do xadrez (o que é isso?!)tem por hábito, vocação e coração, não esquecer o que de bom se foi fazendo no xadrez português e sobretudo, saber reconhecer as pessoas que, doa a quem doer, vão ficar na História do Xadrez Português. E o Mestre Cordovil, vai ficar, aliás está, indelevelmente ligado à História do Xadrez Português e a uma parte muito boa do mesmo!
Sabe Mestre Cordovil, habituei-me mesmo nas conversas mais informais de Clube de Sábado de Tarde, a ter um “respeito sagrado” por alguns nomes do xadrez português, porque sei História, porque tenho memória, porque tenho valores que jamais abdicarei e sobretudo, porque não quero morrer estúpido!
Caro Mestre Cordovil, desde 1972 que “dei por isso” , como muitos jogadores de xadrez da minha geração ( cinquentões) deram , mas por esta ou aquela razão, não o querem confessar.
Um abraço
Arlindo Vieira
“Foi uma aventura arriscada e imprevisível meter-me no”match” Spassky - Fischer, tal como o fiz publicamente, tanto no jornal (Diário Popular) como na Televisão.Dormir apenas do meio-dia às seis da tarde durante mais de mês e meio, para que a informação estivesse actualizada dando tudo o que poderia dar profissionalmente, tendo apenas como base os conhecimentos de xadrez, pois desconhecia por completo os métodos e funcionamentos dos órgãos de informação, são tarefa ingrata e difícil, apesar de aliciante. Contudo, isso resultou, e o esforço físico ou técnico exigido foram plenamente compensados em muitas coisas, entre as quais o próprio sabor do risco.
Falhar e ganhar. Aprender e melhorar. Situações de grande responsabilidade vencidas ou comprometidas, de tudo uma experiência humana impagável, ou a vida de um fósforo, para a qual antes conta aquele momento sublime depois é trevas…
Serve apenas isto para pagar um juramento, não fosse eu homem, sujeito ou não aos pecados da espécie, mas com um sentido intransigente de honestidade.
Antes de mais, a minha entrada no acontecimento foi o acaso de uma revolta. Fortuita e distante, mas justa. É testemunha disso, e foi quem pôs a girar toda a esfera, o jornalista Joaquim Teixeira.
O resto, bem, o resto, deve-o à boa vontade de compreensão de amigos os e chefes, que não esmoreceram o seu incentivo durante toda a jornada. Aqui vai, apenas abrangendo os mais responsáveis os meus agradecimentos à equipe directiva do nosso jornal com que mais de perto lidei, Fernando Teixeira, Jacinto Baptista, Abel Pereira e Viriato Mourão. Agradecimentos muito incompletos. Vai um abraço também para o Mensurado, para o Rebordão e para o Ruas, no referente à R.T.P. Mas é altura de pôr no seu devido lugar as pessoas que embora não tivessem forçado o acontecimento moldaram o homem, e esse é que fica para além de tudo o que seja fútil e passageiro.
Devo ser feliz, porque tenho seis amigos fixes que contribuíram para o caso, E só eles o conservaram irreversível. Refiro-me ao Dr. Joaquim Gomes Motta, ao Carlos Veiga, ao Dr.Rudolfo Lavrador, ao Jorge Cavalleri, ao Guilherme Rosa e ao Luís. Únicos críticos por que me guiei. Seria agora injusto não referir que aquilo que se passou na televisão, em que se sente mais do que nunca, nas emissões directas, o peso da responsabilidade, foi principalmente devido(ou disfarçado) à camaradagem e conselhos (e amizade) dos profissionais da locução, que comigo entravam no estúdio, dia a dia.
Sobre o livro, seria uma vergonha não ser publicado em português uma versão categorizada sobre o «match», depois de toda a divulgação que teve. Nem eu deixaria passar a oportunidade de um grande-mestre jugoslavo rectificar tudo aquilo que «em cima da hora» fora errada ou parcialmente divulgado, no referente aos aspectos técnicos.
Poderia fazer este trabalho para outras editoras, e talvez em melhores condições. Estou satisfeito em o fazer para estas pessoas. Nada para mim conta mais do que os factores humanos, e se alguém mais criticou o primeiro livro de xadrez desta casa fui eu. A concordância das críticas, e o espírito construtivo que encontrei, foi o bastante para me convencer com aqueles que afinal tiveram a coragem de se meter nesta especialidade, sem. se cingirem aos aspectos comerciais de momento, mas com vontade de continuar. A parte referente ao «match» foi, baseado nas directrizes do grande-mestre jugoslavo, aumentada e modernizada, de forma a proporcionar a todo o nosso público um sentido exacto das peripécias do encontro, em linguagem acessível, sem o obrigar(ou massacrar) a excessivos conhecimentos técnicos, particularmente nas aberturas.
Este livro era para nós uma obrigação. Confiamos na compreensão e no êxito.”
JOÃO CORDOVIL
Para terminar duas fotos do João Cordovil. Uma, mais actual e excelente da ex InfoXadrez, a outra...bem, a outra do meu arquivo e que tem uma particularidade notável, mostra também o seu grande rival escaquístico, e também figura que muito prezo no xadrez português!
Esta foto mais antiga... onde? Não digo.
João Cordovil e Joaquim Durão são provavelmente os dois grandes da difícil História do Xadrez em Portugal. Pena que nenhum dos dois tenha passado ao papel as muitas histórias que certamente teriam para contar...
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