Escrevo tanto sobre outros no
xadrez, que me esqueço de mim, bem…não será bem assim porque já mostrei neste
blogue como fui um jogador fraquinho, já mostrei partidas minhas com o Ochoa, o
Martinho, em que fui literalmente
reposto na horta do xadrez, onde não saí de nabo, e como no final de um
nacional absoluto e único me apercebi que estava a perder tempo em demasia com
o xadrez, numa ambição sem nexo, que sabia impossível atingir. Alguma coisa me
dizia…fica-te por aqui, fica-te por aqui, aproveita o tempo que gastas no
xadrez para outras coisas mais importantes que o xadrez. Assim fiz, recolhi-me
ao templo de saber que não iria a lado nenhum, e curiosamente outro começou a
surgir ligado a um lado pouco amado e conhecido do xadrez: o colecionismo.
Templo de paixão que se mantêm intacto vai para 40 anos.
Esta foto é simples e descobri-a
há dias num caixa de plástico com muitos anos. Péssima qualidade, de uma
daquelas Pocket 110 de rolo, mas que me
causou uma emoção profunda e conseguir por o lado memorialístico e emocional do
meu cérebro a funcionar.
Reconheci-os logo: jovens que
eram, jogadores de cartas de bisca lambida ( e ainda bem, porque as cartas
vieram a destruir muitas vidas futuras de malta do xadrez, acreditem! Bem... parece que no passado também), percebi logo o local e porque ali estavam,
estávamos.
Mata do Jamor – Centro de Estágio
– Preliminar do Campeonato Nacional Absoluto de 1978 que se jogou nas
instalações magníficas da Móbil Portuguesa em Lisboa de 6 a 15 de Agosto. O
Centro de estágio era a casa de acolhimento do pessoal não “capitalizado” e não
tive, nem tivemos razões de queixa.
Como não reconhece-los? O JOSÉ
AZEVEDO (Espinho), o ANTÓNIO FERREIRA (Guarda), o LUÍS QUARESMA, O FERNANDO
CASTRO , O NELSON SIMÕES ( Leiria, mas não tenho a certeza) e também sem
certeza, o ANTÓNIO CAMPOS-ou FREDERICO FERREIRA
A todos o torneio correu muito
mal, tal como correu ao Firmino, ao Rodolfo Lavrador, ao meu amigo de F.C.Porto
– José Abrunhosa, ao Vítor Morais , mas por acaso ao António Ferreira e a mim
correu-nos bem porque ocupamos o 10º e 11º lugar que por impossibilidade do Palhares, de um dos Pereira dos Santos me
levou à final do XXXIII campeonato Nacional disputado em S. João da Madeira de
excecional organização e do qual já muito escrevi neste blogue.
Não joguei nada mal. Em 9 jornadas
apenas perdi com quem haveria de ser…com o António Fernandes, no que poderia
ter ficado para a minha história pessoal xadrezista: uma vitória arrasadora com quase mate e tudo, mas perdi…temos pena! Empatei numa partida
interessantíssima com o Luís Santos, o vencedor, empatei com o António Ferreira
e obtive algumas vitórias fruto da teoria, melhor de ter marrado montes de
teoria. Antes desta preliminar, quase tinha devorado o Livro de Euwe sobre as
defesas Indias, o do Cherta sobre a Paulsen, e andava doido com o a3 na
Nimzoíndia. Tudo decorado a esmo, a martelo, sem compreensão de nada, com umas
armadilhas pelo meio e tudo em que um ou outro meu adversário caiam e me davam
a vitória quase de caras. Claro…valeu-me de um grosso esta metodologia no
Nacional Absoluto, ou melhor valeu…batata de todo o tipo e feitio.
Que bom ter encontrado esta foto:
Que bom hoje nos nossos cabelos brancos saber que já os tivemos escuros e que
se calhar o xadrez e a paixão do xadrez continuam intactas como naquele Agosto
de 78. Do Azevedo, do Castro, do António Ferreira sei que estão bem, e os
outros? Quando olhei para a foto a ternura foi enorme, como enorme a prece de
estarem vivos e de saúde. Devo tanto a esta miudagem da altura! Muita da minha
construção como homem passou pela construção xadrezística que o contato humano
me proporcionou, nem que fosse nas memórias longínquas, mas sempre afetivas de
hoje. Obrigado, Amigos do Xadrez.
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