De Mestre Machado, a um dos nossos mais novos jogadores...
Tive algumas reticências em escrever este post. Cada vez me convenço mais que de louvores "anda o mundo cheio" e em particular de laudas desmesuradas a jovens que por tudo ou por nada são etiquetados de génios, ou talentos natos, quando nem embriões disso se apresentam.
Existem alguns casos passados do xadrez nacional em que jovens xadrezistas foram quase levados ao estrelato, pela entrevista televisiva ou pequeno documentário xadrezistico de Telejornal, na assumpção de que estaríamos perante "geniozinhos" do xadrez, ou no menor, de enormes talentos, futuros GM, quando quem anda nos meandros do xadrez, sabia, sabe ,que isso não tinha a mínima consistência, pois no actual estado da evolução do xadrez mundial, aos 12, 13, 14 anos ter entre 2200 e 2500 começa a ser comum, e quer se queria quer não, a forja, onde sairão futuros Grandes Mestres. Como e a que custos, daria um longo e filosófico artigo.
Tenho por opinião que um miúdo, um jovem, na arte, ou no desporto, mais do que parangonas jornalísticas, precisa sim de incentivo ao trabalho árduo e continuado, à aprendizagem pela auto-crítica, ao estudo, e não menos, à humildade de se ser menos para se querer sempre mais!
Ao longo da minha vida de xadrez, assisti a atitudes e comportamentos de miúdos, que mais pareciam de "prima-donna", arborados em grandes jogadores, malcriados, birrentos, muitas vezes incentivados por pseudo jogadores-treinadores falhados a querem projectar -se psicanaliticamente nos seus jovens jogadores, ou por pais famintos de rebento famoso, ou vencedor à força!
Assim , importantíssimo para um miúdo no xadrez, o enquadramento familiar (o que quero do Xadrez para o meu miúdo, o que pode dar o Xadrez ao meu miúdo) e a própria dinâmica da instituição/clube a que pertence, sem deixar de referir esse eixo fundamental que tanto pode ser um factor de crescimento, como de estagnação, ou mesmo abandono da modalidade - o treinador.
Estou à vontade. O meu GX Porto tem feito um trabalho meritório com a miudagem, salvaguardando sempre o lado formativo do xadrez em primeiro lugar, a importância do Clube na História do Xadrez Português, não abdicando do lado competitivo como é evidente, mas só quando os miúdos mostram interesse e maturidade para isso. Não temos centenas de miúdos para as estatísticas, ou para impressionar autarquia, ou seja, praticamos uma política de formação em que impera a verdade, e o de sabermos o que queremos e ao que vamos.
No caso do "miúdo" deste artigo, conhecendo os Pais, também sei os muitos sacrifícios que o xadrez lhes tem pedido, mas também sei, o quanto respeitam a individualidade dos filhos e sobretudo procuram o equilíbrio entre o xadrez, a escola e a "arte" de ser miúdo.
No G. X. Porto, chamamos-lhe o "Nosso Miúdo", apesar dos seus onze anos. Campeão Regional, Nacional, e com futuro no xadrez, se a ele se quiser dedicar.
O André Ventura Sousa.
Não é um génio do xadrez, não é um talento extraordinário do xadrez. É simplesmente um miúdo que adora o xadrez, que tem uma combatividade assinalável no tabuleiro, tendo em conta a sua idade, e que se descontarmos as contingências do xadrez nacional, (falta de apoios, competitividade, etc., etc) joga mesmo muito bem , conforme os escalões que tem palmilhado. É sem dúvida um miúdo com uma margem de progressão bem vincada e que poderá com grande dedicação tornar-se no espaço de anos um jogador em progressão até à casa dos 2200. A partir daí...veremos.
Acolhi-o, tal como ao irmão, o Nuno Ventura de Sousa, na sala do GXPorto no ido ano de 2005. Ensinei-lhes os primeiros rudimentos de estratégia xadrezista, fui-lhes mostrando alguma da beleza escondida em alguns golpes tácticos no xadrez, "massacrei-os" com mates elementares e um ou outro final básico e, desde logo, se notava uma aptência especial do André para o Xadrez.
Com 5 anos, mostrava já nas sessões de treino uma atenção assinalável ( tal como o irmão - Ah! A importância da música!) e um interesse muito visível pela resolução dos problemas no tabuleiro. Não desistia à primeira e não raro ficava "chateado" por não descobrir o lance, ou a solução à questão proposta. Quase não chegava à mesa, mas a pernita por baixo do rabiote lá servia de almofada elevatória. O seu irmão Nuno, mostrava igualmente uma capacidade de atenção e assimilação do xadrez que o colocava um pouco acima dos meus outros alunos.
Via-se que o "miúdo" tinha pinta, e sobretudo que gostava do Xadrez. Aqui e ali, uma faltas ao treino, porque a Música ocupa um lugar cimeiro na vida destes miúdos ( o Nuno começa a ser um caso sério no Piano ), mas quando estavam, era um gosto vê-los jogar entre eles, ou no tabuleiro gigante, degladiarem-se em equipas de três ou quatro contra quatro.
Na Direcção, eu, mas particularmente o Rogério, com uma perspectiva bem larga e pedagógica sobre estes miúdos. Ainda era cedo! Ainda não a competição. Era preciso consistência, amadurecimento, calma. Poderíamos perder o André e o Nuno para o Xadrez, se os atirássemos precipitadamente para a competição. Sempre e primeiro a formação, o saber estar num tabuleiro, o saber apontar uma partida, o carregar num relógio, o saber estar com um adversário. Os títulos em miúdos têm de ser consequência de e não objectivo primordial para, como sempre defendemos nas nossas reuniões de Direcção.
Valeu a pena a espera. No ano seguinte, via-se um André Sousa mais jogador, mais concentrado, e sobretudo, mais cativado para o xadrez. Depois foi o trabalho com outros colegas que o foram treinando, foi a sua chamada serena a jogos por equipas na equipa C ou D, foi a aprendizagem com as derrotas, foi a cativação cada vez maior que as vitórias e os títulos foram trazendo.
Simples e clara a sua caminhada no xadrez que ainda agora culminou com títulos regionais, nacionais e com um esplêndido 5º lugar no Campeonato da Juventude da União Europeia - Sub10, que aliás podia ter ganho.
Hoje sei quem no GXPorto treina o André, (e muito bem!) e, longe de mim dar palpites, sobre o que fazer para o André continuar na senda do progresso. Apenas e só uma certeza tenho: é com trabalho demorado de tabuleiro, com forte sentido de auto-crítica no estudo das próprias partidas, sem vedetismos vãos, e sobretudo com o computador como meio e não como fim, que esse progresso irá continuar.
Depois outro trabalho será preciso: este mais complicado, porque o André ainda é muito novo: instilar no "Nosso Miúdo", o gosto pelo GXPorto, o espírito do GXPorto, porque apesar de sermos um Clube pobre, temos essa riqueza de 71 anos de vida!
Agora duas partidas do André de que gosto particularmente. A primeira com o austríaco Floriam Mesaros ( No Flsh está erradamente Húngaro) à altura com 1825 de pontuação Elo, em que o "Nosso Miúdo" parece ter percebido a ideia da Siciliana Dragão e vai calmamente parando ataques hipotéticos das Brancas, com um contra-ataque avassalador. Aqui e ali, alguns esquecimentos tácticos, não invalidam a bela partida do André, apesar da sua idade.
Na 2ª partida, também com o austríaco Jioung Wuo André joga mais calmo , mais posicional, e aos poucos vai construindo uma posição de clara superioridade posicional alicerçada num peão passado e num Cavalo claramente superior ao Bispo negro.
Tive algumas reticências em escrever este post. Cada vez me convenço mais que de louvores "anda o mundo cheio" e em particular de laudas desmesuradas a jovens que por tudo ou por nada são etiquetados de génios, ou talentos natos, quando nem embriões disso se apresentam.
Existem alguns casos passados do xadrez nacional em que jovens xadrezistas foram quase levados ao estrelato, pela entrevista televisiva ou pequeno documentário xadrezistico de Telejornal, na assumpção de que estaríamos perante "geniozinhos" do xadrez, ou no menor, de enormes talentos, futuros GM, quando quem anda nos meandros do xadrez, sabia, sabe ,que isso não tinha a mínima consistência, pois no actual estado da evolução do xadrez mundial, aos 12, 13, 14 anos ter entre 2200 e 2500 começa a ser comum, e quer se queria quer não, a forja, onde sairão futuros Grandes Mestres. Como e a que custos, daria um longo e filosófico artigo.
Tenho por opinião que um miúdo, um jovem, na arte, ou no desporto, mais do que parangonas jornalísticas, precisa sim de incentivo ao trabalho árduo e continuado, à aprendizagem pela auto-crítica, ao estudo, e não menos, à humildade de se ser menos para se querer sempre mais!
Ao longo da minha vida de xadrez, assisti a atitudes e comportamentos de miúdos, que mais pareciam de "prima-donna", arborados em grandes jogadores, malcriados, birrentos, muitas vezes incentivados por pseudo jogadores-treinadores falhados a querem projectar -se psicanaliticamente nos seus jovens jogadores, ou por pais famintos de rebento famoso, ou vencedor à força!
Assim , importantíssimo para um miúdo no xadrez, o enquadramento familiar (o que quero do Xadrez para o meu miúdo, o que pode dar o Xadrez ao meu miúdo) e a própria dinâmica da instituição/clube a que pertence, sem deixar de referir esse eixo fundamental que tanto pode ser um factor de crescimento, como de estagnação, ou mesmo abandono da modalidade - o treinador.
Estou à vontade. O meu GX Porto tem feito um trabalho meritório com a miudagem, salvaguardando sempre o lado formativo do xadrez em primeiro lugar, a importância do Clube na História do Xadrez Português, não abdicando do lado competitivo como é evidente, mas só quando os miúdos mostram interesse e maturidade para isso. Não temos centenas de miúdos para as estatísticas, ou para impressionar autarquia, ou seja, praticamos uma política de formação em que impera a verdade, e o de sabermos o que queremos e ao que vamos.
No caso do "miúdo" deste artigo, conhecendo os Pais, também sei os muitos sacrifícios que o xadrez lhes tem pedido, mas também sei, o quanto respeitam a individualidade dos filhos e sobretudo procuram o equilíbrio entre o xadrez, a escola e a "arte" de ser miúdo.
No G. X. Porto, chamamos-lhe o "Nosso Miúdo", apesar dos seus onze anos. Campeão Regional, Nacional, e com futuro no xadrez, se a ele se quiser dedicar.
O André Ventura Sousa.
Não é um génio do xadrez, não é um talento extraordinário do xadrez. É simplesmente um miúdo que adora o xadrez, que tem uma combatividade assinalável no tabuleiro, tendo em conta a sua idade, e que se descontarmos as contingências do xadrez nacional, (falta de apoios, competitividade, etc., etc) joga mesmo muito bem , conforme os escalões que tem palmilhado. É sem dúvida um miúdo com uma margem de progressão bem vincada e que poderá com grande dedicação tornar-se no espaço de anos um jogador em progressão até à casa dos 2200. A partir daí...veremos.
Acolhi-o, tal como ao irmão, o Nuno Ventura de Sousa, na sala do GXPorto no ido ano de 2005. Ensinei-lhes os primeiros rudimentos de estratégia xadrezista, fui-lhes mostrando alguma da beleza escondida em alguns golpes tácticos no xadrez, "massacrei-os" com mates elementares e um ou outro final básico e, desde logo, se notava uma aptência especial do André para o Xadrez.
Com 5 anos, mostrava já nas sessões de treino uma atenção assinalável ( tal como o irmão - Ah! A importância da música!) e um interesse muito visível pela resolução dos problemas no tabuleiro. Não desistia à primeira e não raro ficava "chateado" por não descobrir o lance, ou a solução à questão proposta. Quase não chegava à mesa, mas a pernita por baixo do rabiote lá servia de almofada elevatória. O seu irmão Nuno, mostrava igualmente uma capacidade de atenção e assimilação do xadrez que o colocava um pouco acima dos meus outros alunos.
Via-se que o "miúdo" tinha pinta, e sobretudo que gostava do Xadrez. Aqui e ali, uma faltas ao treino, porque a Música ocupa um lugar cimeiro na vida destes miúdos ( o Nuno começa a ser um caso sério no Piano ), mas quando estavam, era um gosto vê-los jogar entre eles, ou no tabuleiro gigante, degladiarem-se em equipas de três ou quatro contra quatro.
Na Direcção, eu, mas particularmente o Rogério, com uma perspectiva bem larga e pedagógica sobre estes miúdos. Ainda era cedo! Ainda não a competição. Era preciso consistência, amadurecimento, calma. Poderíamos perder o André e o Nuno para o Xadrez, se os atirássemos precipitadamente para a competição. Sempre e primeiro a formação, o saber estar num tabuleiro, o saber apontar uma partida, o carregar num relógio, o saber estar com um adversário. Os títulos em miúdos têm de ser consequência de e não objectivo primordial para, como sempre defendemos nas nossas reuniões de Direcção.
Valeu a pena a espera. No ano seguinte, via-se um André Sousa mais jogador, mais concentrado, e sobretudo, mais cativado para o xadrez. Depois foi o trabalho com outros colegas que o foram treinando, foi a sua chamada serena a jogos por equipas na equipa C ou D, foi a aprendizagem com as derrotas, foi a cativação cada vez maior que as vitórias e os títulos foram trazendo.
Simples e clara a sua caminhada no xadrez que ainda agora culminou com títulos regionais, nacionais e com um esplêndido 5º lugar no Campeonato da Juventude da União Europeia - Sub10, que aliás podia ter ganho.
Hoje sei quem no GXPorto treina o André, (e muito bem!) e, longe de mim dar palpites, sobre o que fazer para o André continuar na senda do progresso. Apenas e só uma certeza tenho: é com trabalho demorado de tabuleiro, com forte sentido de auto-crítica no estudo das próprias partidas, sem vedetismos vãos, e sobretudo com o computador como meio e não como fim, que esse progresso irá continuar.
Depois outro trabalho será preciso: este mais complicado, porque o André ainda é muito novo: instilar no "Nosso Miúdo", o gosto pelo GXPorto, o espírito do GXPorto, porque apesar de sermos um Clube pobre, temos essa riqueza de 71 anos de vida!
Agora duas partidas do André de que gosto particularmente. A primeira com o austríaco Floriam Mesaros ( No Flsh está erradamente Húngaro) à altura com 1825 de pontuação Elo, em que o "Nosso Miúdo" parece ter percebido a ideia da Siciliana Dragão e vai calmamente parando ataques hipotéticos das Brancas, com um contra-ataque avassalador. Aqui e ali, alguns esquecimentos tácticos, não invalidam a bela partida do André, apesar da sua idade.
Na 2ª partida, também com o austríaco Jioung Wuo André joga mais calmo , mais posicional, e aos poucos vai construindo uma posição de clara superioridade posicional alicerçada num peão passado e num Cavalo claramente superior ao Bispo negro.
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