Que dei a conhecer a quem me ler, outro dos meus «heróis secretos» do tabuleiro?
Que procurei trazer mais uma figura de 2.º ou 3.º plano do mundo do xadrez, do esquecimento, ou da nebulosidade, para uma certa ternura do conhecimento?
Ou poderei dizer, que gosto dos meus jogadores secretos e ninguém tem nada com isso, ou como já me fartei de escrever, preciso da arqueologia da memória, para descobrir a imensa beleza que existe em partidas e xadrez de jogadores que quase ninguém conhece, ou que são apenas, rodapés de Enciclopédias, ou nomes, frios nomes em descarnadas bases de dados ?
Ou talvez...lembrar-me de um artigo lindo, lindo, lindo, que li vai para uns anos na New In Chess, sobre Bronstein, em que este, ao descer as escadas do Centro de Congressos do Kremelin, ao olhar para as fotos dos Campeões do Mundo que ornamentam as paredes, confidenciou ao jornalista Geuzendam, que não pertencia aquele mundo, porque sempre foi diferente, sempre quis ser diferente e que aquelas fotos eram prisões, que tornavam os jogadores em estatísticas, como muitas vezes são vistos os Campeões do Mundo, pelo jogador comum.
Afirmou também que odiava Enciclopédias, porque têm a data de nascimento, da morte e os resultados do Jogador, como se um jogador, um grande jogador fosse e só um número, para concluir que Ele Próprio Bronstein, não era o Livro do Torneio de Zurique 53, ou o empate 12-12 com Botvinnik! Grande homem! Como o foi mais à frente, na entrevista ao referir com uma certa amargura que o não ter sido Campeão do Mundo, ainda o perseguia aos olhos do público, porque isso faz com que qualquer coisa que um grande jogador faça sem ser Campeão do Mundo é olhado noutra perspectiva e mesmo havendo grandes jogadores, ao olhos do tal público, nenhum se pode comparar a estes campeões do mundo, o que não é verdade!
Talvez seja isso que pretendo com a série de artigos que tenho escrito! Mostrar a dignidade, a grandeza, o espírito xadrezista que paira em muitos extraordinários jogadores que nunca foram Campeões do Mundo, mas que com a sua criatividade, com a sua abordagem multifacetada do fascínio do nosso jogo, têm sabido, consciente ou inconscientemente manter viva a chama em milhões de amadores apaixonados do nosso jogo!
Tirar estes jogadores das simples 3 , 4 linhas de Enciclopédia, mostrar que muitos deles, por desconhecidos, não conseguem ver reconhecido hoje a sua real força xadrezística, o seu contributo inestimável para a beleza, a estética do xadrez, um dos meus objectivos! Conseguir que a paixão do xadrez se mantenha inalterável em mim próprio, porque também escrevo para mim, para a minha própria arqueologia da emoção, da beleza, que jaz escondida no movimento conjugado e muitas vezes quase secreto das peças, outra das ambições!
Conseguir filtrar, em época de avalanche de informação, da frieza das bases, da memorização de variantes, do «show-of» dos grandes nomes, ou pseudo-grandes nomes do xadrez actual, da miséria materialista e muitas vezes mesquinha que avilta a nobreza que tem ou devia ter o nosso jogo, a verdade, a verdadeira essência do xadrez, que muitas vezes só os amadores do xadrez, conseguem ter, porque ainda têm os olhos puros, porque ainda conseguem tocar as peças com as mãos purificadas de uma manhã marítima e soalheira, talvez a minha ambição suprema!
Este artigo sobre Viktor Kupreichik, seria impossível sem o recurso de pesquisa na minha biblioteca às seguintes obras básicas;
McCormick, Gene, «Uncompromising Chess": The Games os Viktor Kupreichik», Chess Enterprises, 1986
( livro sobre este jogador-ligeira biografia de Suetin e 81 partidas,(escolhidas pelo próprio Kupreichik) praticamente sem comentários - 66páginas.
Kupreichik, Viktor e Tsarenkov, Nikolai, "Igra bez kompromissa", (Luta sem Compromisso, sem Quartel), Edição bielorussa de 2003, publicada em Minsk
( livro raro, que apesar do próprio autor ser Kupreichik, nada traz de especial aos comentários do próprio nos Informadores. 55 partidas comentadas em símbolos, e mil posições das suas partidas, a que se acrescenta uma introdução de Balashov. Uma péssima edição, com diagramas pouco claros, em que nas partidas comentadas nem os torneios das mesmas são indicados.)
Cafferty, B e Taimanov, Mark, «The Soviet Championships», Cadogan Chess 1998
(Um livro muito bom! Só as fotos valem o preço! Grandes, grandes partidas! Excelentes comentários à moda antiga, isto é, dês-simbolizados!)
Soltis, Andrew, «Soviet Chess 1917-1991», MacFarland &Company,2000
(Que dizer deste livro, que outros não tivessem dito? Um dos livros mais extraordinários que se escreveram sobre o tema e sobre o xadrez em geral! Só isto!)
Khalifman e Soloviev, «Mikhail Tal-Games», Vol 2 , Edições Chess Stars, 1995
Hooper, D e Whyld,K, «The Oxford Companion To Chess», Osford University Press,1996 (sei que o Bronstein, não gosta do esquecimento do nome dos jogadores nas enciclopédias, mas esta, é a nível da informação, da seriedade, do gosto com que foi compilada, uma verdadeira referência a nível do xadrez! Apesar de tudo, esta minha edição tem um erro monumental: enterra Kupreichik, ou seja, informa que ele morreu em 91!! Este mesmo erro esteve durante anos na Web, na La Mecca Chess Encyclopedia, e só vai para sete anos, ressuscitaram Kupreichik, a meu pedido e correcção! Kupreichik, continua vivo e o seu xadrez, tão vivo como ele!
Informator Xadrezístico, Yugoslávia (Diversos volumes). Praticamente, o único sítio, onde se podem encontrar as análises do próprio Kupreichik, às suas próprias partidas.
Num próximo artigo, mais uma ou outra curiosidade sobre Kupreichik, diria duas surpresas que o não são! Apenas duas partidas muitíssimo curiosas.
Longa vida a Viktor Davidovich KUPREICHIK!
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