XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

27/10/10

NANJING...CLÁSSICOS E AFINS

Vá lá, um bocadinho mas mesmo “inho” de modernidade, de aqui e agora no Xadrez Memória, que gosta mais de se espraiar no passado, no pouco conhecido, ou se quiserem, no esquecido.


Assim, para minha própria surpresa, este vosso humilde servo a acompanhar o tal Torneio extraordinário, sensacional, o maior, acrescido de todos os epítetos que lhe queiram atribuir, seja por necessidades mediáticas, promo-comerciais, ou outras, o tal Pearl Spring em Nanjing 2010, que se disputa na longíqua China.


Um interregno nesta modernidade, para outra modernidade, esta mais grave porque me faz subir a tensão arterial, ou seja, a desfaçatez, a petulância com que alguns “bicharocos” que andam no xadrez, mesmo com o título de GM, criticam os chamados clássicos, a herança do passado, os comentários, livros ou partidas de Grandes jogadores que marcaram o xadrez, principalmente no século XX e cuja obra escrita ou de tabuleiro, faz parte da herança cultural e xadrezista do nosso jogo.


Porque o fazem? Isso dava “pano para mangas” e um outro longo artigo, mas sobretudo, fazem-no por duas razões fundamentais :“burrice” cultural-xadrezista, uns, desonestidade intelectual associada à necessidade de ganhar uns cobres, numa modalidade em que estes só estão disponíveis para alguns, outros. Por vezes a associação destes dois factores, transforma os escritos contra os clássicos do xadrez em autênticas corridas de obstáculos, em que a determinada altura temos dúvidas sobre quem corre, se a “cavalgadura” ou o condutor que a conduz.



Um amigo meu falecido, confidenciava-me vai para uns anos, acerca de alguns alunos do 1º ano de Economia, que o que o irritava não era a ignorância de alguns, porque essa curava-se, agora o que o deixava “doente”, era quando essa ignorância era alicerçada na arrogância, ou seja a “arrogância da ignorância”: era-se burro, gostava-se de ser burro, achava-se normal sê-lo, e tinha-se raiva de quem não o queria ser, ou não compreendia a burrice brilhantemente ensimesmada.



Pois é, no Xadrez, e particularmente há duas décadas para cá, tem surgido umas luminárias, umas mais conhecidas do que outras, que resolvem em artigos ou livros escoicear dos clássicos, de jóias de partidas do passado, simplesmente olhando com olhos do presente, ou se quiserem, com toda a parafernália tecnológica da ChessBase-Fritz-Afins, ou agora do Rybka, para mostrar as debilidades do jogo de Capablanca, ou as análises falhadas de Alekhine numa ou outra partida, ou o fraco sentido de defesa de um Schlechter, ou a pobreza confrangedora da compreensão dos finais de vários jogadores do passado. Tudo, mas tudo, por esse valor supremo, por essa deusa: a verdade, a verdade do xadrez! Essa verdade tão heroicamente conseguida com os monstros cibernéticos.



E editam-se livros de xadrez, e alguns gozam de fama, e alguns miúdos aderem a esta moda: estudar Capablanca para quê, se não vou jogar com ele!? E até se diz sorrindo de amarelos dentes: “O Alekhine, o Capablanca, o Lasker , se jogassem hoje era trucidados” – claro sem conhecerem nem um décimo do que estes génios jogaram ou pensaram xadrez.



Enfim, sinais dos tempos de indigência intelectual, de promoção da ignorância a valor supremo de “status”, da bestialidade como triunfadora sobre o trabalho, o conhecimento, da futilidade rainha soberana sobre o pensamento e a cultura.



Querem exemplos contrários: Façam o favor a vocês próprios: Vão a ChessCafe e imprimam os artigos que Dvorestsky escreveu sobre Lilienthal! Aquilo é respeitar os clássicos, é perceber a essência deste extraordinário jogador, é trazer uma compreensão e herança de um certo xadrez ao público comum. Podem também imprimir o seu artigo sobre Simagin, ou sobre uma das partidas “Lasker-Schlechter”! Mas Dvoretsky é um grande autor de xadrez, daqueles que escreve os tais 5% dos livros diferentes dos outros 90% que nunca deveriam ter sido escritos, como afirmou certa vez Polugaievsky.


Façam outro presente à vossa inteligência xadrezista: vão ao “Spraggett On chess” e procurem a maravilha dos artigos que o Kevin Spraggett escreveu sobre Efim Geller. Imprimam-nos e repassem-nos muitas vezes no tabuleiro. Vão entender muito melhor o jogo deste lutador do tabuleiro, mesmo que não tenham estudado “ Application of Chess Theory”. Mas Spraggett, sabe o que são os clássicos e sobretudo sabe o que o estudo aturado de Akiba Rubinstein trouxe à evolução do seu xadrez.



Peguem num dos melhores livros de xadrez de todos os tempos “Learn from the Legends”, do Mihail Marin e guardem para todo o sempre o que este autor escreveu sobre Rubinstein e os seus finais de Torre: assombroso! Isto é respeitar os clássicos!


Ou peguem no Lasker do Crouch, ou no Fischer do Agur, ou mesmo nos “Grandes Predecessores” do Kasparov, e vejam onde há reverência, respeito pelos clássicos, apesar da modernidade de vistas, ou crítica quando necessária.



No entanto... peguem nesse livro que tanto vendeu, nesse livro que fruto das laudas de Watson, que por sua vez tinha recebido as mesmas do autor que vou referir, tanta projecção nos xadrezistas: “The Road To Chess Improvement” de Yermolinsky. Um bom livro, um muito bom livro, diga-se de passagem, no entanto no capítulo sobre os clássicos, quando se propõe analisar a extraordinária partida Janowsky-Capablanca Nova Iorque, 1916, a célebre da retirado do Bispo negro a d7, Yermolinsky, mostra uma mistura do que acima afirmei, a ignorância mais larvar, misturada com a mentira mais mesquinha, para passar ao insulto à inteligência do leitor.

Aquele capítulo é uma vergonha, um autêntico tratado de como se escrevem asneiras a rodos por centímetro de papel, e sobretudo, como se enganam leitores pouco preparados que ficam encantados com a prosápia a pseudo perspicácia e sabedoria de Alex Yermolinsky, que de “cu sentado” no Mechanics Institute, resolveu escrever sobre um assunto que não dominava só para mostrar que sim, porque em determinada altura era giro, modernaço, atacar os clássicos e sobretudo mostrar a sapiência de GM actual. Pobreza de espírito, isso sim! Um GM que nem uma Enciclopédia de Xadrez sabe consultar, para não dizer a enormidade que Janowsky e Lasker jogaram dois matches para o Campeonato Mundial, para não afirmar que Capablanca não jogou mais Bf5 ( bastava ir a uma base de dados) e sobretudo escrever que ninguém tinha comentado esta partida com os lances que ele propunha, quando o “aldubras” sabia que Panov, no seu “Capablanca”, e mesmo Chernev e Reinfeld nos seus livros, aos anos que tinham escrito e sugerido os lances que dariam melhor defesa a Janowsky, mostra o quê? Querem que eu acredite no Homem? Duas Hipóteses: ou ignorante, ou intelectualmente desonesto, o que num GM de nome reconhecido e autor de livros, nem sequer é grave, é patético. ( hei-de colocar neste blogue o que mandei por mail para o Mechanic’s Institute, dirigido ao “Yermo-Termo”, que não me respondeu como é obvio!).


Porque razão, ninguém, mas mesmo ninguém dos críticos de livros de xadrez, Watson, Silman, Seegard, etc, etc, teve a coragem de dizer a verdade da vergonha do capítulo do livro de Yermolinsky? Existem interesses corporativos entre GM de xadrez, interesses editoriais, no que respeita à literatura xadrezista? Malhas que o Império tece!


Mas também poderíamos chamar à liça e desmontar aqui e ali o “Mentiras Arrisgadas en Ajedrez de Lluís Comas Fabregó, onde a par com algumas verdades , não sabemos se GM espanhol se refere a algumas mentiras dos clássicos ou algumas das suas sobre os clássicos , mas nem sei quem é o GM Fabregó, nem me interessa muito esse trabalho agora!




Enfim…mas onde ia eu? Ah! Em Nanjing.. Fica para um Próximo artigo




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