XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

23/11/16

JOÃO DE MOURA e UMA TAÇA



Um troféu. Uma simplicíssima e pequena taça. O ano estampado na quase identificável gravura que a identificava. Vi-a num destes leilões online quase dada e foi logo enamoramento. O anúncio só dizia taça de xadrez. Pelo zoom  da fotografia, e antes de uma limpeza, percebi que tinha a ver com FEDA (Federacion Española de Ajedrez). Depois sem surpresa , o ano longínquo de 1950, o Torneio Ibérico de Xadrez, a taça correspondente ao 4º lugar. Por acréscimo, a perceção de jogadores portugueses presentes, mas mesmo uma rápida pesquisa em sites espanhóis, nada. Bastou virar a cabeça para a estante de xadrez e pegar no livro que tinha comprado vai para anos sobre Pomar ( bela homenagem, diga-se, num belo livro “ Arturito Pomar , Una Vida Dedicada al Ajedrez”, de Antonio Manzano e Joan Vila, PaidoTribo), para ler que o referido Torneio vinha referido na sua  página 109, juntamente com uma partida entre Pomar e Lupi. Pelos participantes e classificação, fácil perceber a quem pertenceu a taça que agora na minha posse. Num torneio ganho por Medina com 5,5 pontos João de Moura tinha ficado em 4º lugar com Francisco Perez no 5º e como tal, seu este troféu. Os outros jogadores foram Pomar e Fuentes (2º e 3º), João Mário Ribeiro, 6º , Lupi, 7º e Jimeno 8º.




Resolvido o enigma. Caminhos ínvios e misteriosos estes ligados a pormenores da História do Xadrez Português a que sou conduzido por improváveis desígnios e cintilações surpreendentes. Outros me tem acontecido.
Como este pequeno troféu chegou às minhas mãos, qual o seu percurso de 66 anos até acabar num leilão online por menos de 10 Euros, daria outra crónica aliciante sobre a forma como em Portugal se desperdiça o património histórico xadrezistico português, seja por desinteresse, incúria familiar, seja pela arte de falcoaria patrimonial escaquística levada a cabo por falcoeiros-mor em determinados clubes de grande tradição no xadrez português (para só falar nesses). O que foi delapidado, desviado,“gamado”, “fanado”, “emprestadado”  em bibliotecas e afins de clubes, por passarinhos e passarocos, abutres e falcões mostra que de “feios-porcos e maus”, não se pode gabar só o Scola. 

Assim este pequeno artigozito de testemunho relativo a um bem forte jogador português , Campeão Nacional por três vezes ( 1940, 1951, 1952) , que alternava períodos de atividade com outros de completo afastamento do tabuleiro, que começou no Grupo de Xadrez de Lisboa, passou pelo Benfica para depois jogar no Grupo Desportivo da Costa do Sol ( e mais não sei, confesso…perdi as revistas da FPX a partir de 44), e sobre quem nunca vi (ou desconheço) um artigo de fundo, uma homenagem como deve ser pelo seu contributo para o Xadrez Nacional ( seja lá o que isso for!).
Assim aí vai, com fotos generosas para guardar, imprimir. O João de  Moura bem merece. Se alguém tiver algo mais sobre Ele (principalmente das RPX, ou outras publicações) agradeço contacto através deste blogue (para lhe enviar o meu mail). Desde já agradecido.









                                                      No G X Porto nos anos 50

                                                               Torneio de Mestres 44

                                                Simultânea no G X PORTO anos 50

                                                                          Da RPX