XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

20/06/18

1978-Fotografia e saudade

Escrevo tanto sobre outros no xadrez, que me esqueço de mim, bem…não será bem assim porque já mostrei neste blogue como fui um jogador fraquinho, já mostrei partidas minhas com o Ochoa, o Martinho, em que fui  literalmente reposto na horta do xadrez, onde não saí de nabo, e como no final de um nacional absoluto e único me apercebi que estava a perder tempo em demasia com o xadrez, numa ambição sem nexo, que sabia impossível atingir. Alguma coisa me dizia…fica-te por aqui, fica-te por aqui, aproveita o tempo que gastas no xadrez para outras coisas mais importantes que o xadrez. Assim fiz, recolhi-me ao templo de saber que não iria a lado nenhum, e curiosamente outro começou a surgir ligado a um lado pouco amado e conhecido do xadrez: o colecionismo. Templo de paixão que se mantêm intacto  vai para 40 anos.


Esta foto é simples e descobri-a há dias num caixa de plástico com muitos anos. Péssima qualidade, de uma daquelas Pocket 110 de  rolo, mas que me causou uma emoção profunda e conseguir por o lado memorialístico e emocional do meu cérebro a funcionar.
Reconheci-os logo: jovens que eram, jogadores de cartas de bisca lambida ( e ainda bem, porque as cartas vieram a destruir muitas vidas futuras de malta do xadrez, acreditem! Bem... parece que no passado também), percebi logo o local e porque ali estavam, estávamos.



Mata do Jamor – Centro de Estágio – Preliminar do Campeonato Nacional Absoluto de 1978 que se jogou nas instalações magníficas da Móbil Portuguesa em Lisboa de 6 a 15 de Agosto. O Centro de estágio era a casa de acolhimento do pessoal não “capitalizado” e não tive, nem tivemos razões de queixa.
Como não reconhece-los? O JOSÉ AZEVEDO (Espinho), o ANTÓNIO FERREIRA (Guarda), o LUÍS QUARESMA, O FERNANDO CASTRO , O NELSON SIMÕES ( Leiria, mas não tenho a certeza) e também sem certeza, o ANTÓNIO CAMPOS-ou FREDERICO FERREIRA

A todos o torneio correu muito mal, tal como correu ao Firmino, ao Rodolfo Lavrador, ao meu amigo de F.C.Porto – José Abrunhosa, ao Vítor Morais , mas por acaso ao António Ferreira e a mim correu-nos bem porque ocupamos o 10º e 11º lugar que por impossibilidade  do Palhares, de um dos Pereira dos Santos me levou à final do XXXIII campeonato Nacional disputado em S. João da Madeira de excecional organização e do qual já muito escrevi neste blogue.


Não joguei nada mal. Em 9 jornadas apenas perdi com quem haveria de ser…com o António Fernandes, no que poderia ter ficado para a minha história pessoal xadrezista: uma vitória arrasadora com quase mate e tudo, mas perdi…temos pena! Empatei numa partida interessantíssima com o Luís Santos, o vencedor, empatei com o António Ferreira e obtive algumas vitórias fruto da teoria, melhor de ter marrado montes de teoria. Antes desta preliminar, quase tinha devorado o Livro de Euwe sobre as defesas Indias, o do Cherta sobre a Paulsen, e andava doido com o a3 na Nimzoíndia. Tudo decorado a esmo, a martelo, sem compreensão de nada, com umas armadilhas pelo meio e tudo em que um ou outro meu adversário caiam e me davam a vitória quase de caras. Claro…valeu-me de um grosso esta metodologia no Nacional Absoluto, ou melhor valeu…batata de todo o tipo e feitio.



Que bom ter encontrado esta foto: Que bom hoje nos nossos cabelos brancos saber que já os tivemos escuros e que se calhar o xadrez e a paixão do xadrez continuam intactas como naquele Agosto de 78. Do Azevedo, do Castro, do António Ferreira sei que estão bem, e os outros? Quando olhei para a foto a ternura foi enorme, como enorme a prece de estarem vivos e de saúde. Devo tanto a esta miudagem da altura! Muita da minha construção como homem passou pela construção xadrezística que o contato humano me proporcionou, nem que fosse nas memórias longínquas, mas sempre afetivas de hoje. Obrigado, Amigos do Xadrez.

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