XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

06/01/14

KASPARYAN, Genrikh







Durante 21 anos teve nome de anjo. Depois resolveu assumir os seus erros terrenos e ficar com o nome que sempre os seus pais lhe quiseram dar. O padre que o baptizou, não gostou do nome proposto e resolveu à revelia dos pais, mas certamente com concordância divina, acrescentar o de Rafael ao de Genrikh. Assim ficou com dois nomes próprios, na certidão de nascimento, a juntar ao de família. Só em 1931, depois de «voltas que o mundo dá» e muito trabalho, recuperou o seu nome original, retirando definitivamente Rafael, para o sítio divino, ao lado do Deus-Pai. Humano e terreno ficou Genrikh  Moiseyevich KASPARIAN.

 

Modesto, generoso, simpático, mas ao mesmo tempo de espírito taciturno e mesmo enigmático, Kasparyan foi uma personalidade multifacetada e de grande cultura xadrezística. Um dos seus alunos, afirma que essas suas características de recatamento, secretismo, quase reclusão d’alma, lhe foram essenciais na criação das miniaturas delicadas e obras-primas de mistério e secretismo que são muitos dos seus finais artísticos.


Não era egoísta, nem misantropo, pese as enunciadas características do seu carácter e isso prova-se facilmente no testemunho dos seus alunos e de quem o conheceu de perto. Foi um excelente treinador e, não teve qualquer problema, já figura conceituada no mundo do xadrez, em publicar os segredos da sua arte de compositor no seu livro «Tayny Etyudista» (Segredos de um Compositor de Estudos).




Engenheiro de Caminhos-de-Ferro, por profissão, Fortíssimo jogador, chegou ao título de Mestre Internacional em 1950( teria no Elo actual a força de  um jogador de cerca 2500), analista, Juiz Internacional de Composição Xadrezística , foi sem dúvida na composição xadrezística, nomeadamente nos finais artísticos, que Kasparyan ganhou o renome internacional. O seu título de Grande Mestre Internacional de Composição, adquirido em 1972, não foi mais o reconhecimento de um dos maiores génios nesta arte difícil e solitária da composição xadrezista.





A sua vida é banal, naquilo que muitas vezes as vidas de grandes homens têm de banal. Não existem factos tormentosos a relatar, não existem crónicas de escárnio e mal-dizer a apontar, nada. Foi uma vida simples de um homem simples, virado para o xadrez, naquilo que o xadrez de mais belo e intrínseco poderia proporcionar - o prazer estético, a beleza harmónica e melódica de movimentos conjugados de peças com determinado objectivo definido.



Nascido em 1910 em Tiflis (Tblisi ), Geórgia, de uma família Arménia, só aos 13 anos se começou a dedicar ao xadrez, graças aos esforços do seu irmão mais velho Ruben. O Xadrez ocupava-lhe o espírito, mas os deveres da escola a obrigação. Não eram tempos, aqueles, para profissionalismo e, Genrikh KASPARYAN, conseguiu sempre uma simbiose quase perfeita entre o Xadrez e os estudos, quer fosse na escola secundária, quer mais tarde no Instituto Politécnico de Tiflis, onde se viria a graduar em Engenharia de Caminhos de Ferro. Só uma força de vontade indómita, um querer e um carácter forte, tenaz, lhe permitiram conjugar estudo de xadrez, torneios de xadrez e vida de estudante. Também ainda não eram aqueles os tempos dos cursos universitários «oferecidos» aos talentos e Grandes-Mestres da União Soviética.




Talvez por tudo o enunciado, a sua ascensão no xadrez, não foi meteórica, nem sequer brilhante. Tal como a sua vida, foi lenta, serena, a pulso, consistente, sem fogo-de-artifício. Nos anos vinte na União Soviética, ainda se estava longe da Escola Soviética de Xadrez, dos planos de massificação, do Xadrez como ideário de um povo, de uma ideologia, de uma nação. Não havia treinadores, a literatura praticamente inexistente, e, os clubes onde teoria e prática pudessem ser aperfeiçoadas eram quase inexistentes, como tal, os jovens jogadores em idade júnior, só podiam contar consigo próprios, com o seu trabalho árduo, de estudo, análise das próprias partidas. O próprio Kasparyan em diversos artigos relatou essa experiência difícil da sua adolescência e juventude, no que diz respeito à fome indomável de xadrez e progressão no xadrez que sentia, versus dificuldades de estruturas xadrezistas que lhe saciassem esses desejos. Só um amor imenso, uma paixão desmesurada pelo xadrez, lhe devem ter permitido a perseverança, a «estamina», para estudar, aproveitar e desenvolver  o seu inegável talento xadrezista.



Como referi, os seus passos foram lentos, mas seguros. Aos 19 anos, ascende a jogador de Primeira Categoria, para dois anos depois se tornar Campeão de Tiflis (tal como depois, em 1937 e 1945).O ano de 1931, aliás foi para si um marco na sua carreira de «jogador de tabuleiro», pois ganha de forma surpreendente a semi-final do Campeonato da URSS, apurando-se para a final, à frente de Botvinnik, então no início daquela que iria ser a sua formidável carreira xadrezista, para nesse mesmo ano no seu primeiro Campeonato Absoluto da URSS, ficar em último lugar, enquanto o mesmo Botvinnik ganhava o seu primeiro título nacional absoluto!


Foi nesse mesmo ano que decidiu deixar definitivamente os «problemas» de xadrez, para se dedicar de alma e coração aos «estudos».


Em 1936, resolve mudar-se para Erevan, capital da Arménia ( pátria de Petrosian). Essa mudança significou, não só um ponto de viragem na carreira de Kasparyan em particular, mas também no desenvolvimento do xadrez arménio em geral. Petrosian e Kasparyan «dialogarão» diversas vezes no tabuleiro de xadrez, pela supremacia e proeminência no xadrez da Arménia.


Tal como era costume, para adquirir o título de Mestre da URSS, o candidato teria de se medir com um Mestre já qualificado. Ora nesse mesmo ano de 36, em Erevan, Kasparyan, vence Vitaly Chekhover, pelo score de +6-4=7 e torna-se o primeiro Mestre do Xadrez Arménio. A sua supremacia foi de tal ordem, que nos anos vindouros será dez vezes campeão da Arménia.

Como é evidente a Segunda Grande Guerra Mundial vem travar todo este desenvolvimento e criatividade xadrezística de Kasparyan, embora se depreenda que muitos dos seus estudos, tivessem o embrião nesses anos.


A partir de 1945, retorna em força, obtendo os seus resultados mais significativos. Na sua carreira de jogador de competição, para além do já citado, contam-se 12 participações em semi-finais do Campeonato da URSS e 4 nas Finais do mesmo Campeonato. No já citado ano de 1931, na do ano de 1937 ( penúltimo). Na final do 15 Campeonato 1947, ganho por Keres, fica a meio da tabela, em 10.º lugar, conseguindo vitórias sobre Bronstein, Levenfisch, Aronin  e outros. No 20.º Campeonato, em 1952, fica em penúltimo, mas empata com o vencedor Botvinnik, Smyslov, Keres, e ganha a Bronstein.


Em 1950 obtêm, melhor dizendo é-lhe atribuído, o título de Mestre Internacional. Hoje, parece não haver dúvidas: Tivesse Kasparyan, ido para a «Meca do Xadrez» na União Soviética nos anos 30 e 40, onde fervilhava a vida xadrezística, onde se firmavam os alicerces dessa construção emblemática do xadrez, onde se encontravam os grandes xadrezistas, e certamente a sua força de jogo no tabuleiro, teria sido bem mais evidente e frutuosa. Mas o seu amor a Erevan e à Arménia, o seu espírito calmo, o seu quase desprendimento pela celebridade e até mundanismo, fizeram-no ficar.


Como se comprova, não era um amador, nem um jogador de café, Kasparyan. Se analisarmos algumas das suas partidas, comprovamos a sua sólida condução da partida por caminhos estratégicos, uma visão táctica não desprezível, um reportório de aberturas restrito, mas razoavelmente assimilado, mas sobretudo, uma técnica apurada na condução dos finais de partida. Kasparyan, foi um  belíssimo jogador prático de finais de partida.


Em 1956, numa decisão certamente amadurecida pela idade e humildade, decide deixar o xadrez de competição no tabuleiro. A partir daqui o seu talento, as suas forças, a sua arte e criatividade vão ser inteiramente devotadas à composição de estudos de xadrez, nomeadamente finais artísticos e ao treino de jovens.

A sua arte de elevada concepção, artística e estética, deram-lhe títulos quase sem conta, quer na União Soviética, quer internacionalmente. Venceu o 1.º  4.º, 5.º, 8.º, 9.º e 10.º Campeonato da URSS de Composição de Estudos. Ganhou diversas competições internacionais e a FIDE em 1972, atribui-lhe o título de Grande Mestre Internacional de Composição.

Pensa-se que Kasparyan compôs mais de 400 Estudos, e recebeu cerca de 295 prémios, incluindo 80 primeiros prémios.

Desde o seu primeiro Estudo-final artístico conhecido de 1927, até aos últimos anos da sua vida, KASPARYAN, legou-nos uma montanha imensa de beleza quase inigualável. A sua obra encontra-se espalhada em vários Livros, desde o já citado, passando pelo «2500 finales» , até ao «Domination in  2.545 Endgame Studies».




Peguemos então no nosso melhor tabuleiro de xadrez e preparemo-nos para um encontro com a beleza musical dos Estudos de KASPARYAN. Vejamos a sua musicalidade, a sua harmonia, o seu quase perfeito equilíbrio, a sua lógica implacável, escondida nos arabescos , ou meandros simples ou aparentemente complexos da disposição das peças no tabuleiro. Ao reproduzir alguns destes estudos, não posso deixar de sentir, aquilo que apelido de uma «Insustentável Leveza do Ser» das peças de xadrez! Elas movem-se muitas vezes em pontas, num bailado, coreografado ao pormenor, mas em que a verdadeira personalidade de cada peça, conjugada com o seu movimento nas casas do tabuleiro, me dá uma sensação de quase imponderabilidade. Fica-se suspenso! Era mesmo aquilo, onde antes não poderia ser aquilo! 

É esta beleza simples onde antes se escondia o enigma quase indecifrável. Muitas vezes é nos finais artísticos de Kasparyan, que percebo a verdadeira essência de um Cavalo de Xadrez, de um peão ser a «alma do xadrez», de uma Torre, ter um alcance quase astral. É nos finais de Kasparyan, que percebo, a tal beleza do xadrez, escondida na beleza do xadrez. Mergulho nas casas do tabuleiro e tal como cristal, vejo o luminoso, o polifacetado transparente do movimento das peças, reflectido nos meus olhos maravilhados!

«Picasso dos Estudos de Finais» lhe chamou Timman, e bem, acrescento  eu que em muitos desses estudos, munido de paleta de arco-íris!

Quem disse que a beleza cega?



Seguem-se agora as diversas facetas de Kasparyan: O Jogador de Tabuleiro, O Finalista, o Compositor!
Junto vão em anexo duas fotos desta personalidade ímpar e, os tabuleiros com as posições iniciais dos estudos.

Divirtam-se e Apreciem!



LISITSYN,G - KASPARYAN,G
7.Camp.da URSS Semi-Final, 1931
1.Cf3 Cf6 2.c4 g6 3.b3 Bg7 4.Bb2 0–0 5.g3 d6 6.Bg2 Ad7 7.0–0 Dc8 8.Te1 Bh3 9.Bh1 e5 10.Cc3 Bh6!

Com a ideia clara de evitar o lance 11.d4 a que se seguiria 11...e4 12.Cd2-e3! com vantagem

11.d3 Cc6 12.a3 Dd7 13.Dc2 Tae8 14.Tad1 Df5?

Lance criticado no livro do Torneio pelo então jovem Botvinnik e, com razão. Não se percebe o alcance estratégico desta jogada, pois a dama poderá ficar exposta mais cedo ou tarde. Melhor era 14...Cg4 seguido de f5, com um plano semelhante ao do ataque negro da India de Rei.

15.Cd5 Cg4 16.Cxc7 Cd4

As negras aperceberam-se a tempo que 16...Ce3 não era possível devido à pregagem  17.Dc1!, mas ou confiaram demais na posição, ou não repararam que as brancas com 17.Dc3! ficariam com clara vantagem, pois o lance negro pretendido 17...Ce3, seria refutado com facilidade com 18.Cxd4!-Dxf2 xeque 19.Rxf2-Cg4 xeque 20.Rf3! com vantagem decisiva.

17.Bxd4? As brancas com um optimismo primário, embarcam no ganho da qualidade sem se aperceberem dos perigos da sua própria posição, mostrando um erro de cálculo fatal, ao não vislumbrarem o lance negro n.19!

 17...exd4 18.Cxe8 Txe8 19.Bg2 Julgando aliviar e simplificar a posição pelas trocas 

19...Cxf2 Como considerar este lance? Talvez com a simbologia !!?. É um sacrifício intuitivo, inspirado nas permissas da posição, mas baseado na capacidade de cálculo de ambos os jogadores. Só existem duas variantes defensivas para as brancas: ou a aceitação do sacrifício, ou o lance jogado na partida.Que aconteceria se as negras aceitassem a «oferta grega»?

20.Ch4 [20.Rxf2 Be3+ 21.Rf1 h5 22.Ta1 (22.c5 h4 23.cxd6 hxg3 24.hxg3 Tc8 25.Db2 Dg4 E as brancas não conseguem sobreviver; 22.b4 h4 23.Da4 Rf8 24.Dxa7 hxg3 25.Db6 Te6 26.hxg3 Tf6 E novamente as negras ditam as leis) 22...h4 23.Teb1 hxg3 24.hxg3 Dg4 com ataque decisivo ]

20...Dg4 Contam os relatos que Lisitsyn, quando perdido em qualquer partida, costumava ficar de olhos inchados e vermelhos, dificilmente conseguindo conter as lágrimas. Parece que neste caso a sua posição dá mesmo para chorar! Como se defender deste ataque?

21.Bf3 [21.Rxf2 Be3+ 22.Rf1 Te6 23.Cf3 Tf6 24.Td2 h5 25.Tb1 (25.Tc1 h4 26.Bxh3 Dxh3+ 27.Re1 Dg2 28.Rd1 Dg1+ 29.Ce1 Tf1 30.Db1 Txe1+ 31.Rc2 Bxd2 32.Rxd2 Txc1 33.Dxc1 Dxh2 34.gxh4 Df4+ 35.Rc2 Dxc1+ 36.Rxc1 Rg7 Com vitória fácil no final) 25...h4 26.Bxh3 Dxh3+ 27.Re1 Dg2 28.Rd1 Dg1+ 29.Ce1 Tf1 30.Db2 Txe1+ 31.Rc2 Bxd2]

21...De6 22.Tf1 Cxd1 23.Txd1 De3+ 24.Rh1 Df2 25.Tg1 g5! Lance de recorte táctico, que só tem uma réplica das brancas

26.Dc1 Te6 27.Cg2 g4 28.Tf1 E depois do lance Lisitsyn abandonou, perante o inevitável 28...gxf3 0–1







 Kortschnoj,V (2555) - Kasparian,G (2418) [D94]
URS-chT Leningrad, 1953
1.Cf3 Cf6 2.c4 g6 3.d4 c6 4.Cc3 d5 5.e3 Bg7 6.Be2 0–0 7.0–0 e6 8.b3 Te8 9.Dc2 Cbd7 10.Td1 b6 11.cxd5 exd5 12.b4 De7 13.Db3 Bb7 14.a4 Ce4 15.a5 c5 16.a6 c4 17.Db2 Cxc3 18.axb7 Cxe2+ 19.Dxe2 Tab8 20.Txa7 Cf8 21.b5 Txb7 22.Ba3 Dd7 23.Txb7 Dxb7 24.Cd2 Dd7 25.Bxf8 Rxf8 26.Cb1 Dxb5 Kasparyan ganha um peão e a partir daqui vai mostrar a sua impecável mestria nos finais. O ainda jovem Kortchnoi vai provar o velho ditado «a velhice é um posto!» 27.Cc3 Da5
28.Db2 Ta8 29.Tb1 Rg8 30.Dc2 Bf8 31.g3 O lance 31.f3 parece ser o melhor, procurando entrar num final de Damas, embora vantajoso para as negras [31.f3 Ab4 32.Cxd5 Dxd5 33.Txb4 b5 34.Db2 Ta5 35.e4 Dd7 e as brancas estão ligeiramente melhor]

31...Bb4 32.Ce2 Aqui não há dúvida que 32.Cd5 era melhor!32...Dxd5 33.Txb4-b5 e embora a vantagem negra seja um dado adquirido, as dificuldades técnicas a vencer ainda são apreciáveis.

32...Bd6 33.Cc3 Bb4 34.Ce2 Bd2 35.Rg2 c3 36.Tb3 Tc8 37.Cg1 Da4 38.Cf3 Dxb3 39.Dxb3 c2 40.Cxd2 c1D «A pequena Combinação» à Capablanca dá uma qualidade de vantagem a Kasparyan, que ainda tem de ganhar a tal partida ganha.

41.Cf3 Dc6 42.Db4 De6 43.h4 Tc2 44.Db3 De4 45.Dxb6 Dxe3 46.Db8+ Rg7 47.De5+ Dxe5 48.Cxe5 Te2 49.Rf1 Te4 50.Cc6 Rf6 51.f3 Te8 52.Cb4 Re6 53.Rf2 Rd6 54.Cd3 Ta8 55.Cf4 Ta2+ 56.Re3 Ta3+ 57.Re2 Ta2+ 58.Re3 Th2 59.Cd3 f6 60.Cc5 Tg2 61.Rf4 Tc2 62.Cd3 Tc3 63.Cf2 h5 64.g4 Re6 65.Ch3 Td3 66.gxh5 gxh5 67.Rg3 Txd4 68.Cf4+ Txf4 69.Rxf4 Rd6 70.Rf5 d4 A realização técnica das negras da sua superioridade material foi perfeita. 0–1



 Kasparian,G (2441) - Bronstein,D (2628) [B51]
URS-ch20 Moscow, 1952
 1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.Bb5+ Cc6 4.0–0 Bg4 5.h3 Bh5 6.c3 Db6 7.Ca3 a6 8.Be2 e6 9.d3 Cf6 10.Ch2 Bg6 11.Rh1 d5 12.exd5 Cxd5 13.Cc4 Dc7 14.a4 Be7 15.a5 0–0 16.g3 Tad8 17.f4 Rh8 18.Cf3 Bf6 19.Bd2 Tfe8 20.Ce1 h6 21.Bf3 Be7 22.De2 Bd6 23.Df2 Bf8 24.Be2 Bh7 25.Cf3 f6 26.Ch2 Td7 27.Df3 Ted8 28.Cg4 Cde7 29.Cf2 Cc8 30.Be3 f5 31.Tfe1 Bg8 32.Bf1 e5 33.Dh5 g6 34.Dxg6 Tg7 35.Dxh6+ Bh7 36.fxe5 Txg3 37.Df4 Tg8 38.Bg2 C8e7 39.e6 Dc8 40.Cb6 Dxe6 41.Bxc5 Df6 42.Bxe7 Axe7 43.Cc4 Dg6 44.Df3 Tg7 45.d4 Tdg8 46.Tg1 Dh6 47.De2 Bh4 48.Cd3 Bg3 49.d5 Ce7 50.De6 Dh5 51.Taf1 f4 52.Cxf4 Dh4 53.De5 Cf5 54.Ce3 Tf8 55.Cg4 Rg8 56.De6+ Tff7 57.d6 Txg4 58.De8+ Rg7 59.Ce6+ Rf6 60.d7 Txd7 61.Dxd7 Bf2 62.Dd8+ Rxe6 63.Dxh4 Cxh4 64.hxg4 Bxg1 65.Rxg1 Cxg2 66.Rxg2 1–0



ESTUDOS

Estudo 1

Brancas: Ra7; Be4; Cg4; a4 ; c3 ; d6; e5
                                           Negras: Rc5 ; c4; e7

Jogam as brancas e dão mate em três lances
SOLUÇÃO:
1.Ba8! ;e6 ( 1...exd6 2.Cf6-dxe5 3.Ce4 )
   2.Rb7-Rd5
  3.Rb6 mate!!!
Um dos primeiros estudos de Kasparyan aparecido a público e uma pequena maravilha milagrosa!


Estudo 2
Posição:


Brancas: Ra1 ; Th7; g6 ; h5
                                                       Negras: Rg8 ; Tg3

As brancas jogam e ganham
SOLUÇÃO:
1.Ra2
A única possibilidade de ganhar! [1.Rb2?? Th3 2.Rc2 Tg3 3.Rd2 Th3 4.Re2 Tg3
5.Rf2 Th3 6.Rg2 Ta3 7.Tb7 Ta5 com empate seguro!; 1.Rb1 Tb3+!]

1...Th3 [1...Td3? 2.Tb7 Th3 3.Tb5 Rg7 4.Tg5 e ganham!]
2.Rb2 Tg3 3.Rc2 Th3 4.Rd2 Tg3 5.Re2 Th3 6.Rf2 E ganham, pois 6...Ta3
7.Tb7-Ta5 8.h6


Estudo 3
Posição :


Brancas: Rb3; Bg2; Cb7 ; a2; c5;
Negras: Rc8 ; Cd7; Bh4; a7; a6; c7

As brancas jogam e ganham
SOLUÇÃO:

À primeira vista uma posição algo estéril conduzente a um empate, mas...o rei negro encontra-se encurralado numa posição incómoda, factor importante na resolução do estudo.

1.c6 Ce5 2.Ah3+ Lance importantíssimo de restrição do Rei negro.
2...Rb8 3.Cc5
 Uma ideia de uma profundidade extraordinária! As negras terão de aceitar forçosamente o peão c sob pena de o mate se seguir!! Por exemplo o lance 3...Bd8 terá o castigo de 4.Ca6-Ra8 5.Ra4 seguido da manobra 6.Rb5;
7.Bc8, e Bb7 mate!!!

3...Cxc6 4.Cd7+ Rb7 5.Ag2 A pregagem na diagonal é fundamental, e as negras têm de defender a casa e5
5...Ag3 6.Rc4 a5 7.Cc5+ Rb6 8.Ca4+ Rb7 9.Rd3 Fantástico!! É o único plano ganhador! As brancas devem ir com o rei até d7!
9...Af2 10.Re2 Um lance estranho à primeira vista, mas novamente de uma profundidade extraordinária! Parece que 10.Bd5 se impunha, mas não!! As negras esperariam com 10...a6 11.Re4-Ba7 e temos uma situação de zugzwang mútuo! as brancas não podem avançar o seu peão a , porque as negras podem atacá-lo com o seu bispo da casa c1. O lance branco parece perder um tempo,
mas não!! Ganha uma casa extra em f4, porque a ideia é fazer uma
triangulação!!

10...Ag1 11.Ad5 a6 12.Rf3 Ad4 13.Rf4 Aa7 14.Re4 A fabulosa concepção branca vem agora à superfície! As negras estão agora sim em zugzwang!
14...Ab8 15.Cc5+ Rb6 16.Cd7+ E GANHAM!
Digam lá se este estudo-final artístico, não se enquadra naquilo que o próprio autor Kasparyan afirmou: « O critério para avaliar a qualidade dos Estudos de Xadrez, na minha opinião, deve ser em primeira mão a perfeição na forma, combinado com uma ideia bem patente, viva, e com jogo interessante».
Ou seja, para Kasparyan um Estudo-Final artístico deveria ser profundo, complexo quanto baste e com ideias criativas, pouco comuns!




Estudo 4

                                              Posição :
                                             Brancas:
Rb1; Cf5 ;
                                          Negras: Ra8; Cg2 ; Bh4 ; g3
Posição inicial do estudo.
As Brancas jogam e empatam
Solução:

As brancas jogam e empatam. As peças menores não mexem, não devem mexer, pelo que serão os reis a decidir o futuro do Estudo. O Rei branco terá de ter um cuidado extremo, pois não pode ocupar a coluna c.1.Rc1?-Bg5 xeque seguido de Bf4!
1.Rc2?-Ce1!...Portanto só existe...
1.Ra2 Rb7 2.Rb3 Rc6 3.Rc4 Rd7 4.Rd4 Re6 5.Re4 Rf6 6.Cxg3 Axg3 7.Rf3 Empate!

POSIÇÃO ESTUDO INTERMÉDIO



Brancas: Rd6 ; Cf5 ;
        Negras: Rg8 ; Bh4; Cg2; g3

As brancas jogam e empatam
Solução:
A ideia deste Estudo intermédio é o mesmo! Surpreendentemente o rei branco não se pode aproximar! 1.Re5-Cf4!! 2.Ch4-Cg6 3.Cxg6-g2 e ganham! Assim...

1.Rc5 Rf7 2.Rd4 Rf6 3.Re4 Rg5 4.Cxg3 com empate.

Três dias depois Kasparyan apresentou a versão final do estudo que lhe valeu o 1. prémio da Shakhmaty URSS
POSIÇÃO-ESTUDO FINAL


Brancas: Rc1 ; Cd6 ; a5 ; g2
Negras : Rd8 ; Ce1 ; Bh4; g4
As brancas jogam e empatam
Solução:
(
1.Cf7+ Rc7 2.Ch6 Forçando o avanço do peão, pois quer 2...Bg5
3.Rd1 Bh6 4.Re1,criando uma fortaleza, por exemplo 4...Be3 5.Re2-Bg1
6.Rd3 seguido de Re4 e Rf5

2...g3 3.Cf5 Cxg2 E agora? O aparente 4.Rd1, não serve por 4...Rb7 e a casa e2 torna-se inacessível ao Rei branco devido ao xeque em f4, seguido do avanço do peão. Mas algo de maravilhoso encerra a posição...
4.Rb1!! Rb7 5.Ra2 É magia! Porque as negras têm de capturar o peão de a, as brancas ganham o tempo que necessitam para a sua salvação!!
5...Ra6 6.Rb3 Rxa5 7.Rc4 Rb6 8.Rd4 Rb5 9.Re4 Rc5 10.Cxg3 Ainda havia tempo para o engano! 10.Re5?-Cf4!! 11.Ch4-Cg6!
10...Axg3 11.Rf3 Empate

Como se prova, muitos Estudos de Kasparyan, eram mais de transpiração do que inspiração! Por vezes uma ideia surgia na sua mente e era transformada em Estudo inicial e ficava. Depois, passados semanas, meses , ou mesmo anos, o autor regressava ao estudo e aprimorava-o, complexificava-o, transmitia-lhe novas matizes , sem o desvirtuar da ideia original. Esse trabalho, dava origem a um ou vários estudos intermédios, que depois de um trabalho laborioso de cinzelador, quase de ourives, se transformava no Estudo Definitivo, Versão Final.


Saibamos compreender e amar este trabalho, estas pequenas obras, quase de relojoeiro, de fino artesão do xadrez, de KASPARYAN!

Um estudo de KASPARYAN, tem os amantes de xadrez que merecem! Saibamos merecê-los! Porque a beleza é e será Eterna!











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