XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

26/12/13

XADREZ ...ÍNTIMO


Pois...já estou a ver dezenas e dezenas de cliques para ver a minha ...intimidade, mas azar o vosso! Sei o que vos passou pela cabeça, mas dessas "intimidades" publica e bem o amigo Kevin Spraggett no seu magnífico "On Chess"! ( ah! ah! ah! ).

O meu canto íntimo do xadrez! Uma MESA e DUAS CADEIRAS. Com cerca de 70-80 anos e do espólio de um antigo café do Porto (talvez do Luso!).

Frequentemente este espaço torna-se um local romântico e assombrado de grandes batalhas xadrezistas do passado, raras de hoje (para essas basta os diagramazinhos animados do Site da Santa Casa da Misericórdia do Xadrez Internacional - ChessBase, ou afins). Por vezes, Spielmann , Duras, Teichmann, Zukertort, Blackburne, Janowsky, Maroczy, Breyer, Tartakower, Rubinstein, Anderssen, Chigorin, Pillsbury, Marshall, Charousek, Bernstein, Reti, Mieses, Winawer, Weiss, Bogatirchuk,Platonov, Averkhin, Kupreichik,ou Vitolinsh andam por aqui como fantasmas em passeio e medo deles não tenho.


Bem...vai para anos fascinei-me com uma mesa e cadeiras de uma foto de Filadélfia (sala de análises) do Campeonato do Mundo entre Steinitz e Lasker, vai daí não descansei enquanto não tivesse algo similar e substancialmente diferente das mesas e cadeiras lambisgóias que desfeiam os clubes de xadrez ( excepto o meu GX Porto), ou que se vende de articulado e frágil para jogos de cartas e afins! Assim, o meu canto de xadrez.

E porquê um post como este? Sei lá! Já coloquei parte das minhas peças, parte dos meus livros, porque não algo mais sólido, mais madeira maciça mas mais de intimidade de espaço no xadrez?

Depois, talvez esteja a ter um ataque inexorável de romantismo xadrezístico, ou , a passar por algo que caracterizo de melancolia escaquística, que só quem vai descendo o plano inclinado e AMA o xadrez, sente!


Tenham paciência de mim, que dó de vocês tenho eu, aqueles que só conseguem ver uma vertente do xadrez! Para esses, talvez escreva um artigo sobre o milionésimo livro sobre a Sveshnikov, ou sobre a Megabase qualquer coisa, ou como o último mundial foi de uma emoção e de um xadrez profundo como raramente se viu!


Bem podem esperar sentados....mas não nas minhas cadeiras.


Ah! Esquecia-me, ainda encontraria 20 ou 30 pessoas ( Mestre Machado, Curado, Castanheira, Alexandre Monteiro, Russo,  Sirgado, Fernando o Silva e o Cleto, Marques,  os Antónios Fernandes, Santos e Silva, o Américo, o Durão, o Cordovil, Fróis , Malta da Casa do Xadrez, O Gomes da Silva, etc, etc,deixem guardar alguns no segredo que eles nem sabem!) ligadas ao xadrez que daria o privilégio de comigo se sentarem ali ( até colocava almofada e tudo!) e jogarmos umas partidas "comme il faut" !


Outros, "cadeirinha de realizador" na porta da garagem e sem romantismo.











O meu velho, velho gato, aprovou!





2 comentários:

  1. Na verdade, não é muito fácil explicar este fascínio (que também partilho) por antigas mesas e cadeiras “coloniais” de xadrez (não bastava ter fascínio por xadrez, faltava ainda ter fascínio por objectos alusivos ao xadrez, uma espécie de “subpaixões”…)

    Parte do fascínio se poderá talvez ficar a dever a entender o conjunto de móveis como o das fotos como um todo equivalente a uma máquina fantástica, na qual basta que nos sentemos com um qualquer parceiro para reproduzir partidas fantásticas, mais ou menos como se estivéssemos frente a uma máquina de feira, na qual bastaria pôr a moedinha para viver aventuras extraordinárias.

    Outra parte do fascínio é este mobiliário nos remeter para tempos em que o jogo consistia em puro amadorismo, ou seja, um tempo em que era possível que dois parceiros continuassem a ter prazer no jogo, mesmo após décadas a jogar somente um com o outro, quer fosse debaixo de um alpendre numa casa colonial do sul dos Estados Unidos, quer fosse no escritório de uma aristocrata casa inglesa do séc. XIX (como sucede na casa de Mr. Brownlow, o homem que acolhe Oliver Twist em Londres, no romance homónimo, e na sua adaptação para cinema de Polansky), quer fosse num qualquer clube ou café de uma qualquer grande cidade do séc XX.

    E como era isso possível? Como era possível jogar décadas contra o mesmo adversário, sem repetir até à exaustão as mesmas holandesas, italianas e espanholas de sempre?!

    Eram tempos em que, não só a internet estava longe, como o jogador ocasional não punha a vista em cima de livros de xadrez, pelo que cada nova partida era sempre um novo desafio, uma nova oportunidade de fazer aquela combinação memorável, de descobrir aquela abertura infalível, de vencer com aquele mate inédito que nunca ninguém imaginava possível…

    É claro que a probabilidade de tudo isto ocorrer era ínfima porém, que interessava isso, quando cada nova partida prometia um oceano de sonhos e possibilidades? Não é isso que, em última análise, era a ambição de qualquer jogador amador? O prazer da descoberta, o prazer de criar, o prazer de ser o primeiro a ver o que antes nunca ninguém tinha visto, tal qual um alquimista ...

    Muitas vezes, o conjunto apresentado surge também com uma mesa redonda na qual estão embutidas gavetas também redondas (ou melhor, formando arcos de círculo) para guardar as peças, o que, embora menos funcional, se torna porventura ainda mais apelativo para este “universo místico”.

    Do cenário apresentado só me desagrada um pouco a cortina vermelha, talvez demasiado opaca, não favorecendo a possibilidade de se jogar enquanto se assiste à passagem do tempo no “universo exterior” (extra tabuleiro), quer seja o percurso diurno do sol, com as diferentes elevações de sombras no tabuleiro causadas pelas peças, quer seja os pingos de chuva contra as vidraças, quer sejam as alterações cromáticas causadas pela sucessão das estações do ano… tudo enquanto, numa outra dimensão, 32 peças, 2 jogadores, 1 relógio, 2 cadeiras e 1 mesa procuram descobrir a verdade última para a qual foram criados…

    António Castanheira

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  2. Grande Amigo Castanheira!
    Isso, é isso mesmo. Esta sensação admirável de quem ama o xadrez fora-dentro das 64 , e em vertentes que outros nem sonham que podem existir!
    Quanto ao jogar e passagem do tempo do Universo exterior...bem, acredites ou não foi devido a isso, que certo dia enquanto o meu adversário pensava e eu "varandava" de olhar para um belo jardim interior (salvo erro em Guimarães) , um pássaro magnífico vai de olhar para mim durante largos segundos e ...perdi a vontade de jogar-propus empate ao meu adversário para aí com 400 pontos a menos do que eu, e fui dar uma volta , pensando na inutilidade, na perda de tempo, no que o xadrez competitivo me estava a tirar de coisas importantes da vida. Um jogo, um simples jogo, nada mais do que um jogo, belo, complexo, mas...um jogo. Qual vida, qual caraças! Essa encontra-se muito para além de 32 peças e um quadrado aos quadrados.
    Acho que depois desse dia, joguei mais cinco partidas de competição - sem qualquer prazer, diga-se, mesmo 3 que joguei contra GM. Na, o coração não estava nada aos pulos...juro-te,calmissimo apesar de estar a representar o meu GXP e por tática ir para o 1º tabuleiro. Nenhuma emoção? Nenhuma. Há malta que não acredita. Paciência!
    Emoção, emoção, gosto, gosto pelo xadrez como não sentia há muito, senti-o no nosso Torneio da Luso Xadrez - O Bacorinho. na Bairrada..lembras-te? Foi das experiências mais gratificantes da minha vida de xadrez!
    Abraço forte!
    Ah! Europeu de Veteranos??? Jogos às 10h? Anda tudo louco?

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