XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

05/02/11

Mestre JOÃO CORDOVIL





Tem um Blogue “Jogo Real”.

Tal como esperava, humor fino, alguma contida ironia, mas sobretudo, uma belíssima escrita, uma prosa de quem já muito palmilhou nas escritas estradas do xadrez português.

A temática do seu primeiro post, para além do espírito crítico, de uma riqueza prática assinalável e cujo conteúdo deveria ser impresso mentalmente por qualquer jovem jogador que se preze a ter aspirações, por treinador de que não nos envergonhemos, por amante de xadrez que queira iniciar ou completar biblioteca. Chamou-lhe “Biblioteca de Mestre-Aprendiz”, chamar-lhe-ia antes, “Biblioteca Inicial da Nossa Xadrezística Paixão”, pela diversidade, pela temática, pela qualidade das propostas apresentadas. Digo inicial, porque Mestre Cordovil só “dispunha “ de cerca de 600 de Euros para a sugestão. Meteria a foice em “seara alheia” se na sugestão e por mais uns cobres, se pudesse encaixar um tabuleiro de madeira com casa obrigatória entre 5,5 e 6 centímetros e umas peças Staunton 5-6 de qualidade.


Muito haveria a dizer de Mestre João Cordovil, do seu papel no xadrez português, da sua qualidade invulgar de lutador de competição, do seu amor à modalidade, da sua cultura xadrezista, da sua qualidade de divulgador da modalidade nos meios de comunicação social e, sem despeito para ninguém, até hoje sem paralelo, do seu empenho em melhorar a modalidade através de propostas credíveis, fortemente exequíveis, que devido às cabeças ocas, aos cérebros lâmpadas de filamento que vão (des) governando o xadrez português vai para anos, nunca, ou quase nunca foram tidas em conta.


O que tenho a dizer de Mestre João Cordovil (sempre o tratei assim, e sempre o tratarei assim, porque na minha categorização interior do xadrez português, não é Mestre quem quer, mesmo com “fidescas” letrinhas maiúsculas), disse-lho através de um diálogo travado no antigo Blogue Ala-de-Rei do amigo Francisco Vieira, no seguimento de um comentário do Mestre, ao pouco reconhecimento da sua entrega e trabalho ao xadrez que os xadrezistas portugueses demonstravam. Talvez seja verdade, sim senhor, ou pelo menos semi – verdade, porque mais do que não reconhecimento, em determinados círculos (mais “capitaleiros”), houve sim, despeito, lugar-comum, inveja, ou como mais frequentemente apelidamos: “dor-de-corno” em relação a Mestre João Cordovil. Malhas que o Xadrez português tece!

Neste meu blogue Já dediquei um artigo a Mestre João Cordovil intitulado " Um Livro ... e João Cordovil", agora junto-lhe duas partidas de que gosto particularmente. São duas partidas que definem um pouco o seu estilo. Duas partidas de ataque, expeditas, de uma grande elegância conceptual na forma simples e directa de conjugar espaço-tempo, melhor disposição das peças e forma de ataque ao Roque negro. Curiosidade: em ambas as partidas: os seus adversários parecem não ter cometido erros graves, ou seja, não existe um lance, ou sucessão de lances que dite o triste destino do Rei negro, ou talvez exista…as Negras terem realizado o lance universal aconselhado - o Roque.
Depois, uma terceira partida em que Mestre Cordovil, através de belom labor posicional, obtém uma magnífica vitória contra Vega Holm

Cordovil,Joao Maria - Garcia Martinez,Silvino [B80]

Siegen ol (Men) qual-E Siegen (6), 10.09.1970

B80: Defensa Siciliana (variante Scheveningen)

[Arlindo Vieira]

1.e4 c5 2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 d6 6.Bg5 Be7 7.f4 h6 8.Bxf6 Bxf6

A mesma variante que irá utilizar muitos anos depois na partida com Luís Galego

9.Dd2 a6 10.0–0–0 0–0 11.Rb1

[11.g4 Cc6 12.Cb3 Db6=]

11...b5

[11...Db6 12.Cf3=; 11...Db6 talvez não fosse de desprezar]

12.g4! Bb7 13.Bg2 Cd7


(13...b4)

14.e5 Bxg2 15.Dxg2 dxe5 16.fxe5 Bh4 17.Cf3 Ta7?
[17...Be7 18.Thg1;
17...Be7 18.h4 Tc8 19.g5 h5 20.Ce4 Tc4 21.De2 Dc7 22.b3 e as Brancas mantêm a superioridade]

18.Ce4 De7


[18...b4!?±]

19.g5+-


[19.Cxh4?! Dxh4 20.Td4 Cxe5=]

19...Bxg5 20.Cfxg5 hxg5?

[¹20...Cxe5 21.Cf3 Cc4+- e as negras devem tentar sobreviver ao ataque Branco com uma peça por dois peões, o que se tornará quase impossível devido à excelente coordenação das peças brancas e às linhas abertas sobre o Rei negro]

21.h4 g4

[21...f5 22.exf6 gxf6 23.hxg5 Dg7 24.g6]

22.Txd7!

Elimina praticamente o único defensor do Rei

22...Txd7 23.Cf6+ Rh8

[23...gxf6 24.Dxg4+]

24.Dxg4 g6

[24...gxf6?? refuta-se com mate em 2- 25.Dh5+ Rg7 26.Tg1#]

25.h5

[25.Cxd7? Dxd7 26.h5 Dd5+-]

25...Rg7 26.hxg6

[26.hxg6 Td1+ 27.Dxd1 Dxf6 28.Th7+ Rg8 29.exf6 Te8 30.Tg7+ Rf8 31.Dd6+ Te7 32.Dxe7#]

1–0




Cordovil,Joao Maria (2300) - Galego,Luis (2405) [B98]

Lisboa-chB (6), 1992
[Arlindo Vieira]

1.e4 c5 2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 d6 6.Bg5 a6 7.f4 Be7 8.Dd2 h6 9.Bxf6
receita de Mestre Cordovil que já havia aplicado em várias partidas, nomeadamente contra o GM Silvino Garcia-partida acima. Cede-se um bispo, também não deixa de ser verdade que se elimina uma peça importante defensivamente num possível ataque no flanco de Rei, o Cavalo de Rei.

9...Bxf6 10.0–0–0 Dc7 11.Rb1 0–0

Talvez fosse preferível retardar o Roque e aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Ou iniciar uma acção no flanco de Dama, ou tentar um reagrupamento de peças com um plano à base de Cd7 (controlo da casa e5) e talvez um futuro retorno do Bispo à casa siciliana de origem e7

[11...Bd7 12.Be2 0–0 13.g4 b5 14.Bf3 b4 15.Cce2 Cc6 16.Cxc6 Dxc6 17.Dxd6 Tac8 ; 11...Cd7 12.g4 g5 13.f5 Ce5 14.Be2 b5]

12.g4 b5

[12...Cc6 13.Cb3 (13.Cxc6 Dxc6 14.Dxd6 Bxc3 15.Dxc6 bxc6 16.bxc3 c5 17.Bc4 Bb7) 13...Be7]

13.Bg2 Bb7

Novamente se coloca a questão se este Bispo não estaria melhor posicionado defensivamente na diagonal c8-h3, e se não seria sensato jogar a Torre a a7 [13...Ta7]
14.h4 Cc6

[14...e5?! era muito duvidoso, pelas casas f5 e e5 ficarem irremediavelmente enfraquecidas]

15.Cxc6 Dxc6 16.Ce2 Be7 17.g5

Começa o ataque no flanco de Rei. Olhando desapaixonadamente para a posição, o espaço controlado pelas Brancas é claramente superior, a possibilidade de manobra das peças Brancas mostra futuro e apesar do par de Bispos das Negras, sente-se que a dificuldade de coordenação das peças não é a melhor e que ao monarca Negro parece faltar defesa adequada

17...h5

[17...Dc4 18.Cd4 (18.gxh6 gxh6 19.Cd4 Rh7 20.e5 Bxg2 21.Dxg2) 18...h5 19.f5±]

18.f5 exf5

[18...Dc4!? 19.Thg1 Tfc8± 20.f6 Bd8 21.fxg7 Bxe4 22.Bxe4 Dxe4 23.Cf4 com clara vantagem]

19.Cd4+- Dc4 20.exf5 Bxg2

[20...d5 21.f6 Bc5 22.fxg7 Tfe8 23.Df4 Bxd4 24.Txd4 De2 25.g6]

21.Dxg2 Tfe8

[21...d5 22.Th3+-]

22.b3

[22.Df3 Tac8 23.Dxh5 b4+-]

22...Dc5

[22...Dc3 23.Thf1 Ta7 24.f6+-]

23.Df3

A posição Branca é tão favorável que outros lances dariam vantagem quase decisiva [23.The1 Dc7+-; 23.f6 Bf8 24.g6]

23...Bf8

[23...Tac8+-]

24.g6 Ta7

[24...Tac8 25.Dxh5 fxg6 26.Dxg6+-]



25.Dxh5

[25.Thg1!? também ganhava 25...Te5 26.Tg5 fxg6 27.fxg6 Txg5 28.hxg5 Dxg5+-]

25...fxg6 26.Dxg6 Tf7 27.Thf1

[27.f6 também ganha 27...Tc8 28.Thg1 De5+-; 27.f6 De5 28.Cf5 Txf6 29.Ch6+ Rh8 30.Cf7+ Txf7 31.Dxf7]

27...Be7??

Um erro numa posição desesperada [27...Dc3+- 28.f6 Te3 29.fxg7 Txg7 30.Dh5 Be7 31.De8+ Rh7 32.Tf5 Te5 33.Dh5+ Rg8 34.Txe5 dxe5 35.Ce6]

28.f6!

[28.f6 Bxf6 29.Txf6 Txf6 30.Dxe8+ Tf8 31.Dxf8+ Rxf8 32.Ce6+ Rf7 33.Cxc5 dxc5 34.Td6+-]


1–0


Cordovil,Joao Maria (2220) - Vega Holm,Fernando (2410) [C15]
Masters 6th Loures (6), 07.12.1998

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Bb4 4.Cge2 dxe4 5.a3 Bxc3+ 6.Cxc3 Cc6 7.Bb5 Cge7 8.Bg5 f6 9.Be3 f5 10.Dh5+ g6 11.Dh6 Rf7 12.0–0–0 Cg8 13.Df4 Cce7 14.Cxe4 Cd5 15.Cg5+ Rg7 16.De5+ Cgf6 17.Bd2 a6 18.Be2 b5 19.Bf3 Te8 20.h4 Dd6 21.The1 Bd7 22.Dxd6 cxd6 23.Bb4 h6 24.Ch3 Ce4 25.Bxe4 fxe4 26.Bxd6 Bc6 27.Td2 Rf7 28.Bf4 Cxf4 29.Cxf4 a5 30.Te3 Tad8 31.Tc3 Td6 32.Tc5 Ted8 33.c3 Rf6 34.g3 g5 35.hxg5+ hxg5 36.Cg2 Th8 37.Ce3 Be8 38.Cg4+ Rg6 39.Te2 Td5 40.Txe4 Td6 41.Tee5 Th5 42.Rd2 Bc6 43.Ce3 a4 44.Re2 Rf6 45.Cg4+ Re7 46.Txg5 Th1 47.Tg7+ Rd8 48.Ce5 Be8 49.Tcc7 Tb1 50.Ta7 1–0










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