XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

26/09/10

SPASSKY...BORIS VASILIEVICH




Nos últimos tempos uma tristeza imensa. Foi Fischer, Foi Lilienthal, Smyslov, Bent Larsen e agora... Um Xadrez, um Xadrez magnífico que se vai extinguindo. Restam Ivkov, Portisch, Gligorich, Uhlmann, Hort e poucos mais.

Um fortíssimo AVC parece ter colocado Boris Spassky entre a vida e a morte. Tinha recuperado de um outro há pouco tempo, e agora parece que Caissa o quer recolher ao seu seio.

Spassky, juntamente com Lasker, um dos meus heróis do xadrez, um dos Campeões do Mundo que mais aprecio.


Jogador como poucos, completo em todas as fases da partida, um gentleman, um Homem de cultura, um Homem que irradia simpatia e que encara o xadrez de uma forma universal muito para além do campo competitivo, o que acabou por lhe trazer problemas na sua Pátria ( e só ele saberá o que passou depois da derrota com Fischer). O que representam as "Tablas" de Spassky? O que representou o ser regresso a um Match com Fischer ( a sua necessidade, ou a compreensão da miséria material de Fischer?)

Isto individualizava-o perante outros jogadores e mostrava-o um Campeão do Mundo sereno, calmo, para quem o Xadrez não era a própria vida, mas sim uma faceta, se calhar nem a mais importante do seu Ser. Com uma filosofia de vida adversa a neuro ou psicopatias, tão comuns em alguns Campeões do Mundo, narcísico o suficiente para controlar o seu narcisismo, em Spassky não existia o ódio, o instinto de serial -killer, apanágio de muitos dos seus colegas. Contudo era um jogador fortíssimo, um "allaround" do tabuleiro que dominava na perfeição a arte da defesa, ou os ataques mais encarniçados.


Não sendo um teórico por natureza, dominava muitíssimo bem as aberturas que jogava, fosse a Espanhola, ou a Tarrasch, ou a Tartakower-Makogonov do Gambito de Dama. As partidas de Boris Spassy são um tratado de bem jogar em todo o tabuleiro e qualquer jovenzinho que se pretenda jogador de xadrez, só tem de aprender com elas, sobretudo com a clareza das ideias estratégicas de Spassky, com os golpes tácticos a preceito, com a capacidade de decisão e análise deste extraordinário Campeão do Mundo.

Talvez por isso e por averso ao espectáculo, ao mediatismo, Spassky continuou enigmático, pouco conhecido e pouco estudado. Basta contar os livros que lhe foram dedicados...muito poucos. Só no ano 2000, os seus amigo Krogius, Golubev e Gutman lhe prestaram a homenagem xadrezista merecida com com quase mil páginas dividas em 2 volumes, numa obra monumental em russo. Antes apenas o sofrível Cafferty ( apesar de tudo um dos meus primeiros livros de xadrez e que me fez amar o jogo clássico e cristalino de Spassky), o bom Soltis, e mais recentemente o simbólico Spassy's 400 Wins de Khalifman.

Coisas do destino, coincidências que me surpreendem. Na manhã de 5ª Feira passada a chegada da Abebooks de uma remessa de livros de Xadrez, alguns bastante raros e entre eles uma preciosidade que faltava na minha Biblioteca xadrezistica: O "Second Piatigorsky Cup" sobre o Torneio jogado em S. Mónica, Califórnia no ano de 66. Livro fabuloso em cada partida é analisada por ambos os jogadores ( excepto Fischer, que só comenta uma: com Najdorf), ou seja, praticamente 90 partidas cada uma com comentários dos dois jogadores, o que dá uma visão extraoirdinária e multifacetada da forma como cada jogador via o desenrolar da luta no tabuleiro. E claro... Spassky nesse livro, e o brilhantíssimo vencedor do Torneio. E minutos depois num site de xadrez internacional a dolorosa "novidade" sobre a saúde de Spassky.

Desde esse dia, vários dias com Spassky, os livros sobre Spassky, as fotos deste grande campeão.

Neste meu blogue, alguns livros indispensáveis, uma ligação para o You Tube onde coloquei um pequeno apanhado de fotos num vídeo ( já lá se encontra o de Emanuel Lasker) e partidas de Spassky, quase todas do Livro que referi acima acabado de receber, com humilde tradução para Português deste vosso criado.





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