Finalmente!!
Encantado como menino com brinquedo novo. Já o afirmei neste blogue e repito: ao contrário de milhões de xadrezistas em todo o mundo, o meu ídolo de xadrez primacial, aquele que considero o maior jogador de todos os tempos e o Campeão do Mundo mais fascinante e ao mesmo tempo mais obscuro, estranho e ainda por estudar na sua plenitude, quer na sua concepção de jogo, quer no seu inclassificável estilo: Emanuel LASKER.
Este homem e este enorme jogador, nunca tinha até agora uma biografia à sua medida, uma colecção de partidas comentadas com a profundidade e dignidade merecidas e a razão desses lapsos está no próprio Lasker, na multiplicidade da sua vida, na sua enorme bagagem cultural, que nunca foi abundante nos Campeões do Mundo de Xadrez, na complexidade e estranheza do seu xadrez, que escondia uma profundidade visionária quase diria moderna, uma concepção muito actual do xadrez, uma capacidade de cálculo extraordinária, aliada a uma capacidade de luta prática no tabuleiro como poucos, muitas vezes isenta de concepções, de escolas, aceites na época.
Abandonava o xadrez prático quando queria, ou regressava quando entendia, mas absorvia como esponja as novas teorias, as novas ideias, estudava xadrez e o xadrez da sua época, analisava à lupa as partidas dos seus adversários no recanto do seu isolamento, sabia como ninguém, adaptar e adoptar o seu xadrez, quase anti – xadrez para o xadrez dos adversários que claramente muitas vezes não compreendiam o seu jogo, nem sequer como ferreamente Lasker conseguia impor a sua força no tabuleiro.
Uma técnica defensiva das mais perfeitas que algum dia se colocou num tabuleiro de xadrez, baseada sempre numa actividade latente, num contra-ataque sempre à espreita, numa espécie de “aranha” xadrezística que pacientemente tecia a teia onde o adversário muitas vezes se enredava. Uma capacidade de adaptação a situações novas e extremas surgidas no tabuleiro, muitas vezes por si provocadas, uma paciência de espera, muitas vezes concretizadas numa passagem para um final de jogo, onde Lasker foi praticamente inultrapassável (só Capa e Rubinstein com ele puderam rivalizar) aliada a uma capacidade de cálculo sintético notável tornaram este grande Campeão numa lenda.
Assim, não é de estranhar, o medo, o receio que foi tolhendo muitos autores de xadrez de se abalançarem numa análise do jogo de Lasker, do estilo de Lasker, das partidas de Lasker. Depois surgiu a “mitologia”, que surge normalmente na diferença, na estranheza, na não compreensão. O Lasker que propositadamente caía em situações difíceis no tabuleiro para confundir o seu adversário, o Lasker “jogador de Café”, o Lasker quase “hipnotizador”, e por aí fora.
Assim, Lasker o Campeão do Mundo mais maltratado pela literatura xadrezística quer em quantidade, quer em qualidade. E acredito hoje, como acreditava vai para anos, que tal facto se deve a esse temor que Lasker criava em quem procura estudar as suas partidas, em quem procurava uma lógica clara e cristalina Steinitziana nas suas partidas, uma tentativa de enquadramento hipermoderno noutras, quando Lasker, assimilando tudo isso, não era nada disso. Era LASKER, é o Grande LASKER.
Salvo erro em Janeiro de 2001, um grupo de apaixonados por Lasker resolveu criar a “ Emanuel Lasker Gesellschaft “, ou seja, a Sociedade Lasker de Berlim, com o objectivo de preservar todo o legado deste génio do xadrez. Começaram por recuperar a casa de Verão de Lasker em Thyrow e a partir de 2005, passaram a variadíssimas actividades desde conferências, passando pelo apoio à publicações de livros de e sobre Lasker. Esta Sociedade contra com nomes prestigiados do mundo do Xadrez, da História do Xadrez, e como não podia deixar de ser, com o nome daquele que no século XX, mais se aproximou pelo estilo de jogo e concepção do xadrez ( aliás, Lasker é também o seu ídolo do xadrez) , VIktor KORCHNOI.
Assim fiquei de esperanças, que desta instituição saísse algo que trouxesse Lasker ao mundo dos vivos, que repusesse este gigante no lugar que merece no mundo do Xadrez, principalmente ao nível da biografia, da iconografia, das partidas. Assim aconteceu para minha alegria: mais de 1000 páginas, um livro com 4 quilos, quase trinta colaboradores, mais de 100 Euros, o preço, em alemão (não se espera tradução) para minha tristeza e trabalho do Power Translator.
Mas vamos com calma. O que tenho sobre Lasker? Como fui alimentando o meu fascínio pelo Grande Emanuel?
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