XADREZ MEMÓRIA

Xadrez de memórias, histórias e (es)tórias, de canteiro, de sussurro, de muito poucos...

08/07/09

WALTER TARIRA ...Ainda e Sempre




Uma emoção forte ao ler na Luso Xadrez o formidável texto do Walter que o Russo recuperou de 2004 ( e que teve a amabilidade e generosidade do mo colocar mos comentários ao meu post). Nele, depois do seu belíssimo texto O Walter agradece as minhas palavras sobre o que se tinha passado no Hall do Novotel em Gaia em Gaia, nesse Nacional da 1ª Divisão por equipas. E o que se tinha passado, foi muito simples: um dirigente de um Clube presente na competição, nosso companheiro de cavaqueira naquele momento, acabara de confessar numa angústia enorme a dor que o inundava depois da morte da esposa, ainda mulher relativamente jovem, uns dias ou semanas antes. O Walter foi inexcedível nas palavras de conforto e incentivo ao colega, sempre numa serenidade e percepção terna da vida como raramente presenciei. Depois, na Luso Xadrez, fiz um relato do Torneio em que afirmei que nessa competição só duas coisas valeram a pena: a dor do colega e o xadrez como conforto e o ter conhecido o Walter Tarira em pessoa. O que escrevi sobre o Walter mantêm-se mais premente do que nunca. Ficarei sempre dele com a imagem que dele retirei, a minha imagem, o "meu" Walter Tarira.

" Nada disto tem importância, tão ligeiro, tão humana e fragilmente fugaz que não tem importância, que me faz sorrir depois da tempestade da irritação passageira! Um jogo, simplesmente um jogo ( sempre as palavras do Bronstein) a ecoar nos meus ouvidos, e nós a querermos fazer disto uma vida, a vida! Portanto esqueçam o que escrevi! Perdoem-me o meu escrevinhar, o meu humano desabafo, porque como de costume aí estou eu a perder-me do essencial deste post! E o essencial para mim deste Campeonato foram duas coisas simples, simplíssimas! Juro! Não, não foi jogar com três GM! Coitado de mim! Já com “glórias vãs não me iludo”!


Ao fim de muitos anos de xadrez… Conheci um “fauno” pleno de jovialidade, de “sagesse”, de categoria de saber pensar com inteligência - sensibilidade. Talvez dos raras personagens de xadrez que conheci que alia a não seriedade à seriedade das coisas da vida e do mundo, como elas devem ser encaradas! O sério no não-sério! Regalava-me com muitos dos seus escritos na Luso Xadrez”, regalei-me com hora e tal de conversa com o “fauno”! Tão humano, tão deliciosamente humano, que com quase 50 anos de vida e fascinar-me com uma pessoa, é obra! Não digo quem… digamos que é um tal WT (porra, parecem as iniciais de um automóvel!), raçado de deus (naquilo que um deus de letra minúscula tem de terreno) e humano (naquilo que um Humano com letra maiúscula, tem de deus). Uma dúvida: teriam os faunos grisalha barba? Uma dúdiva: Os óculos aumentam-lhe a visão humorística do mundo?



E ainda, o mais importante! Apetecia-me “borrar” toda a borrada que escrevi antes do penúltimo parágrafo! Nada tem importância, nada para mim conta, porque senti a dor de um Homem do Xadrez. Juro-vos pela minha alma ( e isto escrito, perde o que sinto e como tal se calhar não o deveria escrever) que estou triste , profundamente triste! O meu lado a Oeste de mim está comovido sem remissão, porque alguém do xadrez, naquela sala ,naquela confusão, naquele burburinho, naquele cadinho de emoções aos quadradinhos, estava a sofrer terrivelmente com um drama pessoal terrível, trágico e doloroso. Surgiu natural de uma conversa em trio, a notícia, o “murro de boxeur” na boca do estômago, o ficar sem fôlego perante o sofrimento em gente! Eu e o WT, sem estratégia que nos valesse! Algumas palavras belíssimas de conforto do WT, mas a dor aferrada no olhar, nos gestos, na alma da nossa terceira personagem! Ali, um Homem, um Colega de Profissão, um Xadrezista, dor em gente e nós nus de palavras, porque supérfluas. Ali sim o que interessava, nada mais! Separamo-nos, o WT, para o seu destino quilométrico a esperar, eu para os meus head-phones e o reconforto do “Blue” da Joni Mitchell. Deu-me os parabéns, que escrevia bem, mas saberei eu ser? Terei eu lugar neste individualismo estratégico xadrezístico, onde por vezes se tratam pessoas como peças de xadrez, e se quer alcandorar um jogo à qualidade e essência da vida? Não o conhecia pessoalmente, não tive a coragem daquele abraço solidário invasivo daquela dor solitária. Não interessa quem é, nem ele quereria que se soubesse! Aconteceu tudo numa breve hora de uma jornada final de um Nacional por equipas, num qualquer hotel de Gaia. (...)


Escrito pela madrugada dentro, comovido a Oeste, pacificado a Este de Mim no dia 11 de Agosto de 2004 "


Foto ( das melhores do Walter) "roubada", ele não se importará certamente, ao belo Blogue do João Fernandes Santos "Fotografia e Xadrez"



6 comentários:

  1. Arlindo, recuperei outro texto do velho "Lusoxadrez" e, esse coloquei-o no Lusoxadrez. Também ele fala de ti.

    http://lusoxadrez.forumvila.com/viewtopic.php?f=6&t=484#p1393

    Abraço, António Russo

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  2. Aos amigos do xadrês, como meu irmão dizia, agradeço as bonitas palavras aqui e em vários outros links deixadas.
    Era o meu unico irmão. Ainda me servia de tecto e agora estou à chuva.
    Os meus agradecimentos

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  3. Acabo de chegar de férias e a notícia inesperada vem sem bater à porta do ecran do computador!...

    O Walter, o "velho" Walter, de que ninguém tinha nada a apontar...talvez quem o conhecesse mal dissesse que não era grande jogador:
    Esses eram os que não eram (ainda) seus amigos, porque, como ele próprio dizia, "os meus amigos sabem que, na realidade, não sei jogar xadrez"...

    Talvez isso fosse verdade sim (embora muitas vezes o Walter se divertisse imenso ao baixar voluntariamente o seu nível de jogo, dado que o fazia de uma forma que parecia genuína e iludia assim quem não o conhecesse bem...o que ele se divertia com isso...)

    De qualquer forma, o próprio Walter era o menos interessado no seu nível de jogo, dado que desde há muito entendera o xadrez como pretexto previligiado de debate filosófico, fraterno e humorístico...para ele, os intervalos entre os lances, e entre as sessões dos torneios, eram a substância e o xadrez o seu invólucro...
    ...e não é esta também (ou acima demais) uma bela forma de ver o xadrez?!

    E não é natural que assim seja quando, no meio de uma sala de análises e convívio xadrezístico, o Walter afirma "vocês que aqui estão, são também a minha família!" (Campo Grande, 2000).

    Um forte abraço Walter, vais fazer cá muita falta porque parecidos contigo não há muitos...não haverá mesmo nenhum outro!

    António Castanheira

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  4. Dalila Tarira
    Quando um vencedor comete um erro, diz:
    “ Eu errei”
    Quando um perdedor comete um erro, diz:
    “ Não foi culpa minha
    Um vencedor trabalha duro e tem tempo.
    Um perdedor está sempre muito ocupado para fazer o que é necessário
    Um vencedor enfrenta e supera o problema
    Um perdedor dá voltas e nunca consegue resolvê-lo
    Um vencedor se compromete
    Um perdedor faz promessas
    Um vencedor diz:
    “ Eu sou bom, porém não tão bom como gostaria de ser”
    Um perdedor diz:
    “Eu não sou tão ruim como tantos outros”
    Um vencedor escuta, compreende e reponde.
    Um perdedor somente espera uma oportunidade para falar
    Um vencedor respeita aqueles que são superiores a ele e trata de aprender algo com eles.
    Um perdedor resiste àqueles que são superiores a ele e trata de encontrar seus defeitos.
    Um vencedor se sente responsável por algo mais do que somente o seu trabalho.
    Um perdedor não colabora e sempre diz:
    “ Eu somente faço o meu trabalho”
    Um vencedor diz:
    “ Deve haver melhor forma de fazê-lo…”
    Um perdedor diz:
    “ Esta é a maneira que sempre fizemos”
    Um vencedor compartilha esta mensagem com seus amigos…
    Um perdedor guarda-a para si mesmo porque não tem tempo…
    Estas palavras ouvi algumas vezes pelo meu pai, um grande pai pois nunca me deixou só, esteve sempre presente, ele é que se fosse vivo diria o contrário, ehehehe, "estes filhos de agora não respeitam a familia...." conheci um dos alunos dele na Mague, um dia disse-me " gostava de sêr filho do teu pai" naquele tempo eu não via o pai que tinha, o tempo sempre o tempo, para aprender quando se perde...

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  5. Deixo uns dos trabalhos que o meu pai fez e me enviou em pps, Nuno Jorge transformou-ou em Video. Uma forma que meu pai: Walter Tarira encontrou para transmitir seus sentimentos.

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  6. Uma forma de meu pai Walter Tarira encontrou para transmitir seus sentimentos!

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