28/08/13

Requiem por um Xadrez







Desaprender, voltar ao núcleo fundamental do fascínio.

Ao inocente olhar primeiro
da selvagem imaginação,
ao mistério a desvendar,

Àqueles brancos quadrados, voz do silêncio
aos  negros quadrados, voz do assombro

sonho impossível de regresso
à casa primeira de olhar embevecido, atónito
de incompreendidos e geométricos movimentos
bailados no silêncio e assombro da mesa do xadrez. 

Impossível sonho agora
morto pela evidência, pela determinação, pelo saber
pela cegueira da lucidez.

No branco tempo dos relógios
perdido o arco vazio do segredo
do inominado, da ignorância celeste
que é a inocência

Caíssa tatuou-me  nas mãos cerradas portas,
difícil abrir janelas para o vazio.
Procura desesperada e perpendicular
da luz antiquíssima dos meus olhos
de ver claro.

Desaprender o Xadrez, desamar o Xadrez
nesse vazio que ficou... porque alguma coisa estava lá,
para o reamar de novo, reaprender a ver,

Neste mar cavalo branco de fim de tarde
em que o dia reclamando outro 
veste a sua nudez.

Arlindo Vieira






2 comentários:

  1. Boa noite, o site Xadrez Brasileiro acaba de disponibilizar um novo widget. Através dele o seu blog poderá exibir as últimas atualizações dos melhores blogs de xadrez do Brasil.

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  2. Simplesmente belo.
    Caro Arlindo como é possível escrever sobre este estilo de xadrez? Você continua a insistir num estilo de escrita que não é acessível a muitos, ou quase ninguém ligado ao xadrez. Talvez até interesse mais, mesmo a quem nada saiba de xadrez. O artigo de Vitolinsh sobre os imaginados últimos momentos da sua morte é qualquer coisa de sublime e que mereceria outra repercusão. Os arigos sobre xadrez e cultura são fruto de alguém muito atento a um poutro mundo fora das 64 casas, ter a coragem de mostar a sua biblioteca de xadrez, o seu texto poema sobre o fascínio e inocência de quando se aprende o jogo, é notável.
    Este blogue tem pérolas surpreendentes e talvez por isso gente que por aqui passa tenha problemas em comentar. Uma pessoa sente-se intimidado com o que escreve. O Xadrez Memória é tão diferente de quase todos os blogues de xadrez em língua portuguesa. E ainda bem. Parabéns e continue. Fico à espera de outros excelentes artigos com que nos brinda.

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