19/11/12

PEÇAS XADREZ PLÁSTICAS PORTUGUESAS 1











Vamos lá dar dignidade fotográfica a estas peças. Posso estar enganado, mas foi o primeiro jogo de peças plásticas a aparecer em Portugal depois do 25 de Abril, correspondentes ao plano de desenvolvimento do Xadrez em Portugal. Lembro-me de estar a trabalhar no Serviço Cívico ( um ano zero, antes da entrada na Universidade - Quem ainda se lembra disso?) no Governo Civil do Porto no  IARN-Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais (e não gosto nem do nome nem da forma pouco digna como estas pessoas foram tratadas) quando por volta de Fevereiro Março, recebi ordem de marcha juntamente com outros colegas xadrezistas na mesma situação, para ir por várias escolas do Ciclo Preparatório/Ensino Secundário ensinar xadrez. Sei que nos facultaram através da Associação de Xadrez do Porto, dezenas de tabuleiros de platex e respetivas peças em sacos plásticos que eram precisamente estas.



 



A- Sei que neste movimento de massificação do Xadrez, cheguei a ir a ir como simultaneador a um parque em Coimbra, (a visita de Ramalho Eanes foi ponto de honra) onde estavam milhares de jovens e como tal , centenas e centenas destes tabuleiros, e, se a memória não me falha esteve por detrás deste acontecimento o Madeira (não me lembro do primeiro nome) na altura o grande dinamizador do xadrez na zona centro. Lembro-me que no fim da simultânea se vendiam, ou mesmo davam jogos destes, porque efetivamente eu vi-os aos milhares em caixas, em sacos plásticos. Sei também que numa Revista da FPX, se dá notícia deste acontecimento, talvez o maior em dimensão realizado no nosso país.




B- Estas peças e tabuleiros de platex foram distribuidos por Clubes, agremiações variadas e arrisco mesmo, tascos, tabernas e afins, porque lembro-me de em situações curiosas de jogos de ténis-de-mesa, ver estes tabuleiros e peças em agremiações quem nem xadrez tinham!


C- Não posso afirmar com certeza, mas acho que os jogos foram fabricados em Espanha, com molde espanhol e na ordem de muitos muitos milhares, porque a massificação do xadrez existiu mesmo ( se bem ou mal feita, não me interessa aqui discuitir) e, por isso sou capaz de entender os vários fatores em jogos: necessidade-rapidez de fabrico- preço, versus qualidade. Extraordinário, é que nunca vi estas peças em qualquer lugar, nem sequer no mercado espanhol, ou mesmo como peças de xadrez de ensino em Espanha. Talvez por isso, ache que este jogo foi mesmo feito só para Portugal. Será assim?


D- Plástico razoável, mas moldagem imperfeita com  as linnhas de união claramente visíveis e aqui e ali muitas imperfeições nas próprias peças. Algumas, principalmente Bispos, saíram tortas, ou mesmo com alturas imperfeitas. Apesar de serem um chamado Staunton 4, com Rei de 7cm ( e qualquer coisinha) as peças apresentam a desejada proporção descendente do Rei para a Torre, pese terem um Cavalo feio até dizer chega! ( Em casa, pura e simplesmente nem lhes tocava - usava umas peças espanholas que embora plásticas eram magníficas de tamanho e peso).


E- A maldade dos xadrezistas da època criou a lenda que o "rosto"do cavalo tinha sido inspirada em "excelsa personagem" feminina que gravitava no xadrez português, à sombra de não menos excelsa personalidade masculina! Por decoro, guardo para mim a dita cuja. Maldade xadrezistica, claro.



F- Os tabuleiros de platex , numerados e letrados tinham de lado direito o símbolo da DGD e as palavras " Direito ao Desporto" e sem poder afirmar com cem por cento de certeza, foram os primeiros tabuleiros a aparecer, ainda antes dos de vinil verdes. Eram tabuleiros engraçadissimos, pois com o tempo, a humidade, ou o calor, o platex pura e simplesmente curvava, e, cheguei a jogar em alguns cujo movimento mais brusco de peças, os fazia girar - juro! O contraste entre as casas brancas e negras, era entre um castanho claro e um castanho escuro, que embora suficiente, poderia ser melhor.. Os 5cm de casa chegavam e sobravam para o tamanho das peças, mas este platex, sujava-se com uma facilidade espantosa e como não eram laváveis, imaginam as manchas incríveis que alguns apresentavam, denunciadores da comida ou bebida com que perto de si alguém resolvera tirar a barriga de misérias. Alguns estavam porcos, porcos, porcos! 
Depois... estes tabuleiros permitiam um xadrez que bem, ou mal jogado, era lindo: o Xadrez sonoro! Eu explico, não era o barulho de uma peça a bater na outra numa captura, não! Era aquela "Tchloc", aquele som cavo que nunca mais esqueço do colocar qualquer peça numa casa que pelo tabuleiro ser de platez e a peça não ter feltro, fazia um barulho magnífico que todo o xadrezista entradote conhce"Tchloc"! Os tabuleiros de vinil vieram acabar com este som inesquecível!
Tenho dois, quem nem sei como chegaram atá mim, mas  têm carimbo da AXP-Economato com o número 1021 de tabuleiro! Vai para muitos anos, ainda longe destas coisas do passado e do amor à preserverança da memória do xadrez, como estavam imundos de nódoas resolvi torná-los apresentavéis cobrindo-os de papel auto colante. Estraguei tudo! E quase  apetece esbofetear-me !










G- Hoje estas peças ainda existem em muitos clubes, ou aqui e ali, abandonadas em armários e fundos de sedes de clubes. O Meu GXP, tem ainda bastantes jogos, embora quando fiz o inventário, descobrisse que estavam muitas peças misturadas com outros jogos.
Lembro-me que numa Preliminar do Nacional, na antiga sede da FPX (Luciano Cordeiro?) numa sala quase que se pisavam as peças de xadrez, tantas eram -  milhares! Eram sacos e sacos e sacos e tabuleiros verdes espalhados por tudo o que era sítio.
Os tabuleiros de platex que referi, ainda existem mas começam a ser uma raridade e gostava que quem os possuisse , percebessem que neles está um bocado da História do Xadrez Português.









H- Apesar de as achar umas peças de xadrez vulgares, medíocres de design e sobretudo pouco adaptadas à competição, elas foram as peças de Nacionais individuais e coletivos e durante anos rainhas dos tabuleiros. Quase que se colaram ao xadrezista português pela sua inevitabilidade e persistência no tempo. Hoje rio-me quando me lembro que no meu único Nacional absoluto em S. João da Madeira , joguei com estas "queridas"! Bem Hajam!

(Clicar para aumentar as fotos! Toda a liberdade de as guardar para memória futura!)

5 comentários:

  1. Professor Arlindo Vieira,
    A ver se posso dar uma modesta ajuda aos seus preciosos memoriais.

    a) Armando Gomes Madeira será a pessoa a que se refere. Era presidente da Associação de Xadrez do Centro por essas datas. Penso que também se ocupou do Inatel.
    ‘Contudo é bom não esquecer o relevante papel do dr. Fernando Mendes Silva (delegado da Direcção-Geral de Desportos) , tanto antes como depois do 25 de Abril, na dinamização do desporto local com particular incidência nas iniciativas sobre xadrez : dos jogos do Secretariado da Juventude, aos “matches” disputados nas piscinas (creio que dois) e ao material sobre iniciação ali impresso.
    A revista Portuguesa de Xadrez que indica é a nº. 4 da II série de 04 de Julho de 1977 e o acontecimento as Beiríadas. Não entendo o sentido que dá a “(…) maior em dimensão”; nos Festivais de Xadrez de Lisboa penso (e posso vir a apurar) que houve (pelo menos) uma simultânea com um milhar de participantes. Isto nas décadas recentes, pois já em 1973 há um acontecimento (que reservo para outra altura falar) que contou com uma assistência comprovada de dez mil pessoas.
    Como não estive em Coimbra naquela data não posso fazer comparações. Dirá melhor quem passou por todas.
    c) Houve moldes de peças de plástico encomendados em Espanha apropriados para determinados acontecimentos. Isto porque o preço da nossa Majora seria superior. O escudo era bem mais forte do que a peseta; a situação inverteu-se pós 25 de Abril (mas não de imediato; áparte as especulações, evidentemente, pelas limitações que surgiram de saída com divisas).
    g) A sede da FPX era na R. Sociedade Farmacéutica. Num andar dividido com a Associação de Lisboa e as Federações de Raguebi , Boxe, Damas, Hóquei em Campo e Voleibol. Por cima vivia o Professor Victorino Nemésio.
    Só lá havia instalações para partidas suspensas (duas salas).Ali perto, no quarteirão seguinte , está o hotel Embaixador (Duque de Loulé) onde se jogaram várias provas nacionais e internacionais. O hotel faz esquina com a Luciano Cordeiro, rua onde o Mestre Joaquim Durão viveu e tinha o seu bem organizado negócio de revistas, livros e material de xadrez. À época praticamente monopolista.

    Se me enganei nalgum pormenor, as minhas desculpas.

    j.cordovil

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  2. Bem me parecia…Corrijo. Onde se lê: “Ali perto, no quarteirão seguinte,” (alínea g linhas 4 e 5) deve substituir-se por: “ Ali perto, num dos lados desse quarteirão, “. Ficaremos por aqui?
    j.cordovil

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  3. Caro Mestre Cordovil, obrigado por todas as correções. Tem razão quanto à antiga sede da FPX. Era precisamente aí que íamos ver por obrigação o emparceiramento das prelimanares de um Nacional disputado no Hotel Embaixador ( local de jogo e alojamento) e onde vi milhares de peças espalhadas de forma espatafurdia precisamente em duas salas, e tudo num estado incrível de desarrumação que só pude surpreender-me de aquilo ser uma sede de uma Federação.

    Também deve ter razão sobre as Beirádas não serem o acontecimento de maior impacto a nível de participantes do xadrez português, mas como imagina, aqui no Porto, pouco ou nada chegava de xadrez lisboeta nomeadamente dos Festivais de Xadrez - chegou-me a mim uma vez que me desloquei a Lisboa prepositadamente aquando da vinda do Karpov e me foi barrada a entrada, ficando-me com uma miserável exposição sobre Capablanca - Era mesmo miserável!

    Grandeza... e aí não sei se a maior manifestação organizativa do xadrez português português ( cerca de 2 mil e umas centenas de xadrezistas!!) foi o Torneio comemorativo do Cinquentenário das FPX,ganho pelo nosso saudoso Sívio Santos e do qual fui feliz finalista. Aliás, acho que apareço de grosa bigodaça numa Revista da FPX II Série a jogar com o miúdo Fernando Bento da Guarda no salão do Centro Social e Cultural dos Trabalhadores do Comércio. E mais não me lembro.
    V
    ai para anos numa inundação de garagem, perdi todas as revistas da FPX, todos os Jornais de Xadrez, e outras coisas que hoje bem falta me fazem. Tenho percorrido alfarrabistas em busca de números avulsos ou completos e encadernados e ...nada! Por isso, só a memória pode funcionar e a ajuda de alguém que vá fazendo as correções e "acrescentos" necessários.
    Sobre as peças de xadrez, caro Mestre Cordovil, apenas e só para memória futura. Péssimas, quase diria não condignas com as sugestãoes da FIDE, mesmo na altura, foi o que tivemos, o que quisemos ter. O problema é que elas vão desaparecendo e acredito que daqui a uns anos, nimguém se lembrará delas! Acredite que muita gente na casa dos 50 e poucos, já nem se lembra das peças "amarelas" que postei em 2. Pode não ter grande interesse, mas tudo isto faz parte da História xadrez português! É que tenho quase a certeza que tirando as peças da Fábrica Victoria - Hei-de voltar a este assunto - Portugal ao contrário de outros países, nunca teve um estilo de peças de xadrez nacional, próprio, como os tiveram os franceses com as Lardy depois as Chavet, os ingleses com as Jaques Staunton, para não falar nos Checos,nos Jugoslavos, nos Russos etc., etc.. Mais, ao contrário de toda uma série de modalidades, e pratiquei duas federado ( Ténis de Mesa e Badminton), sempre me surpreendeu o desleixo do xadrezista português, do clube, da própria FPX em relação ao material de jogo. Parecia sina e gosto português no xadrez: quanto mais pequeno, quanto mais feio, quanto mais "atamancado" melhor. A desculpa da massificação não explica tudo e, como o Mestre imagina, não quero entrar noutros pormenores mais...atávicos, esquinados, polémicos do xadrez nacional. Existem coisas na História xadrez nacional que é melhor "jazerem mortas e arrefecidas" como no Poema de Pessoa.
    Caro Mestre João Cordovil obrigado por tudo o que de muito bom fez e faz pelo Xadrez Português. Uma honra o seu contributo-comentário -correção a qualquer escrito deste blogue.

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  4. Pôxa, como diria um brasileiro, por esta não esperava. Eu tenho as peças e um platex, ainda. Quando em 79 me federei, o meu pai quis oferecer-me um jogo em madeira, peças e tabuleiro, mas eu quis um igual aos do clube e comprei-o, na mesma loja, Casa Senna, se não estou em erro.
    Depois acabei seccionista com dezenas e dezenas de tabuleiros e conjuntos de peças mas nunca fiquei com nenhum, mantive sempre o mesmo, até hoje.

    nota: não só o barulho. E quando o tabuleiro estava empenado (alguns bastante)? Os 'saltos' de cavalo eram uma ameaça constante a toda a posição, especialmente nas rápidas com o tempo a esvair-se.

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