09/11/10

KUPREICHIK, Viktor 3




Analisemos agora outra formidável partida de Kupreichik, do 47. Campeonato da URSS, jogado em Minsk, sua terra natal, contra Tseshkovsky. Diga-se, que neste campeonato , Kupreichik há 11.ª jornada ia em 1º lugar, igualado com Balashov, Geller, Kasparov e Yusupov, mas fruto do nervosismo, do seu arriscar constante, do sua apólice de seguro» no ataque, acabou por perder várias partidas finais, ficando no tal honroso 6.ºlugar.


Fale-se também de Tseshkovsky, hoje outro ilustre desconhecido perdido nos opens das ex-Repúblicas Soviéticas, ou alemães, mas que em 1978, foi «só» Campeão Absoluto da URSS, empatado com Tal, para repetir a façanha em 1986, agora sózinho! Duplamente Campeão da URSS, é obra! Tenho gratas recordações deste jogador, Tseshkovsky, pois aquando da sua visita a Portugal, vai para anos, no apogeu da sua forma, tive a felicidade de jogar com ele umas dezenas de rápidas, em S. João da Madeira, numa final do Nacional e fui completamente cilindrado em partidas de 5m contra 1 ou 2 minutos, no seu relógio! O que me surpreendeu nele, foi a sua calma inacreditável, o seu fair-play ( nunca carregou no relógio com uma peça ,ou derrubou seja o que fosse, mesmo com um minuto ) e sobretudo o seu olhar! Nunca vi ninguém olhar para um tabuleiro de xadrez como ele! Era um olhar de uma intensidade incrível, e sobretudo circular, nunca se fixando num ponto, ou flanco ! Olhos de coruja, ou mocho, enquadrados por uns óculos grossos de aro de tartaruga!


Mas o que vão ver nesta partida é uma homenagem de KUPREICHIK, aos seus concidadãos! Uma obra-prima de ataque! Como Taimanov afirma: Kupreichik, estava sempre pronto a confirmar o que dele se dizia, ou seja, um «perturbador da paz», e as suas partidas «nunca deixavam ninguém indiferente». Os comentários a esta partida, excelentes, como sempre, são do mesmo Taimanov, juntamente com as de Kupreichik no Informador nº28 e uma ou outra “colherada” minha.

Tseshkovsky Vitaly - Kupreichik Viktor [B64/07]

Minsk (3), 1979

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 Cc6 6.Bg5 e6 7.Dd2 Be7 8.0–0–0 0–0 9.f4 h6

[9...Cxd4 10.Dxd4 Da5 é outra possibilidade]

10.Bh4

[10.Bxf6 Bxf6 11.Cxc6 bxc6 12.Dxd6 Db6 13.Dd2 Tb8 com compensação (Kupreichik)]

10...Bd7

Taimanov escreve que o lance 10...e5 tem sido tentado, mas que é arriscado enfraquecer a casa d5, dando a variante abaixo, até ao lance 13, concluindo da óbvia vantagem posicional branca. Acontece que não se vê muito bem essa vantagem e, esta variante tem sido jogada pelas negras em algumas partidas, sem grandes problemas.

[10...e5 11.Cf5 Bxf5 12.exf5 Da5 13.Rb1 exf4 é perfeitamente jogável]

11.Cf3

Um dos temas principais do jogo branco, é a pressão na coluna d. Através da retirada do cavalo, pretendem ameaçar 12.e5 e 12.Bxf6. 11.Cdb5 e 11.Cb3 também têm sido jogados, com o mesmo objectivo, mas não têm resultado na prática.

11...Da5

naturalmente as negras centram as suas esperanças no jogo no flanco de dama. [11...Cxe4 12.Cxe4 Bxh4 13.Dxd6 Be8 14.Cxh4 Dxh4 15.g3 e as brancas estão claramente em vantagem]

12.Bc4
Taimanov, considera este lance de valor duvidoso, e é de opinião que o profilático 12.Rb1 era melhor, assegurando todas as vantagens da posição. Esta opinião, não é confirmada pelas modernas partidas. A posição é claramente balanceada, com chances mútuas

[12.e5 dxe5 13.De1 Este lance sim, assegura ligeira vantagem às brancas, mas nem é analisado por Taimanov (13.Bxf6 Bxf6 14.Dxd7 e4 15.Dxb7 Tfc8 Segundo Taimanov, com jogo bastante desagradável para as brancas, todavia não se percebe porquê depois de 16.Ce4, em que as brancas parecem parar todas as ameaças e ficarem com vantagem! 16.Cxe4 Cb4 (16...Tab8 17.Cxf6+ gxf6 18.Da6!) 17.Cxf6+ gxf6 18.Bc4 Tab8 19.De4) 13...e4 14.Bxf6 Bxf6 15.Cxe4 Dxe1 16.Cxf6+ gxf6 17.Cxe1 Tfd8 e a vantagem branca a existir é microscópica]

[12.Rb1;

12.e5 dxe5 13.De1 (13.Bxf6 Bxf6 14.Dxd7 e4 15.Dxb7 Tfc8 16.Cxe4 Cb4 (16...Tab8 17.Cxf6+ gxf6 18.Da6) 17.Cxf6+ gxf6 18.Bc4 Tab8 19.De4) 13...e4 14.Bxf6 Bxf6 15.Cxe4 Dxe1 16.Cxf6+ gxf6 17.Cxe1 Tfd8]

12...b5! Kupreichik;

Lances deste estilo, realiza-os Kupreichik sem qualquer hesitação. O sacrifício de peão, abre linhas para o ataque e consegue a iniciativa ( Taimanov)

13.Bxb5 Tfc8!

Talvez o lance mais difícil de toda a partida. as negras espreitam c2. A sua primeira ameaça é 14...Cb4 15.Bxd7-Txc3 ( Taimanov)


14.Bc4


Tentando uma protecção adicional para o seu rei através de Bb3, mas isto não é possível. Todavia 14.Bxc6-Txc6 15.Rb1–Ta6, não deixava de ser muito arriscado para as brancas (Taimanov-Kupreichik),

14...Cb4 15.De2

Taimanov aqui escreve que se 15.Bb3, segue-se o inevitável 15...Txc3! com perigoso ataque, dando a variante até ao lance 17 negro.

[15.Bb3 Txc3 16.Dxc3 Tc8 17.De3 Cg4 18.Dd4-Ba4! Termina aqui a análise de Taimanov, com clara vantagem negra! 18.De2 em vez do lance do texto, também não resolvia o problema das brancas 18...Bxh4 19.Cxh4 Ba4 20.Cg6 (20.Bxa4 Dxa4 (20...Cxa2+ 21.Rb1 Dxa4 22.Td3 Cf6 23.Te3 d5 24.Tb3 Cxe4 25.De1–+) 21.c3 (21.c4 Dxa2 22.Rd2 Txc4 23.Re1 Cc2+ 24.Rf1 Cce3+ 25.Kg1–+) 21...Dxa2 22.Dxg4 Txc3+ 23.Rd2 Dxb2+–+ 24.Re1 Cd3+ 25.Txd3–+) 20...Rh7 21.Ce7 (21.Cf8+ Rh8 22.Bxa4 Dxa4) 21...Tc7 22.Bxa4 Dxa4 23.c3 Dxa2 24.Dxg4 Txc3+ 25.Rd2–+] [15.Bb3 Txc3 16.Dxc3 (16.bxc3 Cxe4) 16...Tc8 17.De3 Cg4 Kupreichik 18.Dd4 (18.De2 Bxh4 19.Cxh4 Ba4 20.Cg6 (20.Bxa4 Dxa4 (20...Cxa2+ 21.Rb1 Dxa4 22.Td3 Cf6 23.Te3 d5 24.Tb3 Cxe4 25.De1) 21.c3 (21.c4 Dxa2 22.Rd2 Txc4 23.Re1 Cc2+ 24.Rf1 Cce3+ 25.Rg1) 21...Dxa2 22.Dxg4 Txc3+ 23.Rd2 Dxb2+ 24.Re1 Cd3+ 25.Txd3 Txd3) 20...Rh7 21.Ce7 (21.Cf8+ Rh8 22.Bxa4 Dxa4) 21...Tc7 22.Bxa4 Dxa4 23.c3 Dxa2 24.Dxg4 Txc3+ 25.Rd2 Dxb2+) 18...Ba4]



15...Txc4!



16.Dxc4 Tc8 17.Db3


[17.Dd4 Cxa2+ 18.Cxa2 Dxa2 com a ideia de Ba4 e Tc4 e ganham-Kupreichik]

17...Cxe4

Bravo! Nestas posições, Kupreichik não consegue resistir, nem ser contrariado. Agora se 18.Cxe4-Ba4!

18.a3?

Com alguma perspicácia, as brancas conseguiriam oferecer mais alguma resistência, embora ficassem com um final claramente inferior , diz Taimanov.

[18.Da3 Dxa3 19.bxa3 Txc3 Aqui Taimanov só dá 19...Cxc3 e bem: 20.axb4-Bxh4 21.Cxh4-Cxd1 22.Txd1–Ba4 23.Td2-Tc4 com vantagem clara negra! Porque 19...Txc3, também era possível, mas deixava esfumar parte da vantagem negra 20.axb4 Ba4 21.Rb2 Bxh4 22.Cxh4 Txc2+ 23.Ra3 Txa2+ 24.Rxa2 Bxd1 25.Te1 d5 26.Rb2 Cf2]

[18.Cxe4 Ba4; 18.Da3 Dxa3 19.bxa3 Cxc3! (19...Txc3?! 20.axb4 Ba4 21.Rb2 Bxh4 22.Cxh4 Txc2+ 23.Ra3 Txa2+ 24.Rxa2 Bxd1 25.Te1 d5 26.Rb2 Cf2 e a vantagem negra esfumou-se) 20.axb4 (20.Bxe7 Cxd1 21.axb4 Ce3 Kupreichik) 20...Bxh4 21.Cxh4 Cxd1 22.Txd1 Ba4 23.Td2 Tc4]

18...Cxc2!

O objecto-alvo das últimas 5 jogadas negras cai. Kupreichik, prepara o golpe final

19.Dxc2

[19.Td3 Ca1 20.Db4 Df5 21.g4 (21.Bxe7 a5 22.Db6 Cxc3 Esta a variante de Taimanov, concluindo da vitória das negras. todavia a possível defesa das brancas estará porventura no lance 21.g4, não analisado pelo jogador russo.) 21...Cc5 (21...Dxg4 22.Dxe4 Bc6 23.De3 Bxf3 24.Dxf3 Cb3+ 25.Rd1 Dxf3+ 26.Txf3 Bxh4 as negras possuem vantagem , mas não é fácil de concretizar) 22.gxf5 Cxd3+ 23.Rb1 Cxb4 24.Bxe7 Bc6 25.axb4 Bxf3 26.Tg1 Cb3 27.fxe6 fxe6 28.Bxd6]

[19.Td3 Ca1 20.Db4 Df5 21.Bxe7 (21.g4! Dxg4 (21...Cc5 22.gxf5 Cxd3+ 23.Rb1 Cxb4 24.Bxe7 Bc6 25.axb4 Bxf3 26.Tg1 Cb3 27.fxe6 fxe6 28.Bxd6 As Brancas sobrevivem) 22.Dxe4 Bc6 23.De3 Bxf3 24.Dxf3 Cb3+ 25.Rd1 Dxf3+ 26.Txf3 Bxh4) 21...a5 (21...Cc5 22.Td2 a5 23.Db6 Ca4 24.De3 Cb3+ 25.Rd1 Cxc3+ Kupreichik) 22.Db6 Cxc3 Taimanov]

19...Cxc3 20.Be1 Bf6 21.Ce5


heróica defesa, que fracassa contra um ataque elementar das forças negras (Taimanov) [21.Cd4 Bxd4 22.Txd4 Ce2+ 23.Rd1 Txc2 24.Bxa5 Cxd4]

21...Ba4! 22.Bxc3 Bxc2 23.Bxa5 Bxd1+ 24.Rxd1 dxe5 25.fxe5

[25.Bc3 exf4 26.Bxf6 gxf6–+]

25...Bxe5 26.b4

[26.b3 Bb2 27.Re2 Tc2+ 28.Bd2 Bc3]

26...Tc3 27.a4 Ta3 28.Rc2 Bd4

[28...Ta2+ 29.Rb3 Tb2+ 30.Rc4 Txg2 31.Td1 Tg4+ 32.Rb3 Bxh2 33.Td8+ Rh7 34.Td7 Tg3+]

29.Td1

[29.Bd8 Ta2+ 30.Rd3 e5]

29...e5 0–1







Mas afinal, qual é o estilo de Viktor Kupreichik, se estilo tem este verdadeiro aventureiro do tabuleiro?

Numa definição simplista poderia afirmar que Kupreichik, joga ao estilo do « Tudo para a frente e fé em deus», todavia, a análise das suas partidas, mostra que muitos dos seus sacrifícios, são mais intuitivos do que profundamente calculados, embora a sequência de jogadas de ataque ou ganhadoras, sejam apoiadas por uma profunda e aguda visão táctica, aliada a uma excelente capacidade de cálculo.


É evidente que não posso partilhar da opinião exagerada de Soltis, segundo a qual Kupreichik é uma espécie de «jogador pré-histórico moderno, um táctico puro, que ocasionalmente consegue tornar pálido, o Mikhail Tal que conhecemos»! Nem pensar! Kupreichik, não tem, nem nunca teve a categoria extraordinária, a capacidade cintilante de Tal para as combinações, apoiada por uma compreensão estratégica do xadrez extraordinária-não, Tal é um caso aparte, um génio! Kupreichik, um grande jogador, um belíssimo táctico! Apetecia-me repetir aqui a frase já não me lembro de quem (salvo erro Bernstein), acerca de Alekhine, em que afirmava que combinar como Alekhine, também ele conseguia, agora, o que não conseguia era chegar às posições para combinar, como o conseguia o grande Campeão do Mundo!


Posso concordar sim, que Kupreichik, se enquadra num estilo de jogo, em que poucos GM, gostam, ou não têm aptidões para tal, aquilo que já o grande Adolf Anderssen, gostava de repetir «Atacar! Atacar sempre!», ou como o excelente Tolush, gostava de gritar frente ao tabuleiro no início de cada partida « P’ra frente, ao ataque!»! Kupreichik enquadra-se numa linhagem de jogadores do estilo de um Anderssen, de um Henry Blackburne, de um Jacques Mieses, de Rudolf Charousek, de um Frank Marshall, de um Rudolf Spielmann, de um Alexander Tolush, de um Rashid Nezhmetdinov, de Leonid Shamkovich ( dos velhos tempos ), e hoje, embora de um outra gradação, de um Shirov, ou Morozevich.

Num livro sobre Kupreichik, de Gene McCormick, o subtítulo é «O Xadrez Descomprometido», que traduziria melhor «sem-tréguas», «combativo» e isso é inegável! Uma partida de Kupreichik, raramente é aborrecida, ou entra por complicadas manobras posicionais e se isso lhe traz vitórias de uma beleza «atacativa» sensacional, por vezes também lhe dá a honra de participar em prémios de beleza de outros ( verão no futuro a partida com o nosso Dâmaso)!


Mas qualquer jogador que se sente a um tabuleiro e tenha na sua frente o ar «bonacheirão» e sério ao mesmo tempo de Kupreichik, pode estar consciente que não haverá «empate de salão», ou variantes de trocas, ou predisposição deste jogador para «diálogos posicionais, ou lentas manobras estratégicas! Kupreichik, tomará os riscos, da fama que sempre teve e ainda possui, e temam aqueles que o encontrarem num dia, num daqueles dias «Kupreichikianos», em que as peças da «Maravilha de Minsk» ganharão vida selvagem, para devorarem o rei adversário! Têm dúvidas?

08/11/10

KUPREICHIK, Viktor 2

Mas para provar, o perigo que o jovem Kupreichik, representava, para qualquer jogador, ou que desconhecesse o seu jogo, ou que o menosprezasse, ou pura e simplesmente que o encontrassem inspirado, em «dia sim», bateu Korchnoi nas duas partidas e forçou Tal ao abandono, antes de um mate que se aproximava, depois de um sacrifício intuitivo fabuloso, agora «clássico» de um cavalo em d5, ao qual mais tarde, Tal não encontrou a correcta refutação. A parte final da partida é uma sucessão de golpes tácticos de grande beleza! Kupreichik, derrotou Mischa Tal, precisamente jogando à Tal !

Primeiro, a derrota de Korchnoi em apenas 27 lances, num ataque simples , linear, quase de amador, numa coluna aberta!

Depois, a partida excepcional contra Mikhail Tal, que me fez descobrir Kupreichik, quando numa tarde soalheira de Março, de 79, na sala do F.C.Porto, examinava não sei que revista de xadrez.


Kupreichik Viktor - Kortchnoi Viktor [C02/01] Sochi Sochi, 1970 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 b6 4.c3 Dd7 5.a4 a5 6.f4 Ce7 7.Cd2 h5 8.Cdf3 Aa6 9.Axa6 Cxa6 10.Ae3 Cf5 11.Af2 Ae7 12.Ce2 h4 13.0–0 0–0–0 14.Dd2 Tdg8 15.Tfb1 Cb8 16.b4 Cc6 17.Cc1 g5 18.fxg5 Tg7 19.Dd3 axb4 20.a5 Rb8 21.axb6 cxb6 22.Ta6 Db7 23.Tba1 bxc3 24.Dxc3 Ab4 25.Dd3 Aa5 26.Db5 Cb4 27.T1xa5 1–0





Kupreichik Viktor - Tal Mikhail [B57/09]

Sochi (9), 1970
[Soloviev,Khalifman Arlindo Vieira]

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cc6 5.Cc3 Cf6 6.Ac4 Db6 7.Cb3 e6 8.Ae3 Dc7 9.f4 a6 10.Ad3 b5 11.a3 Ae7 12.Df3 Ab7 13.o-oTc8 14.Tae1 0–0 15.Dh3?!

Lembro-me de um livro antigo, salvo erro do David Levy, em que este analisava toda a espécie de sacríficios em d5 na Siciliana.Hoje qualquer jogador «Siciliano» de negras está precavido contra eles, principalmente se estudou, ou conhece as partidas dos quatro génios do sacrifício em d5: Fisher Tal, Stein e Kupreichik. O que o sacrifício intuitivo de Kupreichik tem de interessante é ter sido realizado com o roque negro já feito, quando na altura o era mais comum com o rei no centro

15...b4! 16.Cd5?!



[16.axb4 Cxb4 17.e5 dxe5 18.fxe5 Dxe5 19.Txf6 Cxd3]

16...exd5 17.exd5 Cb8 18.Ad4

Kupreichik, continua com lances, quase diria naturais e normais de ataque, neste caso, procurando enfraquecer o roque negro.

18...g6

seria desastroso para as negras [18...h6 19.Axf6 Axf6 20.Df5]

19.Tf3!?

lance na aparência inócuo, mas que esconde dois objectivos claros: a dobragem das torres na coluna aberta e, se possível a transferência para a coluna h. Também sem este lance, como poderiam continuar o ataque? Vejamos:

A- 19.f5 Axd5 20.Txe7 Dxe7 21.fxg6 fxg6 22.Axf6 De6!;

B - 19.Te3 Axd5 20.Dh4! Axb3 21.Txe7 (21.cxb3 Cc6 22.Axf6 Axf6 23.Dxf6 Db6) 21...Dxe7 22.Axf6 De3+ 23.Rh1 Cd7 e em ambas as variantes, as negras parecem controlar a situação, o que significa grande vantagem]

19...Axd5 20.Tfe3 Ad8 21.Dh4 Cbd7 22.Dh6

com a boa ideia defensiva Bb6. A simples jogada da Dama uma casa abaixo, com o objectivo da troca da D, pelas duas torres, no intuito de aliviar a posição, também era possível, todavia a posição final da variante seria muito difícil de ajuizar, embora pessoalmente goste mais da posição das brancas

22...Db7

com a boa ideia defensiva Bb6. A simples jogada da Dama uma casa abaixo, com o objectivo da troca da D, pelas duas torres, no intuito de aliviar a posição, também era possível, todavia a posição final da variante seria muito difícil de ajuizar, embora pessoalmente goste mais da posição das brancas [22...Db6?! 23.Axb6 Axb6 24.Rh1 Cg4 25.Dh3 Cxe3 26.Txe3 Axe3 27.Dxe3]

23.Tg3 Cc5??

É um erro incompreensível em Tal, principalmente, porque segundo consta, no final da partida, mostrou o lance bom riscado na folha de partida. O que teria acontecido, no cérebro do Mago de Riga? Seria que o ataque branco, não teria força suficiente? Que a bateria na grande diagonal a8-h1, evitaria as manobras das brancas? Apuros de tempo? Subestimação da real capacidade combinatória do jovem Kupreichik?

O lance bom era efectivamente 23...Bb6! [23...Ab6! 24.Te7 (24.Axg6 Axd4+ 25.Cxd4 fxg6 26.Te7 Tf7) 24...Axd4+! (24...Axb3 25.Axg6 Axd4+ 26.Rh1 Rh8 27.Axf7 Cg4 (27...Ce4? 28.Dxh7+ Rxh7 29.Ag8+ seguido de Th7 mate!) 28.Ag6=Segundo Khalifman, mas as negras têm enorme vantagem: 28...Cf2+ 29.Rg1 Tf7 30.Txf7 Cg4+ 31.Rh1 Cxh6 32.Txh7+ Rg8 33.Be4+ Rf8 34.Bxb7 Txc2) 25.Cxd4 Db6! 26.Axg6 Dxd4+ 27.Rh1 Rh8!] em ambas as variantes, não se vislumbra qualquer possibilidade de as brancas conseguirem tirar partido do ataque

24.Cxc5

O que se vai seguir a partir daqui é um verdadeiro festival de ataque de Kupreichik, que em poucos lances, obriga o rei negro a capitular

24...dxc5 25.f5!

Kupreichik, não vacila e abre todas as vias de penetração sobre o roque negro

25...cxd4

[25...Tc7 26.Axc5! Ae7 27.Ad4]

26.fxg6 fxg6 27.Axg6!

Outro «martelo de Thor» na posição negra

27...Rh8 28.Dxf8+ Cg8 29.Af5!

Apenas e só a consequência lógica do lance 25.f5! e sem dúvida já por essa altura com o mate entrevisto.

29...Tb8 30.Te8 Df7 31.Th3!

Com a ideia de mate Th7. Como ficar insensível a esta beleza de ataque? Foi esta a primeira partida que conheci de Kupreichik. A partir daqui fui seguindo com curiosidade as suas partidas, o seu percurso xadrezístico. 1:o







Apesar dos seus altos e baixos, os anos 70 acabaram por confirmar Viktor Davidovich KUPREICHIK como um jogador de grande força prática e sobretudo de grande classe. Seria fastidioso enumerar os seus sucessos e semi-sucessos, que alternaram na proporção com os maus resultados, todavia seria injusto não referir os seus apuramentos para os Campeonatos Soviéticos e a sua participação nas fases finais do de 1974, 1976, onde repetiu o último lugar, mas com um facto curioso: em 32 partidas que jogou nos dois campeonatos cedeu apenas 3 empates: definitivamente empates de salão, ou de GM, como ficaram conhecidos, eram desprezados por Kupreichik. No Campeonato de 1979, obteve um excelente 6.º lugar, tendo sido dos jogadores que mais vitórias alcançou! Em 1980, repete o 6.º lugar, novamente com poucos empates e 7 vitórias no activo. No ano seguinte, em 1981,consegue um honroso 11.º lugar, para em 1985, participar no seu último campeonato da URSS, ocupando mais uma vez o último lugar, mas sendo o jogador que menos empates cedeu!

A nível de torneios internacionais, as suas vitórias não foram de desprezar: Vence em Wijk-ann-Zee B, 1977, Kirovakan 78 igualado com Vaganian, Reykjavik 80, Plovdiv 80, Medina del Campo 80, Hastings 81-82, Sverdlovsk 84, Zenica 85, Winnipeg 86, Malmo 87-88, Valle Maubée 89, Rimavska Sobota 90, Bad Woerishofen, Wisbaden op 98, Frohnleiten 99, e agora Aeroflot B ou recentemente Campeão da Europa individual de Veteranos . E isto só para referir algumas vitórias em Torneios, porque os lugares honrosos são imensos, pois Kupreichik, foi dos jogadores mais activos no circuito internacional , principalmente nos Opens alemães e de Leste.

Todo este simples enumerar de vitórias, prova que Kupreichik nunca foi um jogador qualquer, e o seu actual Elo pode ter os significados que lhe quisermos dar, tal como o de perto de 2600, que chegou a atingir no seu pico de forma.